Análise: Gotham Knights

Batman Arkham Asylum tornou-se rapidamente não apenas um dos melhores jogos da personagem mas um dos melhores jogos da geração anterior também. Não é de todo descabido pensar que nunca teríamos jogos como o Spiderman da Insomniac se não fosse a Rocksteady Studios a mostrar uma dedicação impressionante a uma personagem icónica.

Convém realçar o papel que a Rocksteady Studios teve para popularizar ainda mais Batman e o seu universo no mundo dos videojogos. Gotham Knights é obviamente um novo jogo da Warner Bros, mas não é um jogo da Rocksteady. O ponto de partida de Gotham Knights é a série Arkham, mas é um jogo que tenta introduzir uma identidade e jogabilidade diferentes. O Batman está morto e Gotham passa por momentos ainda piores do que o normal desta cidade completamente podre. O impacto na cidade é grande, mas tem um impacto ainda maior em Robin, Nightwing, Batgirl e Red Hood. Além do óbvio impacto pessoal, alguém tem de ocupar o lugar que Batman deixa na cidade.

Melhor do que alguém ocupar o lugar de Batman é um grupo ocupar o lugar e Gotham Knights é a história de como o lugar de Batman é substituído pelo resto da família. A longa história do jogo é este percurso, com o jogador a ocupar as cerca de trinta horas do jogo a fazer praticamente tudo o que nos habituámos a fazer na série Arkham. É um jogo em mundo aberto que se aproxima mais aos jogos do final da série do que aos jogos iniciais e sinceramente acentua perfeitamente no jogo. Parece que há sempre algo para fazer no jogo, mas muito parece mais uma obrigação do que uma atividade que gostamos de fazer.

É aqui que começam os problemas do jogo. Em vez de ser primariamente um jogo de ação como os jogos anteriores, este é um jogo de ação sim, mas com o foco no loot. Isto faz com que o jogo tenha uma quantidade de grind completamente desnecessária. O jogo tem uma quantidade enorme de conteúdo, mas aquilo que mais queria era passar para a próxima parte da história, mas o jogo faz-nos sentir na obrigação de explorar os seus sistemas de loot e crafting. Obviamente que se ignorar-mos estes sistemas vamos acabar por sentir na pele a sua necessidade. Infelizmente estes dois sistemas parecem estar em lados opostos, enquanto que o foco do jogo parece estar no loot, a jogabilidade não é gratificante, focando-se em ideias que se vão tornando repetitivas em pouco tempo, mas a parte boa do jogo é o resto, as missões principais que realmente valem a pena.

Não poder avançar no jogo sem fazer uma série de tarefas aborrecidas é sem dúvida o principal problema do jogo. Não há nenhuma razão válida em termos de game design para que tenhamos que perder uma eternidade para aceder às coisas interessantes do jogo. Cada personagem tem habilidades próprias até na forma como se move. Com Nightwing temos acesso a um drone, com a Batgirl podemos planar, mas para aceder à estes itens temos que completar primeiro uma série de missões de crime. Não faz qualquer sentido em nenhum aspeto que eu me lembre e estas missões não são minimamente interessantes em termos de narrativa. Isto faz com que o jogo se torne aborrecido antes de se tornar interessante. Se um jogo é bom e sabe que é bom deve mostrar o que tem de melhor nas primeiras horas de jogo e se há uma altura para abrandar o ritmo é sem dúvida quando está no seu melhor e nunca quando está no seu pior.

Sempre que parece que o jogo vai acelerar ele engana-nos e volta a lançar-nos numa aborrecida série de missões secundárias sem grande interesse. Nada é interessante nestas missões, nenhuma é memorável e a estrutura parece gerada de forma processual. Isto faz com que o jogo realmente pareça muito longo, mas se pensar na quantidade de jogo que realmente gostei e é único, o número de horas cai para bem menos de metade. É parvo comparar Gotham Knights com GTA, mas pensem em quantas missões aborrecidas e lançadas para fazer número tiveram que aguentar num GTA e trabalho de taxi não conta.

A existência de todo este conteúdo não é de todo o problema. O conteúdo secundário não é realmente muito bom mas se fosse opcional o problema estaria resolvido. O principal problema é que este conteúdo não é opcional. As missões da história são bloqueadas por nível e é com estas missões que podemos subir. Os combates contra os bosses é onde o jogo brilha verdadeiramente, mas novamente há um problema, estes combates são poucos e são demasiado espaçados.

Enquanto que a Rocksteady parecia saber o que torna Batman e o seu universo tão cativante, o estúdio responsável por Gotham Knights não parece fazer ideia. Enquanto que a jogabilidade dos jogos Arkham era soberba, evoluindo com o jogador e introduzindo novas habilidades ao mesmo tempo que este ia dominando o combate, Gotham Knigts foca-se em ideias mais perto de RPG, onde a jogabilidade é guiada por cooldowns. Não quero dizer que Gotham Knights não tenha um rumo, simplesmente ninguém aqui parece ter percebido qual era o rumo certo. Enquanto que Batman é um faz tudo que engloba tanto força física, acrobacias e inteligência através das suas habilidades de detetive e gadgets, aqui as várias personagens são como que fragmentos do que Batman é.

Cada uma das personagens tem os seus pontos fortes e isso afeta como se jogam. Efetivamente cada uma das personagens tem as suas habilidades, mas os combos são feitos com as mesmas combinações de botões, acabando por ser apenas a sua habilidade especial a separar as várias personagens. A história não é má de todo e se por um lado parece que os criadores de Gotham Knights não percebem o que faz destas personagens e destes jogos cativantes, a realidade é que parecem conhecer as personagens em termos narrativos. A forma como elas vão crescendo pessoalmente é um dos melhores aspetos do jogo. Cada uma tem também uma perspectiva diferente da cidade, algo que podemos explorar alternando entre as personagens, algo que o jogo incêntiva ao colocar todas elas a partilhar os skill points. Jogar em co-op ainda torna esta experiência melhor.

Apesar de não poder dizer que está seja a melhor Gotham por onde já andámos, não anda longe e é grande. É realmente pena que a cidade não tenha mais para fazer de interessante. O grind do jogo por si já é tanto que existem muito poucas razões para ir mais além do que aquilo que o jogo já nos pede. Depois de completar o conteúdo principal do jogo apenas nos sentimos cansados, mas se sentirem que ainda não passaram tempo suficiente no jogoo, a realidade é que não há muito conteúdo no final. O endgame é quase inexistente.

Gotham Knights parecia ser o próximo grande passo deste universo de jogos do Batman, mas ficou um pouco aquém das suas potencialidades. Existem aqui as fundações para algo bom, mas à medida que vamos avançando no jogo vamos ficando mais cansados e cada vez sentimos menos gratificação naquilo que fazemos. Enquanto que os jogos anteriores eram interessantes apenas na sua ação e história, o foco em loot e pequenos elementos de RPG assim como conteúdo secundário que cai no erro de ser tanto aborrecido como obrigatório fazem com que Gotham Knights seja um jogo que não sendo mau, não atinge os objetivos a que propôs.

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