Análise: Kingsgrave

Kingsgrave é um jogo que levanta questões interessantes sobre o equilíbrio entre orientação e liberdade nos jogos de vídeo. Enquanto alguns jogadores podem apreciar a sensação de exploração sem ajudas, outros podem encontrar frustração na falta de direção. Este título oferece uma experiência que mistura elementos clássicos de Metroidvania com uma narrativa de realeza e desastre. Em Kingsgrave, assumimos o papel de um rei cujo reino próspero foi devastado por uma terrível doença. Durante o caos, o rei estava em sono profundo, alheio ao sofrimento dos seus súbditos. Quando acorda, encontra o seu reino em ruínas e decide embarcar numa missão para salvar o seu povo e restaurar a glória da sua terra. Este enredo é apresentado de forma breve, mas eficaz, através de algumas linhas de diálogo, antes de sermos lançados ao vasto mundo do jogo.

A exploração em Kingsgrave é um dos seus pontos fortes. Somos imediatamente livres para explorar o mundo, mas encontramos obstáculos que não conseguimos superar de imediato. O jogo é, essencialmente, um Metroidvania, o que significa que muitas áreas estão bloqueadas até encontrarmos itens específicos que nos permitem progredir. Um exemplo disso é uma picareta que precisamos encontrar para remover rochas que bloqueiam nosso caminho. A ausência de orientação explícita pode ser um problema. Não há marcadores de mapa ou NPCs que nos indiquem claramente para onde ir a seguir. Isso pode ser especialmente frustrante depois de algumas horas de jogo, quando é fácil esquecer os locais que podem ser desbloqueados com novos power-ups. A falta de dicas pode transformar a experiência de jogo numa série de caminhadas sem rumo, o que pode desanimar muitos jogadores.

Kingsgrave diferencia-se de outros Metroidvanias na forma como lida com a progressão e aquisição de novas habilidades. Em vez de obter melhorias após derrotar chefes, a maioria dos novos poderes vem dos súbditos do rei. Libertar os súbditos e recolher os materiais necessários para abrir os seus negócios é essencial para ganhar acesso a novas armas, habilidades e locais de comércio. Os materiais são cruciais não só para adquirir novas habilidades, mas também para construir pontes que nos levam a novas áreas. Infelizmente, o combate é uma área onde Kingsgrave falha em cativar. Os movimentos do personagem são lentos e o alcance das armas é curto, o que torna o combate um exercício de frustração. O sistema de combate corpo a corpo utiliza um estilo twin stick, mas nunca se sente confortável. A imprecisão nos golpes, agravada pelo alcance limitado das armas, faz com que as batalhas sejam mais frustrantes do que desafiantes.

Os desenvolvedores de Kingsgrave mencionam que o jogo é inspirado nos clássicos The Legend of Zelda. No entanto, essa comparação parece exagerada. Embora a perspetiva de cima para baixo seja similar, as semelhanças terminam aí. Ocasionais quebra-cabeças e power-ups opcionais podem lembrar Zelda, mas faltam muitos dos elementos clássicos que tornaram essa série icónica. A falta de orientação em Kingsgrave é ainda mais evidente na questão do mapa. O mapa, que é uma ferramenta crucial para a navegação e também permite viagens rápidas, pode ser facilmente perdido. Isto aconteceu-me, deixando-me sem um senso claro de direção durante grande parte do jogo. Este problema poderia ser evitado com um design mais intuitivo ou dicas mais claras sobre onde encontrar itens essenciais.

Kingsgrave apresenta um ciclo de jogabilidade interessante de recolha de materiais e obtenção de melhorias. A exploração e a liberdade oferecidas são pontos positivos que poderão agradar a muitos jogadores. No entanto, os problemas com o combate desajeitado e a falta de orientação clara prejudicam a experiência. A sensação de progresso é muitas vezes travada pela frustração de não saber para onde ir ou como superar certos obstáculos. Com algumas melhorias, especialmente no sistema de combate e na orientação do jogador, Kingsgrave poderia ser uma adição sólida ao género Metroidvania. No entanto, tal como está, é difícil recomendar o jogo sem reservas. A sua abordagem única à progressão e a construção do mundo são louváveis, mas os problemas técnicos e de design precisam de ser resolvidos para que a experiência seja verdadeiramente agradável. Kingsgrave é um jogo que pode agradar a quem gosta de exploração livre, mas é importante estar preparado para alguma frustração ao longo do caminho.

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