Análise: Deathbound

Deathbound é um jogo que se insere no género soulslike, um estilo de jogo que ganhou popularidade nos últimos anos devido à sua dificuldade elevada, mecânicas de combate precisas e mundos envolventes e interconectados. Desenvolvido pela Trialforge Studio e publicado pela Tate Multimedia, Deathbound é um título indie que tenta trazer novas ideias ao género, mas que, infelizmente, acaba por ficar aquém das expectativas devido a alguns problemas técnicos e mecânicos. A primeira coisa a destacar em Deathbound é a sua abordagem diferenciada no que toca à personalização e evolução das personagens. Ao contrário da maioria dos jogos soulslike, onde os jogadores têm a possibilidade de modificar armaduras e armas ao longo da jornada, Deathbound opta por uma mecânica baseada em essências. Estas essências são, na prática, personagens diferentes que os jogadores podem desbloquear e alternar a qualquer momento.

Começamos com um cavaleiro de espada e escudo, uma escolha clássica e segura, mas à medida que exploramos o mundo do jogo, podemos desbloquear outras essências, como um ladrão ou um feiticeiro de venenos. Esta diversidade oferece uma camada adicional de estratégia, pois cada essência possui habilidades únicas que podem ser combinadas de forma a enfrentar os diferentes desafios que o jogo apresenta. No entanto, embora esta mecânica seja interessante e ofereça variedade ao combate, Deathbound peca por não proporcionar um sistema de melhoramento e evolução das personagens que seja verdadeiramente satisfatório. Os bónus de estatísticas que se obtêm ao melhorar as personagens são mínimos e muitas vezes impercetíveis. A sensação de progressão, que é tão crucial num jogo deste género, é bastante fraca. Por exemplo, um aumento de 1% na defesa ou no combate corpo a corpo é praticamente irrelevante, e o caminho de melhoramento das personagens, que segue um estilo de teia, acaba por ser confuso e pouco intuitivo. Além disso, o jogo tem um teto baixo para os melhoramentos. Após atingir o nível 90, não há praticamente nada de significativo que se possa fazer com a experiência extra acumulada, o que torna o modo new game+ algo desapontante e sem grande motivação para ser explorado.

O combate, que é o núcleo de qualquer jogo soulslike, em Deathbound é uma mistura de altos e baixos. Nos seus melhores momentos, o combate é rápido, responsivo e divertido. O sistema de poise, os efeitos elementares e os golpes pesados proporcionam uma sensação de peso e impacto que é muito satisfatória. A mecânica de troca de personagens durante o combate, suportada pelo medidor de sincronização, permite aos jogadores encadear ataques de diferentes personagens de forma dinâmica, o que contribui para manter o combate interessante e variado. Este medidor também pode ser utilizado para realizar ataques poderosos que utilizam a essência selecionada, oferecendo mais uma camada de estratégia ao combate. Por outro lado, os inimigos de Deathbound, que inicialmente parecem ameaçadores, rapidamente se tornam previsíveis e pouco desafiantes. Os seus padrões de ataque são limitados e, após algumas horas de jogo, acabam por ser reduzidos a meros obstáculos que apenas prolongam o tempo de jogo sem realmente oferecerem uma ameaça significativa. Os efeitos de sangramento, inspirados em Elden Ring, estão presentes mas não são bem equilibrados, tornando alguns combates demasiado fáceis, especialmente quando se utiliza a lança de Iulia, uma das armas do jogo. Além disso, o sistema de poise, que deveria ser uma mecânica importante para quebrar a defesa dos inimigos, é pouco eficaz, já que o atordoamento causado é muito breve e não oferece uma verdadeira vantagem estratégica. Os combates contra bosses, que são tradicionalmente os momentos de maior desafio e tensão num soulslike, são outra área onde Deathbound desaponta. Com exceção de um boss em estilo horda que exigiu algum esforço e tentativas repetidas, a maioria dos bosses são pouco desafiantes para veteranos do género. Embora alguns bosses apresentem mecânicas interessantes, como transformações durante a luta, estas são raras e mal exploradas. A falta de diversidade e a simplicidade dos bosses fazem com que os combates se tornem monótonos e previsíveis, algo que é agravado pela ausência de melhorias significativas nas lutas no modo new game+.

Visualmente, Deathbound tenta misturar elementos de ficção científica pós-apocalíptica com fantasia, uma combinação que poderia ter resultado num mundo envolvente e único. O jogo apresenta cenários como estruturas de escritórios dilapidadas e ruas de cidades modernas, o que é uma lufada de ar fresco num género onde os castelos e cavernas sombrias são a norma. No entanto, a execução deixa a desejar. O jogo sofre de texturas insípidas e paredes invisíveis, elementos que quebram a imersão e tornam o mundo menos atraente. A ausência de um design de níveis interconectado, como o de Dark Souls, também prejudica a experiência. Em vez disso, Deathbound opta por um estilo de jogo mais linear, com níveis que não estão diretamente conectados entre si. O fast travel, que só é desbloqueado mais tarde no jogo, serve apenas para permitir que os jogadores regressem a áreas anteriores em busca de artefactos e anéis perdidos, os únicos itens equipáveis no jogo. Esta falta de interconexão e a ausência de recompensas significativas para a exploração tornam a experiência menos gratificante.

A narrativa de Deathbound, como é habitual no género, é fragmentada e muitas vezes obscura, revelando-se através de pequenos pedaços de lore espalhados pelo mundo do jogo. Embora não seja um ponto forte do jogo, a história é suficientemente intrigante para manter os jogadores interessados, especialmente aqueles que apreciam um tom sombrio e uma atmosfera carregada. A inclusão de um personagem que funciona como uma ameaça constante, semelhante ao Nemesis de Resident Evil, é uma ideia interessante, mas infelizmente mal executada, já que o jogo não consegue realmente tirar partido deste elemento de forma eficaz.

Deathbound é um jogo que mostra potencial e algumas ideias inovadoras, mas que não consegue superar as suas limitações técnicas e mecânicas. A mecânica de troca de personagens, os combates rápidos e o design de níveis diferenciado são pontos positivos que poderiam ter elevado o jogo a um patamar mais elevado, mas estes são ofuscados por uma execução inconsistente, inimigos pouco desafiantes, e um sistema de progressão insatisfatório. Para os fãs do género soulslike, Deathbound pode oferecer algumas horas de entretenimento, especialmente para aqueles que procuram algo diferente e estão dispostos a tolerar algumas falhas. No entanto, comparado com os grandes títulos do género, como Dark Souls e Elden Ring, Deathbound fica inevitavelmente aquém. Deathbound é um indie soulslike que tenta trazer algo novo ao género, mas acaba por ser um título mediano que não consegue competir com os gigantes que o inspiraram. As suas falhas, tanto técnicas quanto mecânicas, limitam o seu potencial e fazem com que a experiência seja menos memorável do que poderia ser. Mesmo assim, há mérito na tentativa de inovar e na coragem de arriscar num género tão exigente, e há certamente momentos de diversão a serem encontrados para aqueles que tiverem paciência para lidar com as suas falhas.

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