Star Wars Jedi: Survivor é a sequela de um dos melhores jogos de Star Wars lançados, seja recentemente ou não. Misturando elementos de vários géneros, o primeiro Star Wars Jedi, Fallen Order, foi uma experiência muito interessante e a sequela foi aguardada com entusiasmo. O resultado final não nada aquém das expetativas, apresentando uma história intimista e bem elaborada com pequenas, mas significativas, apostas que trazem realidade ao universo de Cal e oferecem um contraponto às grandiosas e descontroladas histórias de Star Wars que a Disney tem produzido. O ogo tenta oferecer um mundo aberto para explorar, o que pode agradar a alguns, mas isso acaba por gerar uma crise de identidade para o jogo já que é sobretudo pela sua história mais focada que o jogo se destaca.
Infelizmente, o jogo sofre também de vários problemas de desempenho no PC e alguns pequenos problemas que impedem que o jogo alcance a grandeza esperada. Não acredito que estes problemas sejam permanentes e acredito que a grande maioria venha a ser corrigida no futuro, muitos deles já o foram até. Narrativamente, o jogo é excelente e consegue transmitir a essência da saga Star Wars, que é sobre párias lutando contra forças maiores do que eles e encontrando seu lugar no mundo. O elenco é um dos pontos fortes do jogo, com a estrutura do jogo a ser talvez o aspeto menos conseguido.
Depois do prólogo, nós encontramos-nos num grande planeta chamado Koboh, com muitas missões secundárias, combates e áreas escondidas para explorar. Embora seja possível explorar tudo que quisermos, é provável que se forem como eu acabem por simplesmente seguir as principais partes da história antes de partir para Jedah. O jogo baseia-se muito num ping ping entre Koboh e Jedah, com o jogo a pedir-nos que nos movamos constantemente entre estes dois plantes, e à medida que as coisas se repetem e mudam pouco sem o nosso impacto direto, tudo parece um pouco artificial. Narrativamente, as novas peças da história são desbloqueadas, mas as mesmas missões secundárias exigem a nossa atenção, os mesmos hubs e as mesmas rotas para novos locais. Embora Koboh seja cheio de vida, o jogo usa o planeta com tanta frequência que acaba por perder a imersão que poderia ter, já que parece que estamos presos num loop a repetir as mesmas missões. Isto é um problema sobretudo das tarefas secundárias, mas o jogo praticamente nos pede para jogar este conteúdo. Queremos receber novas habilidades, ser mais poderosos e explorar.
Um dos poucos problemas de Star Wars Jedi: Survivor é a falta de coerência na lógica do jogo. A personagem Cal possui habilidades incríveis, como correr pelas paredes e mover objetos com a mente, mas o jogo muitas vezes limita essas habilidades de forma arbitrária. Além disso, o jogo muitas vezes impõe soluções específicas para os seus puzzles, ao invés de permitir que o jogador use a sua criatividade e pense fora da caixa, o que é especialmente problemático para um jogo baseado num universo como Star Wars, onde a criatividade e o pensamento não convencional são incentivados. O jogo é construído como um mundo aberto, mas muitas vezes bloqueia o progresso do jogador de forma artificial.
A sensibilidade do jogo aos aspetos narrativos é especialmente útil durante os confrontos contra os bosses, já que estes misturam habilmente cenas cinematográficas e jogabilidade. O jogo está cheio desses momentos dramáticos que fazem com que os bosses pareçam mais importantes, mais épicos e esses momentos tenham um impacto maior. No entanto, isso levanta questões sobre os próprios companheiros. Além de BD-1, Merrin em Jedah e Bode em Koboh, existe uma novo personagem com um jet-pack e pistolas blaster que nos irão acompanhar. No entanto, isso não é tão simples quanto parece. Eles estarão connosco apenas em momentos específicos da história e muitas vezes deixam-nos sozinhos para passar por grandes seções, apenas para retornar no último minuto para uma cena. Eles são um pouco úteis em combate, mas de outra forma parecem inúteis e aquilo que poderia ser uma companhia constante, que poderia criar um dinamismo às seções normais do jogo, com diálogos durante a jogabilidade por exemplo, acaba por ficar aquém do que poderia ser. Tentar explorar qualquer um dos planetas com eles ao seu lado não os levará a participar na exploração. Em vez disso, eles vão dizer nos irão encontrar mais tarde.
Relativamente ao jogo anterior, existem novas posições de combate que adicionam uma dimensão interessante. No entanto, o sistema de aumento de nível pode ser limitante para a maioria das pessoas, já que é necessário escolher apenas duas habilidades em cada ponto de gravação, em vez de escolhê-las conforme necessário. Apesar disso, o combate é significativo e variado. Cal tem reflexos rápidos para balas, mas a cura é demorada e às vezes falha, resultando em morte.
O sistema de respawn e pontos de gravação também pode ser frustrante. Encontramos problemas de desempenho. Na Steam Deck o jogo simplesmente não corre, ou se o conseguirem fazer correr não irá correr de forma satisfatória. O jogo não foi de todo pensado para a Steam Deck, no entanto mesmo num PC bem apetrechado pode engasgar-se um pouco. Com o tempo isto irá ficar resolver, mas é difícil saber se toda a instabilidade geral desaparecerá com novos patches ou permanecerá lá para sempre. Nos últimos dias já têm sido lançados patches para corrigir muitos dos problemas.Relativamente as puzzles, estes são muito minuciosos e precisos, e os que estão em cavernas são difíceis de ver e descobrir. Alguns dos puzzles são complicados, mas muitos são difíceis apenas porque a mecânica está escondida, muito longe, na escuridão, ou simplesmente não reage na primeira vez que interagimos com ela.
Star Wars Jedi: Survivor é um título que oferece tudo o que um admirador de Star Wars gostaria. A narrativa é excelente, repleta de elementos clássicos da saga, incluindo bandas sonoras e momentos marcantes. Nem tudo é perfeito, especialmente no que diz respeito ao conteúdo secundário e performance, mas não irá ser uma desilusão a ninguém que goste de Star Wars e tenha gostado do jogo anterior.
