Análise: Fort Solis

Fort Solis é o jogo de estreia da Fallen Leaf e pode ser descrito como um thriller e comparado com minisséries scifi e promete exploração, sequências de ação nervosas, uma história profunda e valores de produção dignos de um jogo de alto orçamento. Embora ele cumpra várias destas características, apresentando visuais e som impressionantes, também fica aquém em muitos aspetos. Um dos problemas do jogo, talvez o maior, é que a história começa de forma muito lenta. Se tentarmos colocar isto palavras, imaginem um thriller em que o primeiro quarto da sua duração é focado numa personagem a deambular por uma instalação de pesquisa em Marte, tentando descobrir quais portas que estão trancadas e quais não estão. Com este início é difícil vender o resto da experiência e o jogo acaba por sofrer bastante com este primeiro impacto.

A divulgação de Fort Solis pelo estúdio Fallen Leaf destacou a presença de atores renomados no projeto como Roger Clark, conhecido por Red Dead Redemption 2, interpreta o protagonista Jack Leary, que mantém contato com Jessica Appleton, interpretada por Julia Brown. Troy Baker, talvez o actor de voz mais conhecido da indústria, desempenha um papel importante como o cientista possivelmente maluco, Wyatt Taylor. Essas adições ao elenco fazem sentido, uma vez que as fortes atuações vocais destacam-se através de uma mixagem de áudio subtil que paira sobre os cenários solitários e inquietantes da estação espacial abandonada de Marte, Fort Solis, onde a maior parte da narrativa ocorre. Fort Solis foi desenvolvido durante a pandemia da Covid-19, o que levou os criadores a abordarem temas de solidão e a falta de contato humano genuíno, mesmo no ambiente digital. Essa experiência pela qual todos passámos consegue-se ver no jogo. Os detalhes gráficos e o design dos ambientes refletem essa ideia, criando uma atmosfera em que a solidão é uma presença constante.

Embora existam algumas imperfeições visuais e de detalhes nos ambientes em comparação com os jogos AAA mais recentes, a apresentação geral é impressionante, especialmente considerando o tamanho do estúdio. A otimização também é notável, com poucos erros ou bugs. A narrativa central de Fort Solis é envolvente e interessante, com diálogos constantes entre Jack e Jessica, que aliviam a solidão da exploração inicial pela estação. Os elementos de narrativa, como áudios e vídeos de personagens ausentes, contribuem para o clima misterioso e intrigante do jogo.

Apesar destes pontos bem conseguidos no que toca ao ambiente e visuais, a jogabilidade em si apresenta desafios. O ciclo principal envolve procurar minuciosamente pistas nas salas da estação para descobrir o que aconteceu. Não há puzzles complexos e a interação com objetos muitas vezes carece de profundidade. O jogo introduz elementos dramáticos de maneira desarticulada, com eventos de ação apressados e sequências de QTE mal implementadas. A velocidade lenta de Jack ao mover-se pela estação também afeta negativamente a exploração, tornando-a monótona e a geral falta de ação não ajuda a tornar esta experiência memorável.

Fort Solis é uma experiência atmosférica com gráficos impressionantes e uma narrativa central cativante. No entanto, como jogo, ele deixa a desejar. A jogabilidade é limitada e muitas vezes pouco envolvente, e a falta de um fluxo constante de interatividade compromete a experiência do jogador. Embora o jogo tenha uma visão clara para a sua história e atmosfera, parece que a jogabilidade foi adicionada posteriormente, o que impactou negativamente a coesão geral. É realmente pena, pois Fort Solis é um daqueles jogos que eu gostava de ter gostar bem mais. Consigo ver o que ele faz bem, mas creio não ser suficiente.

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