Análise: Blade Runner: Enhanced Edition

Blade Runner conseguiu uma série de feitos na sua história. De livro excepcional de Philip K. Dick chamado Do Androids Dream of Electric Sheep, passou a um verdadeiro clássico do cinema através de Ridley Scott no Blade Runner original, uma sequela que conseguiu o feito de não ficar a dever quase nada ao original e até direito teve a um jogo muito bem recebido pela crítica em 1997. O histórico é imaculado e invejável, no entanto no que toca ao jogo a história acaba por sofrer um revés já que uma versão melhorada do jogo chegou às lojas mas maior parte das melhorias são mais prejudiciais do que outra coisa.

Não posso dizer que tenha grande experiência com o original, infelizmente, já que desde que tive conhecimento da sua existência há bastantes anos que sempre tive curiosidade de o jogar. As opiniões foram sempre muito favoráveis do jogo, referindo a sua história e aspetos tecnológicos que foram inovadores na altura. A realidade é que a equipa por trás do Blade Runner original era tudo menos novata. A Westwood Studios estava bem lançada com a sua série Command & Conquer e conseguiu trazer alguma da tecnologia para outro género completamente diferente.

O material de origem por si tem uma qualidade invejável, mas a dedicação é atenção com que foi tratado apenas lhe fez justiça. Infelizmente até aqui falei essencialmente do jogo original e isso tem uma razão. Todo o cuidado que a Westwood Studios teve no original não teve grande importância para a equipa que tratou desta versão supostamente melhorada. O jogo original ganhou algum culto e no geral é recordado com carinho pelos jogadores, mas não era perfeito, com vários jogadores a criticarem os puzzles e o sistema de tempo “real” do jogo original. Infelizmente toda esta versão melhorada apenas adiciona problemas, sem resolver qualquer um dos originais.

Um dos aspetos que o jogo capturava na perfeição era o ambiente. Quem viu o filme sabe que este tem um estilo e ambiente muito próprio que apenas prova que nem todos os filmes de ficção futurista são iguais. As cutscenes eram também muito boas em 1997, recriando com pormenor as localizações do filme original. O jogo não segue os eventos do filme, mas imita-os, com personagens próprias que apesar de não serem as mesmas do filme, são semelhantes e seguem os mesmos pontos da narrativa. Como em muitos dos jogos do género da época, alguns puzzles envolvem essencialmente tentar de tudo, já que por vezes não fazemos ideia de onde começar sequer. Infelizmente a tal mecânica de tempo real, que tinha como promessa fazer com que o mundo do jogo continuasse mesmo que o jogador não estivesse a jogar, faz com que tentar de tudo não seja tão fácil, já que podemos conseguir tentar de tudo, mas falta-nos o quando.

Mas com apenas uma punhado de problemas, como é que uma versão melhorada pode estragar o original? Bem, para começar o jogo é inferior visualmente. Foi feito um trabalho de tentativa de melhoria gráfica, mas o resultado é horrivel. Basicamente, a Nightdive Studios que foi a responsável por esta versão, não teve acesso aos fundos originais, já que ao fim de tanto tempo devem-se ter perdido, não devia acontecer mas acontece. Portanto optou por os suavizar para poder aumentar a sua resolução. O resultado é feio para ser simpático. Outras mecânicas como a de disparar também funciona pior que no original, com o jogador a não fazer ideia do que está a fazer, com essa falta de explicação a aplicar-se a outras mecânicas do jogo como a máquina Voight-Kampff.

A UI foi outro aspeto que foi alterado, para pior novamente. Aquilo que era intuitivo e funcional no original passou a ser feito através de controlos dependentes do contexto que simplesmente não funcionam. É realmente pena que a Nightdive Studios tenha essencialmente estragado esta versão. O jogo original com pequenas melhorias e sobretudo um sistema de dicas era mais do que suficiente para que os jogadores podessem experimentar um jogo muito bom. Esse jogo continua aqui, bastante ocultado por baixo de toda a trapalhada que foi feita, mas infelizmente é preciso um esforço para o desenterrar.

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