Análise: Ereban: Shadow Legacy

Ereban: Shadow Legacy é um jogo que oferece uma experiência de furtividade e plataformas que tenta conjugar o melhor de dois mundos, oferecendo ao jogador a oportunidade de se tornar numa sombra mortal capaz de se fundir com a escuridão. Se, por um lado, o jogo traz à memória títulos como Aragami pela sua premissa e mecânicas, por outro, luta para se destacar no género de furtividade devido à falta de desafio e inteligência dos inimigos. Ainda assim, consegue brilhar no campo das plataformas, proporcionando momentos de verdadeiro engenho e satisfação. O conceito central de Ereban: Shadow Legacy gira em torno das sombras, como o nome sugere. A protagonista, Ayana, é a última dos Ereban, um povo com a habilidade inata de se fundir e manipular sombras. Esta habilidade permite a Ayana atravessar níveis inteiros sem ser vista, escalando paredes e eliminando inimigos com eficiência. A mecânica de fusão com a sombra é poderosa, talvez demasiado, pois permite ao jogador contornar quase todos os desafios sem recorrer a outras ferramentas ou estratégias.

Embora a premissa seja intrigante, a execução deixa algo a desejar. A ausência de um verdadeiro desafio faz com que a furtividade perca parte do seu encanto. Os inimigos, embora variados, desde guardas padrão a snipers e droides invisíveis, não apresentam uma inteligência artificial capaz de proporcionar uma ameaça significativa. Esta falta de oposição reduz a necessidade de utilizar o arsenal de gadgets avançados de Ayana, que inclui desde um pulso de reconhecimento que marca inimigos através das paredes a minas que atordoam alvos. Uma das falhas mais notáveis do jogo é a sua linearidade. Ereban: Shadow Legacy oferece um vislumbre de um design de nível mais aberto no seu terceiro capítulo, permitindo ao jogador abordar missões numa área aberta e interconectada. Esta abordagem, que incentiva a exploração e a criatividade, é uma lufada de ar fresco, mas infelizmente, é uma exceção e não a regra. A maioria dos níveis segue um caminho linear, limitando a liberdade do jogador e a capacidade de experimentar diferentes abordagens.

No entanto, quando se trata de plataformas, Ereban: Shadow Legacy mostra todo o seu potencial. Os desafios de plataformas são criativos e exigem uma utilização inteligente das habilidades de Ayana. A mecânica de fusão com a sombra não só permite que Ayana se mova pelas sombras, mas também que salte para fora delas para alcançar locais inacessíveis ou resolver puzzles ambientais. Estas secções são especialmente gratificantes, proporcionando momentos de verdadeira tensão e realização. O design dos níveis é diversificado e visualmente apelativo. Desde postos avançados no deserto a fábricas autónomas, cada ambiente é único e cuidadosamente construído. Um dos níveis mais memoráveis é uma rua urbana, desprovida de vida humana, mas patrulhada por drones autónomos. Este cenário, banhado pela luz do pôr-do-sol e invadido pelas sombras, cria uma atmosfera arrepiante e melancólica, refletindo a perda de autonomia dos cidadãos humanos sob o domínio corporativo.

A narrativa é onde o jogo mais peca. A história de Ayana, inicialmente prisioneira de uma entidade controlada por IA e posteriormente aliada de uma resistência contra a tirania corporativa, é promissora mas mal explorada. Os temas narrativos, embora interessantes, são abordados de forma apressada, sem dar tempo suficiente para que se desenvolvam adequadamente. Ayana adere à causa da resistência rapidamente, sem uma justificação convincente, e o sistema de moralidade do jogo, que afeta a aparência de Ayana dependendo das suas ações, tem pouco impacto real na narrativa. Apesar das suas falhas, Ereban: Shadow Legacy oferece momentos de diversão genuína, especialmente para os fãs de jogos de plataformas. As mecânicas de sombra são inovadoras e proporcionam uma nova camada de desafio aos puzzles e ao design dos níveis. A jogabilidade é fluida, e os visuais são impressionantes, com uma paleta de cores vibrante que dá vida ao mundo futurista do jogo.

No entanto, para um jogo de furtividade, Ereban: Shadow Legacy não consegue entregar a intensidade e o desafio esperados. A inteligência artificial dos inimigos e a falta de opções de dificuldade tornam o jogo demasiado fácil, mesmo para jogadores menos experientes. A linearidade dos níveis e a narrativa subdesenvolvida também impedem que o jogo alcance o seu pleno potencial. Ereban: Shadow Legacy é um jogo de contrastes. Brilha nas plataformas, oferecendo desafios interessantes e visuais deslumbrantes, mas falha em proporcionar uma experiência de furtividade verdadeiramente envolvente. A narrativa promissora é prejudicada por uma execução apressada, e a falta de desafio na jogabilidade furtiva deixa uma sensação de oportunidade perdida. Ainda assim, vale a pena experimentar pelos seus momentos de engenhosidade e pela atmosfera única que consegue criar.

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