Análise: Hogwarts Legacy

Hogwarts Legacy está a dividir a crítica, mas de uma forma que na minha opinião não faz qualquer sentido. Pessoalmente não posso criticar a JK Rowling, posso perceber que os seus comentários possam ser controversos, mas não acho que sejam nem muito graves, ou propriamente errados. Felizmente o ComboCaster não é grande o suficiente para que o que estou aqui a escrever cause grandes ondas, por isso não tenho que ter os mesmos cuidados a evitar controvérsia que outros websites. O mundo que JK Rowling não é perfeito, agora com muitos anos em cima de experiência entre agora e quando li os livros, consigo ver alguma forma de caricatura nos goblins. Mas no fundo acho que é isso. A história e os temas centrais do mundo mágico não são de todo esses e acho que há algo de errado num mundo que quer ignorar tudo de bom e focar-se apenas no mau.

Tendo dito tudo isto, não posso sequer perceber o boicote que tentaram fazer ao jogo se o problema for apenas os comentários de JK Rowling. Ela não teve envolvida em nada na criação do jogo é tenho muitas dúvidas que a história seja considerada canon. O canon deste universo resume-se essencialmente aos livros e tudo o resto costuma ser canon até ser contradito. Se algo acontece diferente no livro e filme, então o canon é o que acontece no livro, caso contrário é aceite até deixar de ser. A história de Hogwarts Legacy é algures no passado, muito antes de Voldemort ou Dumbledore, portanto não há grande problema em aceitar que possa ser canon, mas sem ter sido escrito diretamente por JK Rowling só posso especular.

As primeiras imagens, vídeos e informações sobre Hogwarts Legacy deixaram-me bastante convencido de que teríamos aqui algo bastante especial. Sempre tive a ideia de que um MMORPG em Hogwarts seria algo fantástico, mas algo do género de Hogwarts Legacy é igualmente bom. Poder percorrer os corredores da escola mágica durante um ano letivo é capaz de ser o sonho de qualquer jogador que tenha crescido com os livros de Harry Potter, mas Hogwarts Legacy é até melhor do que eu estava à espera. Este é um RPG muito competente mesmo, bastante longo com quests secundárias que facilmente levam o jogo para lá das 50 horas. Há muito para explorar aqui, muitos sistemas que fazem com que seja bem mais do que um simples RPG.

Costuma-se dizer que os jogos em mundo aberto estão a ficar aborrecidos e até podem ter razão em parte, mas depois eu penso é chego à conclusão que as melhores experiências que joguei nos últimos anos foram jogos como The Witcher 3 e GTA V e Red Dead Redemption 2. Parte do responsável para que um jogo de mundo aberto seja bom é exatamente o seu mundo e pessoalmente colocaria o de Hogwarts Legacy entre os melhores que joguei. É um mundo onde nos podemos perder, perdendo a sua imersão apenas devia a um ou outro problema técnico que facilmente vejo a ser corrigido no futuro. Há algo que não posso dizer, que é que Hogwarts Legacy seja inovador. Já jogámos este jogo antes. Nunca em Hogwarts e talvez nunca com esta configuração exata, mas jã jogámos jogos semelhantes.

Algo que não posso criticar o jogo é a execução. Sim, tem um ou outro problema técnico, mas no geral os criadores do jogo sabem o que funciona bem e as escolhas feitas no jogo foram sempre para o lado certo. Há um certo medo de produtos licenciados. Durante anos recebemos aptações de filmes horríveis e nem Harry Potter foi imune a isso. Nada contra os primeiros jogos para a PlayStation, mas os jogos baseados nos últimos filmes deixaram muito a desejar. Hogwarts Legacy não sofre de nenhum desses males, aproximando-se bem mais do momento de glória que foram os jogos Arkham de Batman do que outra coisa qualquer. Se o jogo tem sistemas muito competentes, não há nada de errado para assinalar ao combate também, misturando complexidade com acessibilidade de uma forma sublime.

Um dos aspetos em destaque aqui é a própria Hogwarts. É uma recriação simplesmente perfeita e um mundo que respira e cheio de vida. Seja em que meio for, Hogwarts é sempre descrito como um local vivo, onde os quadros se mexem e as escadas se movem. Isso tudo é verdade aqui, mas consegue mostrar isso melhor ainda melhor do que qualquer filme até aqui. Ao andar pelo castelo vemos livros a reorganizarem-se nas prateleiras, fantasmas a flutuar, quadros onde as figuras se movem e armaduras que nos cumprimentam ou se antagonizam uma à outra. Hogwarts é também um verdadeiro puzzle, não no mau sentido e há medida que vamos conhecendo a escola mais parece um lugar real. As aulas que temos que ir e os amigos que fazemos ajudam a tornar o lugar ainda mais real e um lugar que sentimos falta quando acabamos a história é decidimos colocar o jogo de parte.

Nem tudo é perfeito. No limite os elementos tão bons do jogo apenas nos deixam a querer que tudo fosse desse nível. Existem poucos elementos interativos no mundo do jogo por exemplo. Hogwarts está cheio de vida, mas não podemos por exemplo nos sentar numa cadeira. A história do jogo também joga em oposição ao resto do jogo. Enquanto que no geral apenas queremos explorar o castelo e explorar aquele sentimento acolhedor da vida escolar, o resto do jogo envolve uma estranha magia ancestral que só a nossa personagem parece dominar e uma rebelião goblin. À medida que a história avança muitos dos elementos melhores do jogo vão desaparecendo ou pelo menos diminuindo em frequencia, com o jogo a pedir-nos cada vez mais para sairmos de Hogwarts e o focar-se mais no combate.

Apesar das diferenças, a história da nossa personagem é muito semelhante à de Harry Potter, simplesmente mais rápida. A história principal do jogo é talvez o aspeto menos interessante até. Não é que seja má, não é, mas não é muito original, tanto por ser demasiado semelhante à de Harry Potter, como por ser a típica história do salvador do mundo, que recebe toda a atenção e tem um dom especial. Hogwarts Legacy é melhor quando vagueamos pelo mundo do jogo, conhecemos personagens particulares e resolvemos quests secundárias. Mas isto não é único de Hogwarts Legacy, até The Witcher 3 é assim. O combate é bem mais interessante do que seria de esperar dado o que é mostrado nos filmes por exemplo. Nos filmes os duelos parecem saídos do Ghostbusters, mas aqui o combate é divertido. Escolher o feitiço correto é a parte central do combate, o que o separa de um shooter mascarado e isso é realmente bom.

Hogwarts Legacy é um jogo bastante fácil, ao ponto de recomendar que o joguem na dificuldade mais alta, mas nunca se torna aborrecido. O responsável por isso é o combate. É simplesmente divertido trocar entre os feitiços. O jogo abusa dos combates contra bosses e isso sim começa a ficar velho em pouco tempo. O grande responsável é a falta de variedade desses mesmos encontros. O mesmo troll parece aparecer uma série de vezes. Apesar de um ou outro problema, Hogwarts Legacy é um jogo fantástico. Passei os olhos por algumas críticas extremas a darem notas ridículas ao jogo e não consigo perceber a razão. Foquem-se no jogo e verão o bom que é e ignorem o resto.

Share this post

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ComboCaster