ZX Spectrum celebrou 40 anos em Cantanhede

O ZX Spectrum celebrou 40 anos do seu lançamento em Inglaterra no passado dia 23 de abril e Cantanhede, que tem o único museu no mundo construído à volta desta e outras invenções de Sir Clive Sinclair, organizou um evento marcante, no qual participaram, ao longo de dois dias, mais de duas centenas de entusiastas.  Este foi também o primeiro evento internacional organizado pelo Museu LOAD ZX Spectrum e o primeiro após a abertura do novo espaço do museu em outubro de 2020, devido à pandemia da Covid-19.   

Segundo a presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, Helena Teodósio, o LOAD ZX Spectrum é “mais um importante polo de atratividade da cidade e do concelho, com todos os benefícios daí decorrentes para a dinamização de outros equipamentos culturais e da economia local, sobretudo ao nível da restauração e da hotelaria”. Por isso mesmo, sublinhou, é uma “aposta que queremos levar mais longe com a crescente qualificação das áreas de exposição, o que deverá passar pela transferência do museu para um edifício que irá ser sujeito a profundas obras de reabilitação e adaptação para esse fim”. 

“É um projeto bastante ambicioso que dotará o museu de condições para reforçar significativamente a sua atratividade, nomeadamente com novas valências vocacionadas para a exploração de atividades pedagógicas e didáticas, no âmbito de um polo tecnológico que sirva de referência histórica e cultural à extraordinária evolução tecnológica a que temos assistido nas últimas décadas”, reforçou na sessão de abertura do evento, na qual também marcou presença o vice-presidente da autarquia, Pedro Cardoso. João Diogo Ramos, fundador e curador do museu LOAD ZX Spectrum, partilhou com os presentes o processo de conceção do museu, adiantando algumas novidades que o museu irá lançar nos próximos tempos – na senda do caminho ambicioso que tem caraterizado este projeto -, tendo destacado a colaboração no documentário inglês “the Rubber Key Wonder – 40 years of ZX Spectrum”, que irá incluir filmagens do museu em Cantanhede.    As sessões dos 40 anos do ZX Spectrum desenrolaram-se num modelo de conferência tecnológica, com palestras em português e inglês por força da participação de oradores internacionais que, os que participaram remotamente, prometeram vir ao museu num futuro próximo.  As atividades decorreram no Centro Social e Paroquial de S. Pedro, muito próximo das instalações do museu, onde se realizaram os convívios pela noite de sábado e tarde de domingo e que juntaram diversos aficionados à volta dos computadores. Em jeito de balanço do evento, João Diogo Ramos revelou “a enorme satisfação ver um evento tão ambicioso, mas assente maioritariamente num conjunto de voluntários da comunidade ZX Spectrum, decorrer de forma tão profissional. Do feedback que fui tendo dos participantes, fez-se história em Cantanhede e entramos, por isso, em mais um novo patamar do projeto do museu. Não iremos ficar por aqui”, garantiu.   Do painel de oradores destaque para Crispin Sinclair, um dos filhos de Sir Clive Sinclair que, à conversa com João Diogo Ramos, ajudou a traçar um perfil do seu pai o mais fidedigno possível para utilizar no Museu. Destaque também para o lançamento do livro “Os Programadores Portugueses”, da autoria de André Luna Leão, fundador do blogue Planeta Sinclair e que é o primeiro livro do museu, simbolicamente lançado no Dia Mundial do Livro. A sessão de autógrafos que se seguiu foi um sucesso e a primeira tiragem do livro está quase esgotada. Outro ponto alto do programa foi a uma palestra por Grant Sinclair, sobrinho de Sir Clive Sinclair e filho de Iain Sinclair, um designer industrial que desenvolveu diversos dos produtos da Sinclair como algumas calculadoras e amplificadores. Nesta apresentação foram divulgadas fotos de diversos protótipos de invenções pouco conhecidas de Sir Clive Sinclair. Destaque também para a entrevista a Steve Vickers, um dos maiores responsáveis pela conceção e sucesso do ZX Spectrum ou não tivesse ele sido o responsável pelos manuais e “sistema operativo” (ROM) do Spectrum. A sessão do legado da TIMEX, conduzida por João Diogo Ramos, mas contando em palco com João Encarnado, Álvaro Lopes e mesmo antigos funcionários da fábrica que estiveram presentes, foi outra das enormes surpresas e um final em cheio do primeiro dia. Na audiência esteve ainda Susan Gomes, filha do escocês Albert D’All, que estabeleceu e liderou a fábrica da TIMEX em Portugal a partir de 1970. Ao longo dos dois dias, o evento contou com inúmeras entrevistas a ícones dos programadores de Spectrum que fizeram e ainda fazem sonhar os jovens de então. Nomes como os Oliver Twins, Jim Bagley e claro, Clive Townsend, o criador de Sabouter, que esteve presente em Cantanhede e fez as delícias dos visitantes. De Portugal e com direito a fazer a última pergunta do dia ao orador, apareceu de surpresa Paulo Dimas, o jovem que nos habituámos a ver no   programa Ponto por Ponto da RTP a apresentar jogos de Spectrum e nos presenteou com a sua presença.  

DETALHE   DAS   PALESTRAS

SÁBADO 

O painel de oradores trouxe ao evento um dos filhos de Sir Clive Sinclair, Crispin Sinclair, que esteve à conversa com o fundador e curador do museu LOAD ZX Spectrum, João Diogo Ramos, tendo traçado um perfil do pai para uso no museu.  Porque era também Dia Mundial do Livro foi lançado o livro “Os Programadores Portugueses” da autoria de André Luna Leão, fundador do blogue Planeta Sinclair e que é o primeiro livro do museu. A sessão de autógrafos que se seguiu foi um rotundo sucesso e a primeira tiragem do livro está já praticamente esgotada.  Miguel Guerreiro, o criador do sistema esxDOS que permite utilizar cartões de memória com computadores ZX Spectrum veio relatar na primeira pessoa todo o processo de conceção.   A surpresa da manhã veio do novo jogo apresentado por Filipe Veiga e que se passa no cenário do Museu LOAD ZX Spectrum cujas salas estão fielmente retratadas no mesmo e deixaram a audiência de água na boca para o futuro lançamento do jogo.   Pela tarde houve tempo para uma intervenção da Srª Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, Drª Helena Teodósio, que veio reforçar o interesse e frisar a necessidade de expansão do museu, referindo estar-se a trabalhar nesse sentido.  Já João Diogo Ramos contextualizou o processo de conceção do museu e partilhou com os presentes diversas novidades que o museu irá lançar nos próximos tempos, continuando o caminho ambicioso que tem sido trilhado.  Seguiu-se uma palestra por parte de Grant Sinclair, o sobrinho de Sir Clive Sinclair e filho de Iain Sinclair, um designer industrial que desenvolveu diversos dos produtos da Sinclair como algumas calculadoras e amplificadores. Esta apresentação teve o condão de apresentar fotos de diversos protótipos de invenções desconhecidas de Sir Clive Sinclair. Não obstante, este ilustre orador transmitiu posteriormente a surpresa com a completude do espólio do museu, tendo inclusive dito ser “a maior concentração de objetos Sinclair que já tinha visto juntos e que iria voltar”.  Seguiu-se uma entrevista conduzida por Luís Rato a Philip Oliver, um dos famosos Oliver Twins, que numa conversa empolgante contaram a história da sua participação no desenvolvimento de inúmeros títulos, focando nos de ZX Spectrum.   A surpresa do dia estava reservada para a sessão do legado da TIMEX, conduzida por João Diogo Ramos e que contou em palco com João Encarnado, Álvaro Lopes e mesmo antigos funcionários da   TIMEX que estavam presentes. Na audiência encontrava-se também por exemplo Susan Gomes, uma das filhas do Sr. D’All. o Escocês que estabeleceu e liderou a fábrica da TIMEX em Portugal a partir de 1970 (ainda antes dos computadores). Do Brasil veio o breve testemunho de Luís Bandeira, ex-diretor comercial da TIMEX e um dos primeiros colaboradores da aventura dos computadores. João Diogo Ramos apresentou diversos documentos históricos de um espólio de alguns milhares de documentos de ex-colaboradores, preservados pelo museu e que vêm trazer informação fundamental para reconstruir e documentar esta história importante. Esse foi aliás um dos reptos feito por João Encarnado ao anfitrião do evento, e que foi prontamente aceite. Uma das surpresas foi preparada por Álvaro Lopes que apresentou um trabalho estratégica e até surpreendente de reconstrução do coração dos computadores da TIMEX, um componente chamado de SCLD e que brevemente passará a ser possível substituir fruto do trabalho deste voluntário do Museu.    À noite, no museu, crianças, jovens e graúdos deliciaram-se e cristalizaram recordações com os jogos preparados no espaço preparado para o efeito.  Houve também tempo para uma demonstração do chamado demoscene por Miguel Guerreiro que permitiu explorar as características mais avançadas destes pequenos computadores. Mas a maior surpresa veio da sessão multimédia do músico Francisco Saldanha e Ricardo Cruz que brindaram os presentes com um espetáculo que conjugou as bandas sonoras em 8 bits de filmes que foram acompanhados pela projeção das imagens dos jogos de Spectrum respetivos e incluíram títulos com Regresso ao Futuro, Batman, Platoon, Predador ou E.T.  

DOMINGO 

A começar o dia de domingo, André Luna Leão esteve à conversa com Marcus Garrett e Filipe Veiga. O Marcus é um dos autores mais prolíficos da história dos videojogos no Brasil e trouxe-nos uma apresentação cativante que inspirou a comunidade portuguesa para a necessidade de preservação desta memória coletiva nacional. Mas além disso, o Marcus presenteou os presentes em exclusivo com um excerto do seu novo documentário vídeo que deliciou os presentes.  Seguiu-se a entrevista de João Diogo Ramos a Steve Vickers, um dos maiores responsáveis pela conceção e sucesso do ZX Spectrum ou não tivesse ele sido o responsável pelos manuais e “sistema operativo” (ROM) do Spectrum.  Luís Rato esteve depois à conversa com Jim Bagley que falou da sua enorme carreira na produção de videojogos e a sua ligação ao projeto do ZX Spectrum Next. Clive Townsend, o ilustre orador que se seguia, surpreendeu ainda Jim Bagley com um desafio em direto para gáudio dos presentes. Na entrevista final, o simpático Clive Townsend esteve à conversa com Luís Rato e com participação da plateia.  A surpresa da manhã estava reservada para a última questão que foi feita, não mais nem menos do que por Paulo Dimas – um dos apresentadores do extinto programa Ponto por Ponto da RTP onde apresentava os jogos do momento na televisão portuguesa ao lado do jornalista Raúl Durão – e quis   marcar presença apoiando o evento e museu em Cantanhede.  A tarde foi passada pelo museu onde houve tempo para mais jogos, autógrafos, entrevistas e visitas ao museu. Ricardo Pinho, um dos criadores do famoso jogo City Connection, marcou presença e retratou a história da versão de 128K que terá sido um dos jogos Portugueses mais relevantes de sempre e que continua perdida.   Um evento marcante, repleto de ilustres participantes, que prometeram voltar! 

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