Análise: Unleaving

Unleaving, o primeiro jogo do estúdio independente orangutan matter, é uma obra que se destaca pelo seu estilo artístico e puzzles cativantes. Numa era onde muitos jogos tentam equilibrar estética e jogabilidade, Unleaving consegue criar um espaço único, mesmo que às vezes tropece na sua própria ambição narrativa. Antes de mais, Unleaving é um festim visual. Desde o primeiro momento, somos informados de que estamos prestes a testemunhar milhares de desenhos a lápis, grafite e acrílico. Esta abordagem artesanal à arte do jogo é reminiscente da tranquilidade evocada pelo programa The Joy of Painting, de Bob Ross. Cada cenário em Unleaving parece ter sido meticulosamente desenhado à mão, proporcionando uma sensação de paz e beleza, mesmo quando o perigo está iminente.

Um dos aspectos mais fascinantes do jogo é o uso de stop motion para dar vida às cutscenes, com pinturas que evoluem diante dos nossos olhos. Isto cria uma sensação de movimento e vida que é rara de encontrar em jogos deste género. Além disso, as ilustrações a grafite, como uma borboleta que te acompanha ao longo da jornada, adicionam uma camada extra de charme e profundidade ao mundo do jogo. Embora o áudio não seja tão impressionante quanto os visuais, é igualmente eficaz em criar uma atmosfera envolvente. Unleaving opta por uma banda sonora minimalista, permitindo que os sons ambientes da natureza se destaquem. Desde a brisa suave ao som dos passos e ao ranger mecânico dos moinhos de vento, a banda sonora da vida real continua em segundo plano, mantendo o jogador focado na tarefa em mãos.

Esta abordagem sonora, embora subtil, complementa perfeitamente a estética visual do jogo. A falta de música constante evita distrações e permite que o jogador se perca nos detalhes do mundo à sua volta, intensificando a experiência de jogo. Em Unleaving, controlamos uma criança ruiva que começa sentada numa falésia, aparentemente ponderando o significado da vida, quando uma borboleta passa a dançar. Este pequeno protagonista, desenhado a lápis e sem nome, guia-se através de um mundo repleto de puzzles intrigantes e desafios de plataforma. A jogabilidade é relativamente simples, com o jogo a fornecer um tutorial básico sobre saltar e puxar objetos logo no início.

Os primeiros desafios são simples, ensinando ao jogador a saltar para alcançar saliências ou ultrapassar pequenos abismos. No entanto, os puzzles rapidamente se tornam mais criativos e envolventes. Conforme o jogador avança, os puzzles em Unleaving tornam-se mais complexos e variados. É na narrativa e temática que Unleaving parece dividir opiniões. A história do jogo é apresentada através de reflexões e perguntas existenciais que aparecem no ecrã durante a jogabilidade. O jogo tenta explorar temas de crise existencial e autoaceitação. No entanto, estas mensagens são frequentemente consideradas excessivamente diretas e pouco subtis. O segundo capítulo, intitulado DESCENT, continua com perguntas seguidas pela palavra ABSURD. Estas reflexões, embora bem-intencionadas, podem ser vistas como distrativas e forçadas, afastando a atenção do jogador dos puzzles e da arte maravilhosa que o jogo oferece.

Unleaving apresenta uma dificuldade baixa, tornando-o acessível a uma ampla audiência. As mortes são frequentes, geralmente por afogamento ou ataque do cão feroz, mas não são frustrantes. Morrer é rápido e pouco gráfico, com o jogo a recomeçar no início do puzzle sem grandes penalidades. Esta abordagem mantém a frustração ao mínimo e permite que os jogadores se concentrem na resolução dos puzzles. Uma das maiores conquistas de Unleaving é a variedade dos puzzles. Apesar das mecânicas limitadas, poucos puzzles são repetidos, o que mantém a jogabilidade fresca e envolvente. Desde o uso de ímanes em sequências de salto até puzzles mais surreais, como salvar uma versão simbólica de ti mesmo presa atrás de um espelho rachado, o jogo oferece uma experiência diversificada e estimulante.

Unleaving é um jogo que, apesar de algumas falhas na sua narrativa, consegue cativar com a sua arte deslumbrante e puzzles criativos. A equipa da orangutan matter demonstrou um talento notável em design e jogabilidade, criando uma experiência que vale a pena explorar. Se são fãs de puzzle-platformers como Limbo, certamente encontrarão aqui em Unleaving uma experiência igualmente interessante. A sua duração curta, cerca de três horas, é perfeita para um passatempo de uma tarde, oferecendo visuais de tirar o fôlego e desafios suficientes.

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