Análise Papers, Please

Se há um jogo que eu nunca esperei jogar foi Papers, Please. Nunca me passou na cabeça que alguém fosse criar um jogo sobre inspeccionar papeis, quanto mais que esse jogo fosse tão bom como Papers, Please é. Tal como o nome indica o objectivo do jogo é simplesmente pedir papeis, inspecciona-los e dar o veredicto se são válidos ou não, mas aquilo que parece ser até simples, na realidade torna-se muito mais complexo.

Em Papers, Please somos um simples cidadão no país Arstotzka e numa lotaria somos escolhidos para trabalhar na imigração, onde temos que conferir todos os papeis de quem quiser passar a fronteira. O próprio conceito parece deixar muitos jogadores a olhar de lado para este jogo, tal como aconteceu a mim, mas mal se começa a jogar começa-se a ver a qualidade do jogo. No fundo trata-se de um jogo de puzzles com uma temática diferente e com puzzles que demoram apenas alguns segundos a resolver mas que vão subindo de dificuldade com o tempo.

Aqui vão ficar sentados numa pequena cabine num ponto de inspecção, onde têm que chamar a próxima pessoa na fila para lhe pedirem os papeis. Se depois de inspeccionarem os papeis derem o veredicto correcto mais ganhar 5 créditos, se se enganarem vão receber dois avisos e a partir do terceiro irão perder 5 créditos por cada erro. No inicio é bastante simples, pois apenas podem entrar cidadãos do país, mas logo no dia seguinte tudo se começa a complicar.

A estrutura do jogo é bastante simples. Caso consigam fazer um bom trabalho o jogo irá avançar um dia com uma nova complexidade no vosso trabalho, caso façam demasiados erros perdem o jogo, podendo depois continuar no mesmo dia ou começar de novo. Cada dia de trabalho dura algumas horas e vão ter que atender o máximo de pessoas possível. A jogabilidade é bastante simples, vão receber num balcão os documentos que podem depois arrastar e inspeccionar. Praticamente tudo no ecrã é interactivo e bastante intuitivo. Apesar do grafismo bastante pixelizado Papers, Please é bom visualmente à sua maneira e não se perde nenhum pormenor apesar do minimalismo gráfico.

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Tal como já referi, o jogo vai subindo de dificuldade e isso reflecte-se também na jogabilidade. No inicio apenas podem entrar cidadãos do país, portanto vão ter que verificar apenas o país. Mas no dia seguinte já podem entrar estrangeiros desde que tenham um bilhete válido, o que nos obriga a verificar o passaporte e o bilhete. No dia seguinte os cidadãos estrangeiros já não precisam do bilhete mas sim de uma certidão bem mais complexa. É preciso realçar que para um passaporte ser válido precisam de verificar desde o sexo, cidade de emissão, se a foto corresponde à da pessoa, a sua altura e peso e data de expiração. Quando passamos a ter que verificar vários documentos temos que verificar se todos os dados batem certo, mas tudo se complica quando temos que inspeccionar detalhadamente cidadãos de um determinado país.

Por vezes os jogo apela também ao nosso sentido de moralidade, com alguns imigrantes a pedirem para os deixarem entrar e alguns refugiados que dizem que serão mortos caso tenham que voltar para o seu país. O sentimento que se tem de completar um puzzle e encontrar o erro na quantidade informação que nos é entregue por vezes contraste com a de negar entrada a uma mãe que quer visitar o filho. Alguns dos dias de trabalho acabam mais cedo por causa de um atentado terrorista a que podemos assistir na parte superior do ecrã.

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Papers, Please é fenomenal em praticamente todos os aspectos. Desde o simples dilema de dar ou não entrada a alguém que parece precisar mas não tem papeis, até às consequências que isso pode ter. Deixar alguém ilegal representa apenas uma perda de 5 créditos, mas também pode obrigar a nossa família a passar fome um dia, o que pode culminar no nosso filho ficar doente e aumentar a despesa passados alguns dias.

Para um jogo com uma premissa tão estranha Papers, Please surpreende bastante. É um jogo muito bem escrito, que com poucas palavras e um grafismo bastante minimalista consegue mexer com a nossa noção de moralidade. Mas também funciona muito bem como jogo de puzzles simplesmente. A sensação de detective que se consegue ter quando encontramos o pormenor que não bate certo é óptimo, mas o jogo consegue fazer com que nem sempre nos fiquemos a sentir bem ao mandar prender alguém.

Obviamente não é um jogo para todos, mas é sem duvida um titulo para jogadores a sério, pois não há nada de casual aqui. Se não forem daqueles que pouco mais jogam que o shooter do momento e gostam de dar oportunidades a jogos com conceitos diferentes, não podem arranjar melhor que Papers, Please.

8.5/10

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