Análise: Mass Effect 3

É um pouco estranho chegar à conclusão que já passaram quase 5 anos desde que nos foi dada a oportunidade de nos aventurarmos no profundo universo de Mass Effect. Um pouco mais estranho é chegar à conclusão que jogadores que possuem apenas a plataforma PS3 apenas puderam entrar nesta há 3 anos.

Por muito que goste desta trilogia, este amor não se compara ao que tenho pelo próprio universo que foi criado na nossa via Láctea. Não estou a dizer que os jogos não tenham uma boa mecânica de jogo, mas acontece que para mim onde está o verdadeiro valor desta trilogia é no seu universo, nas nossas escolhas, e nas personagens que nos tocam. Para ser franco, nunca num RPG nem numa história de ficção científica me senti tão consciente do que se passa à minha volta. Desde as razões que motivam os Krogan a desconfiar de todas as outras raças, à razão porque os Quarian usam fatos protetores, de um lado ao outro da via Láctea eu sinto, e sei o que cada raça passou. Até consigo afirmar que sei mais detalhes de qualquer raça em Mass Effect do que fui aprendendo ao longo de 6 filmes sobre a raça do Mestre Yoda, em Star Wars.

Quando a terceira instalação começou a ser publicitada, os media anunciavam que este seria o melhor título para agora começar. Algo que discordo completamente, o que me leva à história deste título. Mass Effect 3 começa com o retorno do comandante Shepard ao serviço da Aliança num momento em que os Reapers, entidades sintéticas que de 10 mil em 10 mil anos aparecem na nossa galáxia para ceifar toda a vida orgânica inteligente, iniciam o seu ataque ao nosso planeta Terra. Shepard tem agora a missão de descobrir uma maneira de quebrar este ciclo e devolver a todas as raças um futuro tomando de volta a Terra. Realmente visto deste ponto, seria uma boa altura para começar, mas acontece que o futuro da Terra, da nossa equipa, e de Shepard reside nas escolhas que fizemos ao longo dos 3 jogos, não apenas deste. Para quem não importar a sua personagem do título anterior apenas poderá fazer uma escolha das 3 opções apresentadas ao iniciar um novo jogo, para definir o seu passado. Sendo esta a última instalação, este título foca-se em colocar um ponto final na história de Shepard.  Sucede que cada Shepard é quase tão individual e único como o jogador que este representa. Por isso torna-se difícil de apresentar um final para a saga que agrade a todos os jogadores mas ao mesmo tempo nos dê uma sensação de conclusão. Posso revelar é que é uma agradável surpresa como a história do jogo vai crescendo e nos dando uma sensação, que através de conversas que ouvimos ao longo da galáxia, este título se tornou mais impiedoso e te faz sentir mais o sofrimento que está a acontecer à tua volta.

Ao iniciar um novo jogo é possível também optar por algo que a BioWare descreve como 3 modos distintos de experienciar o jogo, sendo dois deles novos o outro apresenta o estilo de jogo que a saga nos tem habituado. Um dos modos torna o título num shooter na terceira pessoa, pois remove a possibilidade de customizar as habilidades do nosso personagem e da sua equipa, e de fazer escolhas, tornando os diálogos em apenas grandes cut-scenes. O outro deixa-nos interagir como a história e todos os seus personagens, mas tenta reduzir o número de combates assim como a dificuldade do jogo. A meu ver, eliminar a componente RPG do jogo é um passo talvez da direção errado, pois mostra que a BioWare tentou fazer com que este título atingisse uma audiência maior, talvez com jogadores de CoD em mente. Isto mostra que a empresa, tal como na situação que surgiu relativamente ao final do jogo, não me parece muito segura de si própria apresentando falhas de consistência.

Quanto ao gameplay em si, a BioWare tentou melhorar alguns aspetos. Conseguindo assim um combate mais rápido, fluído e intenso. Com a entrada de um novo ataque corpo a corpo, um jogador pode esconder-se atrás de uma parede e apanhar um inimigo de surpresa eliminando-o com a sua omni weapon ou poderes bióticos. Nunca durante as horas que experienciei na Xbox 360 qualquer tipo de quebra nas frame rates. Mas sei que tal é comum acontecer na PS3. Comum em qualquer uma das plataformas é os bugs que as personagens apresentam durante os diálogos, onde pode até acontecer que a câmara foca na posição da personagem mas ela não está lá. Podendo estes bugs distrair um pouco o jogador, estes não são suficientemente graves nem recorrentes para estragar de qualquer modo a experiência. As seis classes disponíveis para o nosso Shepard estão bem conseguidas, trazendo alguns poderes novos a estas, realçando assim o quão divertido pode ser usar os nossos poderes para por exemplo fazer os adversários levitarem no ar e de seguida serem atingidos por uma força de milhares de Newtons! Quanto aos membros da tua equipa, que tendem um bocado para o sexo feminino, estes apresentam melhorias na sua IA relativamente ao último título.

Para quem desejar uma experiência mais intensa, ou apenas não gosta de utilizar o botão de seleção de poderes ou armas a meio do combate, o kinect é uma boa opção! Funcionando bem mesmo sobre o barulho vindo do combate. O kinect para além de permitir comandar a nossa equipa durante o combate também pode ser utilizado para abrir portas, ativar painéis ou até mesmo escolher as nossas opções de diálogo.

Outra agradável surpresa foi o modo multiplayer online que se pode tornar muito viciante. Neste podemos criar uma personagem humana de qualquer classe para jogarmos inicialmente. Mas à medida que executamos missões em co-op com mais 3 companheiros, vamos ganhando experiência para evoluirmos o nosso personagem e créditos para comprar uns pacotes que podem conter clips térmicos para as nossas armas, armas raras, upgrades para estas, ou até uma personagem nova. Como o que calha nestes pacotes é completamente aleatório, uma pessoa tem a tendência de comprar o mais caro para ter mais hipóteses de obter itens mais raros. Fazendo assim com que um jogador se aplique nas missões e não apenas fique a olhar para o resto da equipa.

Apesar de não gostar de tudo o que este título me apresentou, este é um título que só pode ser realmente avaliado tendo em conta toda trilogia. Agora tendo chegado ao seu final dou por mim a refletir em todas as escolhas que fiz ao longo da saga e de como essas foram tão importantes neste último título. Claro que gostaria de ver respondidas as minhas perguntas relativamente ao final, ou um novo personagem masculino na equipa que não parecesse que a qualquer momento a sua T-shirt se vai rasgar. Mas este tipo de falhas não são suficientes para me fazer esquecer que todas as escolhas que fiz, grandes ou pequenas, foram tomadas em conta neste título. Chegando assim ao clímax que tem vindo a ser construído por mim desde 2007.

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