Werewolf: The Apocalypse – Earthblood é um RPG de ação que a meio do caminho se perdeu um pouco na parte de ser um RPG. Muitos jogos do género cometem este erro e a maioria não sofre muito por isso. Werewolf: The Apocalypse – Earthblood por outro lado sofre um pouco, até porque tive que me lembrar várias vezes de este era suposto ser um RPG. Mas este está longe de ser o pior jogo que já joguei ou sequer perto disso, mas também não é um jogo muito interessante. Algo que me tinha escapado é que Werewolf: The Apocalypse faz parte do universo de Vampire The Masquerade e só depois de investigar um pouco é que percebi que esse universo, o mundo das trevas, é mais abrangente do que aquilo que eu conhecia. Isto faz com que os fãs do material original possam retirar muito mais deste jogo do que eu, infelizmente, já que a temática é completamente a minha praia.
Aqui os jogadores assumem o papel de Cahal, um Garou que deixa a sua tribo depois de perder o controlo acidentalmente e matar um dos seus. Mais tarde ele regressa à sua tribo para enfrentar a Endron, uma empresa de petróleo que ameaça o meio ambiente. A premissa pode até prometer algo de interessante mas essencialmente a única coisa que precisamos de reter é que Cahal e a sua tribo são lobisomens e defendem o meio ambiente por alguma razão. A premissa poderia elevar-se com algumas personagens memoráveis ou pelo menos um protagonista com a alguma profundidade mas nada disso acontece. O lore do universo em que o jogo se baseia é realmente interessante, algo que descobri com a minha pequena pesquisa, mas o jogo não faz um bom trabalho a explorar todo esse potêncial.
Earthblood menciona muitos elementos que os fãs deste universo vão conhecer, mas para todos os que não sabem muito sobre o material de origem, nada é bem explicado. Talvez seja material demasiado denso para expor os jogadores menos interessados em todo o universo do jogo, mas se a própria história não é memorável, talvez algum tempo gasto num mundo mais vivo e credivel tivesse valido a pena. E tal como referi acima, não ajuda que o lobisomem que controlamos seja tão desinteressante de jogar. Mesmo o conflito principal que o levou a sair da tribo é resolvido praticamente fora da nossa perspectiva e depois não há mais desenvolvimento da personagem. Existem pequenos momentos que poderiam levar a personagem para algum lado diferente e narrativamente são bons, mas estão isolados e a nossa personagem parece nunca sair destes momentos com algo novo.
Visualmente também não é um jogo muito bonito. Não há nada aqui que seja realmente feio e pareça saído da PlayStation 2, mas para um jogo de PlayStation 5 estava realmente à espera de algo mais. Sinceramente existem alguns elementos aqui que poderiam facilmente funcionar na PS3. Também o som é fraco, o que deixa no geral toda a apresentação a um nível muito baixo. O único componente que realmente faz a diferente no hardware da PlayStation 5 é o SSD, que torna os tempos de carregamento praticamente inexistentes. Infelizmente com tempos de carregamento super rápidos ainda se torna mais evidente a pouca longevidade do jogo, sendo possível terminar o jogo em menos de cinco horas. Eu não tenho nada contra jogos curtos, muito pelo contrário, mas normalmente gosto que esses mesmos jogos curtos tenham a capacidade de serem divertidos quando os repetimos n vezes depois disso. Infelizmente Werewolf: The Apocalypse – Earthblood não tem.
Apesar destes problemas, o principal problema do jogo acaba por ser a sua jogabilidade. O jogo tem muitos sistemas, mas nenhum deles parece querer funcionar em harmonia como um todo. A premissa básica do jogo é a capacidade de alternar entre três formas diferentes durante o jogo. Temos a forma humana para interagir com objetos e matar inimigos furtivamente, a forma de lobo para sermos ainda mais furtivos e podermos entrar em aberturas e ter menor visibilidade, e a forma Crinos para combate. A premissa é simples e tem provas dadas de que pode funcionar, mas de alguma força os criadores de Werewolf: The Apocalypse – Earthblood conseguiram falhar essa tarefa. As regras são muito rígidas entre cada uma das formas, o que faz com que seja essencialmente o jogo a escolher que forma usamos. A forma de lobo por exemplo é muito mais furtiva, mas para interagir com consolas ou atacar um inimigo precisamos de trocar para forma humana. Imaginem esta mecânica num jogo como Deus Ex, com uma liberdade total e onde jogadores encontram formas completamente diferentes de abordar um problema. Aqui é completamente o contrário. Basicamente temos três transformações mas cada momento do jogo vai obrigar-nos a uma. Além disso quando temos efetivamente a escolha, esta resume-se em ser furtivo ou não e o jogo não nos dá grandes razões para não saltar para a transformação de Crinos e estilhaçar todos os inimigos que aparecerem. É mais rápido e gratificante.
Além disso, esta forma é também aquela que está mais desenvolvida. É como se quando começaram a fazer os primeiros testes tivessem descoberto que esta transformação era muito mais interessante e tivessem esquecido por completo as restantes. A inclusão de duas posições de combate distintas também tornam o combate um pouco mais interessante e obriga-nos a alternar entre as duas dependendo do inimigo. Não é um sistema revolucionário, mas é divertido e bastante mais gratificante do que tudo o resto que o jogo nos oferece. Para um jogo que devia ter elementos de RPG, não há algo tão simples como quests secundárias além de uma ou outra que nos permite melhorar habilidades.
Werewolf: The Apocalypse – Earthblood acaba por ser decepcionante. É um jogo curto, não muito bonito, com uma história banal e jogabilidade repetitiva. Tendo em conta o material de origem podia ter sido tão mais que é realmente pena que o resultado seja este. Se são fãs do tema devem na mesma jogar quando o encontrarem com uma boa promoção já que o tempo que ele vos irá gastar também não será um problema.