Cloudberry Kingdom é um daqueles jogos que nos fazem arrancar cabelos, dizer asneiras, lançar comandos contra paredes e outras coisas do género. Quem diz que é a violência nos videojogos que nos torna violentos é porque nunca jogou Cloudberry Kingdom. É um jogo sem qualquer misericórdia pelo jogador e nos níveis finais faz de tudo para causar um aneurisma aos jogadores dado os nervos que pode causar. No entanto é também um jogo de plataformas bastante competente com um design adorável. Neste tipo de jogos é essencial que a qualidade justifique a quantidade de frustração e Cloudberry Kingdom faz exactamente isso.
Se se assustaram com as imagens do jogo que foram sendo lançadas, imaginem tudo isso à vossa frente. Um pequeno toque é morte certa e quando se consegue completar um nível parece existir sempre um pouco de sorte à mistura. Neste tipo de jogos além de bom timing como em todos os jogos de plataformas, é preciso ser corajoso e não hesitar um segundo. Embora os jogadores com melhores reflexos possam passar os primeiros niveis com mais facilidade, algures depois da segunda centena de níveis, Cloudberry Kingdom mostra os dentes mesmo aos melhores.
Cloudberry Kingdom não tem níveis fixos criados pelos criadores do jogo, mas sim um algoritmo que permite ao jogo criar os seus próprios níveis. Isto poderia causar alguns problemas, como níveis impossíveis mas surpreendentemente o algoritmo da Pwnee Studios funciona brilhantemente e na minha opinião é o aspecto mais impressionante de Clouberry Kingdom. Pessoalmente acho que nenhum jogo gerado aleatoriamente consegue rivalizar com uma experiência criada cuidadosamente por um humano, mas para aquilo que tenta ser, Cloudberry Kingdom é realmente muito bom.
Não existem realmente dois níveis iguais e muito provavelmente não há um nível igual nos milhares de jogadores que já jogaram o jogo, mas o misto de Super Meatboy com Super Mario Bros está intacto, como se fosse realmente feito por um humano. Fica então a questão, se a Pwnee Studios não gastou tempo a fazer os níveis em que é que gastou? Obviamente no algoritmo, porque a história do jogo não vai ganhar nenhum prémio.
Em Cloudberry Kingdom jogamos como Bob um herói de jogos de plataformas reformado, no seu esforço para salvar uma princesa das maus do diabólico King Kobbler. Se as referencias a Super Mario Bros a história do jogo faz questão de confirmar isso. Algo interessante são as cutscenes do modo história, feitos naquilo que parece stopmotion, com Bob feito em algo parecido com papier-mâché.
O grafismo de Cloudberry Kingdom é provavelmente o seu pior aspecto, sendo bastante fácil confundi-lo com um jogo flash, no entanto isto pode ter uma razão perfeitamente válida, que só aparece perto do final do jogo. Assim que o numero de inimigos começa a ser quase impossível de lidar, percebe-se que caso o detalhe do grafismo vectorial fosse um pouco maior, este tornaria-se prejudicial à nossa atenção ao jogo e poderia também criar problemas de performance.
No próprio trailer do jogo e em algumas imagens podem ver a escala de que estou a falar. Mas infelizmente aquilo que fica visualmente é um jogo bastante pobre. Felizmente o som compensa bem esta falha. As musicas são óptimas e por vezes são a única coisa que nos faz continuar a jogar o inferno que Cloudberry Kingdom por vezes nos apresenta.
Juntamente com o algoritmo de criação de níveis, a jogabilidade é surpreendentemente boa. Os controlos respondem exactamente ao que queremos fazer e não há qualquer outra tecla a atrapalhar. Apenas temos que ir de uma ponta à outra do nível e preocuparmos-nos em saltar. Em alguns aspectos o jogo é também um pouco mais fácil do que seria de esperar. Não temos que nos preocupar em cair exactamente no meio de uma pequena plataforma e o jogo tende a desculpar-nos esses pequenos erros. No entanto acabamos por nem ligar a isso quando o jogo começa a colocar centenas de objectos no ecrã que pouco ou nenhum espaço para respirar nos dão.
É bom saber que mesmo os níveis mais impossíveis do jogo são possíveis. Os próprios criadores do jogo garantem que demoram um dia e mais de mil tentativas para passar um nível com a dificuldade praticamente impossível masoquista. Se são fãs deste tipo de experiência então Cloudberry Kingdom é para vocês. É também um jogo em que um walkthrough não tem qualquer utilidade e quando se perde algumas vezes seguidas o nível podemos ver a IA completar o nível apenas para nos mostrar que é possível, o que nos deixa com um animo um pouco maior.