Análise: Detective Pikachu Returns

Detective Pikachu Returns, a mais recente aventura para a Nintendo Switch, oferece aos jogadores uma experiência peculiar no vasto universo Pokémon. Desenvolvido pela Creatures, o jogo não brilha em todos os aspectos, apresentando simplicidade excessiva e gráficos que não ultrapassam a qualidade do jogo original da 3DS, lançado há sete anos. O tempo realmente voa. Entretanto foi lançado também um filme que surpreendeu muito pela positiva e que funciona essencialmente como uma versão em filme do primeiro jogo. A história deste novo jogo continua a desenrolar-se em Ryme City, uma metrópole onde Pokémon e humanos coexistem como cidadãos, quebrando a tradição de confiná-los em PokéBolas para batalhas. Este cenário não só lança uma crítica taciturna ao conceito competitivo central da série Pokémon, mas também oferece o ambiente perfeito para um jogo de aventura que não depende de conflitos por turnos.

Os mistérios que o protagonista, Tim Goodman, e o seu parceiro falante Pikachu resolvem em Ryme City são habilmente adaptados ao universo Pokémon, evitando os clichês culturais presentes em outros jogos da franquia. Detective Pikachu Returns compromete-se a ser um jogo de mistério no mundo Pokémon, e a maioria dos puzzles torna-se trivial para aqueles com um bom entendimento da lore e regras da franquia. A interação com Pokémon específicos para resolver enigmas é uma abordagem agradável, embora por vezes as soluções pareçam óbvias para jogadores mais experientes. Apesar de sua simplicidade, a sensação de satisfação ao aplicar o conhecimento Pokémon acumulado ao longo dos anos é uma recompensa constante.

A jogabilidade, no entanto, tem os seus momentos menos bons. Algumas mecânicas, como as sequências de ação baseadas em eventos QTE, parecem desnecessariamente simplificadas, limitando-se ao simples pressionar do botão A até que o pulso comece a doer. A colaboração entre Tim e Pikachu na resolução de mistérios é interessante, mas frequentemente leva a uma falta de desafios de dedução, já que as orientações são sempre fornecidas. Isso pode resultar numa experiência que parece mais orientada para crianças do que para um público mais amplo. Detective Pikachu Returns tenta injetar variedade na jogabilidade com companheiros específicos de cada caso. Pokémons como Growlithe, Luxray e Pangoro são utilizados para rastrear odores, ver através de paredes e mover obstáculos, respetivamente. Embora mantendo uma essência Pokémon, essas adições não conseguem evitar a sensação de serem um tanto simplistas. Além disso, os segmentos de stealth aéreo são tão elementares que adicionam pouco à experiência global.

O jogo também enfrenta o desafio de equilibrar as suas ideias inovadoras com a simplicidade que parece ser uma concessão à audiência infantil. A narrativa de Detective Pikachu Returns, no entanto, mergulha em temas surpreendentemente sombrios e questiona aspectos fundamentais do mundo Pokémon. Ryme City, como um lugar onde as batalhas de Pokémon não ocorrem, desafia a norma estabelecida pela franquia. Além disso, o jogo aborda a competência das forças policiais e critica abertamente como a instituição pode tornar-se corrupta. Embora não vá muito longe na radicalidade, Detective Pikachu Returns destaca-se ao explorar temas mais maduros, enriquecendo assim o universo Pokémon. Comparado ao filme live-action de 2019, Detective Pikachu Returns melhora muitos dos aspectos que enfraqueceram a obra cinematográfica. O final do filme, que se desvia para um cenário de desastre, é substituído por um enredo melhor desenvolvido e explicativo no jogo. As revelações tardias no jogo, que foram em grande parte comprometidas pelo filme, são entregues de forma mais envolvente, mostrando um cuidado maior na escrita, motivação e construção do mundo.

A narrativa familiar de Detective Pikachu Returns não é muito elegante no diálogo, mas os amplos traços emocionais conseguem envolver os jogadores. A história central, envolvendo a procura de Tim pelo seu pai desaparecido com a ajuda do Pikachu, mantém a mesma gravidade do filme, proporcionando um equilíbrio impressionante entre temas pesados e reviravoltas sombrias, mantendo-se acessível para um público mais jovem. Embora não alcance os níveis impressionantes de conclusão de outros jogos Pokémon recentes, como Pokémon Legends: Arceus ou Scarlet e Violet, Detective Pikachu Returns destaca-se ao explorar as possibilidades do mundo Pokémon de maneiras novas e refrescantes. Detective Pikachu Returns apresenta revelações que transcendem a sua simplicidade em termos de mecânicas, resgatando a experiência de um jogo que poderia ter sido apenas mais uma aventura simplista. As questões levantadas em torno da habilidade de Pikachu falar com Tim quando outras criaturas não conseguem são abordadas com inteligência, contrastando significativamente com a abordagem menos eficaz do filme. Esses momentos finais, repletos de clareza na escrita, motivação e construção do mundo, elevam a qualidade geral do jogo.

No entanto, o fim de Detective Pikachu Returns traz consigo uma sensação agridoce para os jogadores, especialmente para aqueles que se encantaram com Ryme City. O jogo não aprensenta as bases para uma sequela e enquanto a conclusão é bem-vinda, deixar Ryme City não deixa de ser um pouco triste.

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