Análise Bravely Default

Se há um género que perdeu força na ultima geração foi o dos RPGs japoneses, até o gigante Final Fantasy perdeu terreno, abrindo caminho para a explosão dos RPGs ocidentais como Skyrim, Mass Effect ou Dragon’s Age. Isso causou que muito pensassem que Bravely Default nunca chegasse ao ocidente, mas tal aconteceu e o fantástico catálogo da 3DS acabou de ficar ainda melhor. Apesar da aparência infantil, Bravely Default consegue ser bastante sério e obscuro.

A história começa com a destruição da cidade Norende, onde o protagonista Tizz tenta salvar o seu irmão mas fracassa. Tiz é um simples agricultor com o coração no sitio certo que se assume como líder do grupo e que luta para a reconstrução da sua cidade. O resto do grupo é composto por Agnes, Ringabel and Idea. Agnes é das personagens mais importantes, a sua missão é restaurar os quatro cristais do reino que estão no controlo de uma força negra. É com este objectivo que conhecemos Ringabel, um homem que não conhece o seu passado mas com um livro que sabe o futuro e Edea, um antigo inimigo que se redimiu.

É um grupo colorido e interessante que vamos conhecendo bastante bem durante a aventura e está longe um elenco fraco e uni-dimensional. Contrasta com os visuais e tanto a história como as personalidades são bem mais sérias e adultas do que seria de esperar ao olhar para algumas imagens do jogo. Além de irmos conhecendo as personagens vamos vendo a sua evolução enquanto pessoas e enquanto grupo. O diálogo é muito bem escrito e nunca se torna aborrecido tanto nos pequenos diálogos entre os elementos da party como nas cutscenes.

O nome Bravely Default vem da mecânica principal do jogo. Este é um RPG com combates por turnos marcado por uma escolha principal, a escolha entre Brave e Default. No fundo podemos ver Brave e Default como ofensivas e defensivas. Não é bem assim, mas começa por aí. Brave permite a que uma personagem use as acções equivalentes de três turnos apenas num. Isto faz com que caso usem Brave em todas as personagens tenham acesso a doze acções. Isto vem com um custo obviamente, neste caso os inimigos vão ter acesso ao mesmo numero de acções, daí eu referir que Brave é a opção ofensiva. Infligir grandes danos coloca-nos em perigo oferecendo ao inimigo a mesma oportunidade caso não acabemos o ataque no nosso turno. Default coloca a personagem em modo defensivo a recuperar BP, os pontos que gastamos a realizar acções.

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Isto torna Bravely Default muito mais interessante que os JRPGs que foram fracassando esta geração, muito mais estratégico e recompensador. Temos que realmente calcular as nossas ações para tentar nunca ficar em BP negativo. Ter demasiado BP negativo pode deixar algumas personagens inativas durante turnos e assim algo de dano que não poderão devolver. O sistema em si é fantástico e dá realmente valor à opção de defender. Na teoria não há realmente nada aqui diferente. Podemos atacar ou defender, mas nenhum jogo do género deu até agora utilidade a esta opção. Usar a opção default nos momentos certos dá-nos o poder de durante um turno acabar o combate graças aos pontos que fomos acumulando.

Este é o ponto forte e original de Bravely Default. O resto pode não ser inovador da mesma forma mas tem uma execução a roçar a perfeição. O sistema de classes é semelhante ao de um bom Final Fantasy. Há 24 no total cada um único e vão sendo desbloqueados durante o jogo. Alguns são desbloqueados no decorrer da história ao derrotar bosses, enquanto que outros estão um pouco menos acessíveis, relegados para missões secundárias. Muitos deles são tradicionais, mas outros são algo exóticos e bastante interessantes.

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Cada uma destas funções tem 14 níveis diferentes, cada um recompensado com habilidades. Algumas destas habilidades são universais e assim que aprendidas podem ser utilidades em todas as classes, enquanto que outras funcionam apenas com uma classe. Além da classe principal podem ter sub-classes o que permite uma grande dose de liberdade e criatividade na criação das personagens e na disposição dos elementos do grupo. É realmente recompensador quando todos os elementos do grupo funcionam em harmonia e criam sinergias de combate eficazes.

A apresentação é ótima mas não há nada de realmente inovador neste aspecto. Visualmente e nos aspectos sonoros Braverly Default está entre os que melhor aproveitam o hardware da 3DS, mas não há nada que diga que este é diferente de tudo o que já jogamos antes. Isto é, até começarmos realmente a jogar. As semelhanças com Final Fantasy são muitas, especialmente os mais antigos e não tudo o que saiu depois de Final Fantasy X. Mas há aqui alguns aspectos inovadores. Podemos-nos ligar a outros jogadores e trocar níveis de classes. Outro aspecto interessante é podermos chamar outros jogadores para nos ajudarem nas batalhas. Isto é uma grande ajuda nas batalhas mais difíceis, mas quando a ajuda dá 9,999 de dano a sensação que fica é quase a mesma de termos usado cheats.

Braverly Default mostra-nos que os JRPGs são um bom género que têm sofrido principalmente de um problema, falta de identidade. Muitos têm tentado encontrar outros públicos e alteram demasiado a fórmula. É preciso correr riscos e Bravely Default corre-os da melhor forma, mantendo as suas raízes intactas e o resultado é um dos melhores do género dos últimos anos.

9.5/10

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