Análise: Capes

Capes da Spitfire Interactive é um jogo tático que tenta trazer uma abordagem estratégica ao género de super-heróis. A ação desenrola-se em King City, uma cidade distópica controlada pela Companhia, um grupo que se apoderou da cidade depois de um evento chamado o Confronto, que ocorreu vinte anos antes do início do jogo. Durante este evento, a maioria dos super-heróis desapareceu ou foi morta, deixando o destino da cidade nas mãos da Companhia, que desde então proíbe qualquer super-herói, capturando e experimentando em qualquer um que tenha poderes. A premissa é interessante e remete-nos para algumas das narrativas de bandas desenhadas conhecidas, como Teen Titans ou Outsiders, onde um grupo de jovens heróis luta contra um regime opressivo. O enredo de Capes começa bem, com uma cidade distópica governada por vilões e um grupo de heróis jovens liderados por Doctrine, um dos poucos sobreviventes do Confronto. O jogador acompanha esta equipa de heróis enquanto enfrentam velhos inimigos de Doctrine, numa tentativa de recuperar King City. A história tem elementos intrigantes, como o passado secreto de Doctrine e as questões sobre o seu papel na narrativa, mas, à medida que o jogo avança, o ritmo começa a abrandar. A narrativa perde força a meio, com secções prolongadas e um final que chega de forma apressada e melancólica, sem grande impacto emocional. O jogo tenta abordar temas como o conflito entre o bem e o mal, os danos colaterais e as repercussões dos atos heroicos, mas muitas dessas questões são abordadas de forma superficial e não têm o peso necessário.

No que toca à jogabilidade, Capes segue uma estrutura de combate tático semelhante a jogos como XCOM. As personagens movem-se numa grelha e têm duas ações por turno, além de habilidades especiais que podem ser ativadas após cumprir certos requisitos. O jogo utiliza um sistema de turnos alternados, onde a ordem de ação das personagens é determinada por uma fila à direita do ecrã. No entanto, a ordem de turnos é muitas vezes imposta pelo jogo, o que pode resultar em personagens a agir demasiado tarde ou demasiado cedo, prejudicando a eficácia das estratégias de equipa. O sistema de ataques em conjunto, onde várias personagens podem combinar as suas habilidades para criar efeitos adicionais, é uma das mecânicas mais interessantes, mas é limitado pelo alcance das personagens, tornando-o difícil de usar com consistência.

As missões em Capes variam entre combates diretos e objetivos secundários. Infelizmente, a variedade das missões é limitada, e o jogo sofre de uma falta de flexibilidade na ordem de turnos, o que pode atrapalhar a fluidez do combate. Os inimigos, sendo humanos, utilizam armas de fogo, armas corpo-a-corpo e escudos, o que acrescenta algum desafio, mas também pode ser frustrante. As armas de fogo podem causar grandes quantidades de dano, eliminando a maioria da vida de uma personagem com um único disparo, enquanto as armas corpo-a-corpo podem atrasar a ordem de turnos das personagens. O sistema de desarmamento é uma resposta a estas ameaças, mas a sua eficácia depende de conseguir desarmar múltiplos inimigos num curto espaço de tempo, o que nem sempre é possível, levando a momentos de frustração.

O sistema de progressão em Capes baseia-se em pontos de experiência ganhos nas missões, mas para desbloquear novas habilidades é necessário completar desafios opcionais. Estes desafios podem variar entre derrotar inimigos de uma certa maneira ou desarmar uma quantidade de inimigos antes que usem uma habilidade. No entanto, muitos destes objetivos são difíceis de completar na primeira tentativa, o que incentiva os jogadores a repetirem missões antigas para obter pontos de habilidade extra. Este sistema pode tornar-se cansativo, pois a repetição de missões sem grande variação pode levar à exaustão do jogador. Além disso, as missões secundárias, que deveriam adicionar profundidade à narrativa, são muitas vezes obrigatórias, sendo necessárias para continuar a história principal, sem que o jogo o comunique de forma clara.

No que toca ao elenco de personagens, cada uma delas tem um papel específico no campo de batalha, com habilidades únicas. Facet, por exemplo, é uma personagem tanque que pode provocar múltiplos inimigos, enquanto Mercurial é rápida e capaz de desarmar e mover inimigos no campo de batalha. Kinetic, por outro lado, é capaz de aumentar as habilidades dos seus aliados e derrotar inimigos com um único golpe. Embora estas diferenças adicionem alguma variedade ao combate, as conversas opcionais entre personagens, que são desbloqueadas ao cumprir certos marcos de combate, revelam pouco sobre as suas personalidades. Estas interações não têm impacto na narrativa principal, o que acaba por ser uma oportunidade desperdiçada de dar mais profundidade às personagens. Visualmente, Capes não impressiona. Os gráficos são adequados, mas as animações das personagens são rígidas e sem vida, especialmente durante as cutscenes in-game. O jogo também utiliza imagens estáticas em alguns momentos, o que não contribui para uma experiência visualmente interessante. A banda sonora e o trabalho de voz são os destaques, com as vozes a darem alguma personalidade às personagens, e a música, embora repetitiva, cumpre a sua função. Capes é totalmente jogável na Steam Deck, com um desempenho sólido e sem problemas técnicos significativos, exceto por pequenos atrasos nos comandos.

Capes começa com uma premissa promissora, mas não consegue manter o interesse ao longo da sua duração. A jogabilidade tática tem os seus momentos, especialmente no início, mas à medida que o jogo avança, torna-se repetitiva e frustrante devido às limitações do sistema de turnos e à falta de variedade nas missões. Embora o conceito de uma cidade distópica controlada por vilões e um grupo de heróis jovens a tentar recuperá-la seja interessante, a execução não consegue manter o mesmo nível de qualidade. Para os fãs de jogos táticos e de super-heróis, Capes pode proporcionar algum entretenimento, mas é difícil não desejar que o jogo tivesse mais a oferecer.

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