Análise: Gordian Quest

Misturando conceitos de jogos de estratégia por turnos como Final Fantasy Tactics com jogos de construção de decks de cartas e muita inspiração de jogos recentes como Slay the Spire, Gordian Quest foi uma agradável surpresa. Não é caso único um jogo chegar-me às mãos sem eu me lembrar sequer sobre que é ou de ter visto o trailer e Gordian Quest acabou por me surpreender pela sua execução.

A palavra chave aqui é mesmo execução, já que não há praticamente nada aqui que não tenhamos visto nada. Desde o setting à jogabilidade, tudo parece ser ligeiramente reciclado de muitos outros jogos que vieram antes. Podemos olhar e ver elementos daqui e dali e até a direção artística não é algo que eu possa considerar única. Apesar disso, Gordian Quest consegue ir buscar bons elementos, sabe aquilo que quer ser e tudo o que apresenta é realmente bom.

No centro de tudo, Gordian Quest é um jogo de construção de deck. Iremos encontrar novas personagens pelo caminho e o combate por turnos irá soar semelhante a tantos outros que já jogámos, no entanto no centro está o deck de cartas que cada uma destas personagens usa para os seus movimentos, ataques e defesa. A aventura é longa, dividida em quatro capítulos que no total irão ocupar ao jogador entre 25 a 30 horas. O jogo é bastante variado também, com muitas classes que acabam por modificar muito a forma como abordamos o combate. Existem dez classes ao todo, portanto se gostarem da jogabilidade irão certamente encontrar razões para ocupar bem mais do que as 25 a 30 horas.

O modo principal do jogo é a campanha, ou pelo menos assim o entendi, no entanto existem modos mais diretos como um modo skirmish que essencialmente nos leva diretamente para o combate. No entanto, o modo campanha não é também muito pesado em termos narrativos e a vasta maioria do tempo é passada no combate, isto quando não estamos a optimizar o deck de batalha. Existem ainda modos infinitos onde podemos combater até inevitavelmente perdermos um combate, ou simplesmente jogar uma mão cheia de níveis.

Se o jogo que analisei ontem me impressionou pela inteligência dos seus puzzles, Gordian Quest não menos me impressionou pela inteligência de como as suas classes podem ser combinadas para criar combos devastadores. Conseguir estes efeitos não é fácil e requer algum pensamento, mas quando as estrelas se alinham, o combate de Gordian Quest é deveras gratificante. No inicio vamos começar por simplesmente acumular cartas, mas com o tempo vamos sentir a necessidade de emagrecer o deck e escolher as melhores cartas. Isto obriga-nos a ler e com isso vem a realização de como as cartas das várias classes podem funcionar em conjunto.

Além do deck de cartas também iremos ganhar experiência e pontos que nos permitem melhorar certos aspetos das nossas personagens, incluindo melhorar as suas cartas. Muitos dos elementos que encontramos na grelha de melhorias parecem ser completamente inúteis, mas isso deve-se aos níveis de dificuldade do jogo. O jogo é realmente acessíveis nos níveis mais baixos de dificuldade e como tal, alguns elementos mais complexos como resistências e outros marcadores não fazem sequer parte ou têm uma importância muito reduzida.

O combate em si vai também depender do nível de dificuldade escolhido. Não posso dizer que o nível mais fácil seja muito desafiante, no entanto é divertido e igualmente gratificante. Lançar um dado e obter o valor que precisamos no momento certo é tão gratificante no nível mais alto de dificuldade como no mais baixo por exemplo. Por vezes podemos complicar ou facilitar o combate ao escolher as opções corretas numa espécie de aventura de texto que precede os combates principais. Por exemplo, podemos tentar lançar um dado para tentar um ataque furtivo ao chefe do grupo em vez de atacar de frente todo o grupo ao mesmo tempo. Com um bom lançamento de dados e uma personagem de características furtivas podemos acabar por ter de derrotar apenas os soldados mais fracos que ainda por cima foram apanhados de surpresa. Este elemento de RPG de mesa é bastante agradável e ajuda a quebrar o ritmo do jogo num bom sentido.

O jogo tem como forma de navegação um mapa com locais marcados e que vão desde combates a eventos e cidades. As cidades abrem-se num segundo mapa que representa apenas a cidade e onde temos acesso a lojas e outros edifícios típicos do género .O combate é o foco de Gordian Quest, e é bem executado. Os sistemas são bem visíveis e apesar do jogo continuar a apresentar um desafio, é fácil ler o que acontece a cada momento, algo que não posso dizer de todos os jogos do género. Há muito trabalho feito no jogo e nota-se a paixão do estúdio responsável neste projecto. Existem muitos sistemas para explorar e profundidade para quem a procurar, mas o jogo não se foca exclusivamente nesses jogadores, oferecendo níveis de dificuldade suficientes para acolher todos os jogadores.

Se sempre tiveram interesse num jogo deste género ou gostaram de ver alguém a jogar algo mas parecia complexo demais, Gordian Quest é talvez o jogo ideal para vocês. É realmente bom, com muitos bons sistemas, é um jogo bonito com visuais 2D desenhados e altamente detalhados e que graças a uma boa implementação dos seus níveis de dificuldade, consegue acolher do jogador mais veterano até ao mais rookie, apresentando-lhe um desafio correspondente ao seu nível mas sempre gratificante.

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