Análise: RoboCop: Rogue City

RoboCop: Rogue City foi uma verdadeira surpresa para mim. O jogo, lançado em 2 de novembro, é um mergulho frenético no universo cyberpunk, baseado no clássico cinematográfico. Desenvolvido pela Teyon e publicado pela Nacon, o jogo promete oferecer uma experiência narrativa na primeira pessoa imersiva, repleta de ação, com o emblemático RoboCop como protagonista. A essência do jogo reside, inegavelmente, no seu combate visceral. Rogue City proporciona um realismo impressionante na física dos confrontos. A capacidade de pegar inimigos pelo pescoço e lançá-los contra as paredes, enquanto pedaços de entulho chovem sobre os seus corpos inertes, é um destaque notável. A sensação de poder ao atomizar o crânio de um oponente com um soco de RoboCop é uma experiência que faz jus ao espírito do filme.

As armas, especialmente a auto-9 machine pistol, oferecem uma variedade de opções para os jogadores explorarem. O modular burst fire SMG proporciona uma rajada absurda de balas com precisão milimétrica, garantindo momentos de pura satisfação ao derrubar adversários. No entanto, existe uma certa redundância nas opções de armamento, com armas adicionais parecendo desnecessárias em comparação com a eficácia da auto-9. A física aplicada ao ambiente é uma das maiores conquistas do jogo. Desde explosivos que se comportam de maneiras hilariantemente diferentes até a capacidade de pegar objetos e lançá-los com realismo, a interação com o cenário é uma fonte constante de entretenimento.

Existe no entanto uma mudança de tom quando o jogo introduz inimigos que não resultam em explosões de gore. Os confrontos com o defeituoso ED-209 e os androides de combate têm uma certa falta de impacto e personalidade em comparação com as lutas contra as gangues de rua de Detroit. Isso revela uma lacuna na variedade de inimigos e desafios, afetando a experiência de jogo. O sistema de desmembramento, embora projetado para adicionar um toque cómico, às vezes parece priorizar o humor em detrimento do envolvimento emocional. Inimigos agarrando os seus membros mutilados e gritando podem ser engraçados inicialmente, mas com o tempo, a repetição dessas situações leva à perda de impacto.

A narrativa do jogo apresenta uma tentativa de continuar a saga de RoboCop, incorporando elementos do universo estabelecido no filme. O antagonista, o irmão de um amigo da gangue de Clarence, procura preencher o vácuo de poder deixado por este e Cain. No entanto, nem tudo funciona e muitas vezes a história é rica em pormenores que não contribuem efetivamente para a rica história dos filmes. A inclusão de elementos narrativos, como avaliações psicológicas e tarefas rotineiras na delegacia, tenta adicionar profundidade ao enredo, mas muitas vezes resulta em tédio para o jogador. As missões secundárias, embora ofereçam um vislumbre de diferentes ambientes, frequentemente carecem de recompensas significativas, deixando os jogadores questionando a validade do seu empenho. O destaque mais notável em termos de personagens é o próprio RoboCop, com a voz do talentoso Peter Weller. O jogo faz um excelente trabalho em explorar a dualidade entre o homem e a máquina, expressa através das opções de diálogo. A decisão de seguir uma abordagem direta ou demonstrar empatia revela uma profundidade surpreendente.

A substituição da icônica Anne Lewis por Ulysses Washington, um novo agente da policia que enfrenta intensos momentos de bullying na delegacia, é uma reviravolta inesperada na narrativa. Essa escolha, embora ousada, acrescenta uma camada de complexidade à dinâmica da delegacia, explorando temas de poder e hierarquia. Do ponto de vista técnico, Rogue City mantém uma estabilidade aceitável, as animações das personagens, no entanto, variam de satisfatórias a deficientes, evidenciando uma inconsistência visual. Os ambientes, embora fiéis à estética suja e plástica do filme original, não se destacam visualmente. RoboCop: Rogue City é uma montanha-russa de emoções e experiências de jogo. O combate frenético, física envolvente e a exploração da humanidade num corpo mecânico são pontos altos, no entanto, a falta de variedade nos desafios, a narrativa com demasiados “extras” e alguns aspectos técnicos inconsistentes impedem que o jogo atinja o seu verdadeiro potencial.

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