Análise: Bem Feito

Bem Feito emerge como uma experiência de jogo única, desafiando as convenções tradicionais e proporcionando aos jogadores uma narrativa intrigante e envolvente. Este jogo, com uma duração de apenas 1-2 horas, tece a sua história de forma a criar um ambiente misterioso e peculiar, explorando dois modos de jogo distintos, revelando-se uma experiência surpreendentemente envolvente. Ao iniciar Bem Feito, somos imediatamente confrontados com uma simulação de ambiente de trabalho no estilo Windows, completo com documentos protegidos por senha, imagens e programas executáveis. Este cenário serve como ponto de partida para a narrativa, introduzindo-nos ao jogo lançado em 1999 para a consola portátil Garotron, conhecido por alegadamente deixar crianças doentes e ansiosas.

O mistério envolvendo a existência real do jogo em 2023, com poucas provas online, adiciona uma camada adicional de intriga ao enredo. A história desenrola-se à medida que exploramos o mundo de Reginaldo, o protagonista com uma aparência reminiscente de Crayon Shin-chan, porém com um sorriso mais sinistro. Reginaldo acorda na sua casa pequena e aconchegante, sendo apresentado a uma lista de tarefas diárias que variam desde a pesca até a remoção do lixo. O design low poly e os visuais em preto e branco conferem ao jogo uma estética única, adicionando um toque de nostalgia à experiência.

O aspecto peculiar do jogo revela-se quando descobrimos que, durante o dia, amigos excêntricos de Reginaldo aparecem para visitas, desejando apreciar as suas flores ou jogar videojogos. Esses momentos de interação social adicionam uma dimensão emocional à história, com o protagonista frequentemente expressando solidão. À medida que avançamos, descobrimos que há uma razão para essa solidão, e é nesse ponto que a história toma um rumo inesperado. A jogabilidade em Bem Feito é simplificada, com tarefas diárias sendo em sua maioria ações de um único botão. Isso contribui para a sensação de ser mais um espectador do que um participante ativo na narrativa. O jogo desenrola-se ao longo de sete dias, cada um levando menos de uma hora para ser concluído. As tarefas diárias variam, mantendo a jogabilidade fresca, mas o foco está na imersão na história em vez de desafios de jogo complexos.

A reviravolta acontece quando a experiência de jogo se estende para além do ecrã principal. Ao retornar ao ambiente de trabalho simulado após a conclusão do jogo, os efeitos de Bem Feito começam a manifestar-se nos arquivos protegidos por senha, revelando palavras-chave anteriormente desconhecidas. Esta integração da narrativa com os elementos fora do jogo é uma abordagem inovadora, reforçando a imersão do jogador no mistério que envolve Bem Feito. A estética do jogo é um ponto forte, com a simulação de ambiente de trabalho, as fotografias propositalmente desfocadas e as digitalizações de manuais adicionando camadas à narrativa. No entanto, alguns elementos, como erros de tradução evidentes. Felizmente para os portugueses não é um problema.

Bem Feito é mais do que um simples jogo, é uma experiência interativa e distorcida que desafia as expectativas. Embora o preço possa parecer um pouco elevado para a curta duração do jogo, a singularidade da narrativa e a imersão proporcionada valem a pena para aqueles que procuram algo fora do comum.

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