O género JRPG tem andado a evoluir à muito tempo. Longe vão os tempos em que mal ouvíamos JRPG pensámos logo num jogo com visual anime e combate por turnos. Atualmente a variedade é bem maior e apesar de ser um género que talvez já não tenha a popularidade de outros tempos, nos tem na mesma dado dos melhores jogos do género nos últimos anos.
Como um dos dois protagonistas jogáveis, Kasane ou Yuito, o jogador interpreta o papel do novo membro de uma força especial dedicada a repelir as criaturas de pesadelo que saem da atmosfera da Terra para se alimentar de cérebros humanos. Ambas as personagens são guerreiros muito acima da média, sendo as revelações entre os novos membros. Este é um elementos que marca presença em muitos jogos do género, com a nossa personagem raramente a ser um Zé Ninguém, mas sempre um prodígio. Não é algo que me faça muita confusão, mas alguns jogadores podem estar fartos desse elemento. Criar um jogo, especialmente deste género, implica fazer o jogador sentir-se poderoso, por isso convém que se controle alguém que seja mais poderoso que a média.
Como referi acima, este não é um JRPG clássico, utilizando um sistema de combate em tempo real que é realmente inovador e divertido de jogar. O sistema de combate permite ao jogador atacar os monstros com todos os objetos que estão espalhados no cenário, desde carros a bicicletas. As habilidade telecinéticas da personagem são poderosas e tornam isto possível e o sistema de combate complementa esta habilidade com algumas habilidades de ataque a curta distância e uma mecânica de esquiva também muito suave e bem implementada. Executar os movimentos telecinéticos requer algum equilíbrio de risco recompensa, sendo essencial saber quando e como atacar. Não é um jogo onde martelar teclas de ataque seja muito eficaz e dominar o sistema de combate permite encadear ataques de forma excelente, tornando o jogo um deleite só de olhar.
Há uma profundidade surpreendente no sistema de combate. Os nossos companheiros fornecem habilidades táticas a Kasane e Yuito, podendo imbuir elementos nos nossos ataques físicos, ou libertar-nos se formos imobilizados por um inimigo. Embora sejam habilidades de tempo limitado com períodos de espera, essas habilidades são uma ótima maneira de facilitar ou até salvar uma batalha. Não existe outra de utilizar estas habilidades sem ser com estes companheiros.
O jogo conta também com episódios de união entre os elementos do grupo espalhados por todo o Scarlet Nexus. Entre as missões da história, somos transportados para um refúgio com todos os nossos aliados. Este refúgio permite que se recupere e adquira itens e permite conhecer melhor as restantes personagens. Estas missões são bastante simples mas são vitais para fazer o elenco ao nosso redor ganhar vida. As personagens secundárias de Scarlet Nexus podem não ser genuinamente memoráveis mas pelo menos estas missões ajudam a que sejam mais do que personagens de uma apenas dimensão.
A história em si tem muito para explorar mas nem tudo o que poderia ser explorado acaba por ser, deixando espaço para mais jogos dentro do universo, mas preferia ver tudo explicado aqui. O enredo do jogo consegue ir até lugares bastante interessantes, principalmente no que toca ao militarismo. Há muito do que gostar no enredo, mas por vezes o jogo parece ter um pouco de medo de aprofundar alguns dos temas que começa a explorar. Scarlet Nexus tem uma abundância de missões secundárias, mas que em vez de expandirem o mundo do jogo acabam por ser “fetch quests” que apenas acrescentam duração ao jogo. Estes pequenos pormenores não tornam o jogo mau, mas aos poucos vamos sentindo que este poderia ser um jogo melhor do que aquilo que já é.
A cidade do jogo tem bastante vida, sendo uma versão futurista de algumas zonas conhecidas de Tóquio. Visualmente não é um jogo que está acima da média, mas tem bom aspeto e tem acima de tudo uma excelente direção artística, com os apontamentos vermelhos a darem um aspeto bastante distinto ao jogo. A arte é também muito boa, mas todo o visual do jogo está assente em anime, pelo que convém realmente que o jogador goste do estilo ou pelo menos não tenha não tenha a algum tipo de repulsa.
Scarlet Nexus tem muito para oferecer e muitos dos seus sistemas são bastante originais, especialmente o combate. Não é um jogo perfeito, mas também não tem propriamente problemas, apenas oportunidades desperdiçadas. Pessoalmente gostaria de ver mais neste universo e se um segundo jogo aparecer, gostaria especialmente que fosse dado mais protagonismo às personagens secundárias.