Análise: Still Wakes the Deep

Still Wakes the Deep é um jogo que parte de uma premissa clássica do género de terror, um grupo de trabalhadores numa plataforma petrolífera isolada no mar atinge algo que nunca deveriam ter encontrado e, a partir daí, um horror desconhecido começa a dizimar a tripulação. Esta fórmula é familiar, mas o jogo tenta distingui-se pela atmosfera única e um sentido de realismo envolvente, tanto no cenário como nas interações entre personagens. O protagonista é Cameron “Caz” McCleary, um eletricista de Glasgow que, no início da história, está prestes a abandonar a plataforma após ser despedido por conta de problemas pessoais. É através dos olhos de Caz que experienciamos a sua luta pela sobrevivência. A atmosfera é sem dúvida um dos maiores pontos fortes de Still Wakes the Deep. A recriação da plataforma petrolífera Beira D é notavelmente detalhada, com uma fidelidade visual impressionante e uma atenção minuciosa aos sons que permeiam o ambiente. Desde o som do metal a ranger até aos ecos dos passos nas escadas, o jogo faz um excelente trabalho em construir um ambiente que se sente opressor e hostil. A plataforma em si é um personagem à parte, e a sua complexidade e realismo adicionam uma camada de tensão constante. A Beira D é um local que, mesmo sem a ameaça sobrenatural, já seria intimidante devido à sua perigosidade natural.

Apesar de ser uma produção do estúdio The Chinese Room, conhecido por jogos como Amnesia: A Machine for Pigs e Everybody’s Gone to the Rapture, Still Wakes the Deep destaca-se por ser uma das suas experiências mais interativas. O jogador não está limitado a apenas explorar e observar; há uma série de desafios mecânicos que o mantêm envolvido, desde navegar pelos corredores estreitos da plataforma até usar o ambiente a seu favor para evitar inimigos. No entanto, aqui surge um dos maiores problemas do jogo. Muitos dos elementos de jogabilidade já foram utilizados em inúmeros outros títulos, e a familiaridade com essas mecânicas pode diminuir a tensão. O uso repetitivo de sinais visuais, como tinta amarela para indicar onde o jogador deve subir ou saltar, transforma a plataforma de um labirinto misterioso num percurso de parkour previsível.

O design dos inimigos também segue uma linha comum em jogos de terror. Caz não tem a capacidade de combater as ameaças diretamente e, por isso, o jogador é obrigado a recorrer à furtividade. Existem vários locais para se esconder e objetos para distrair os inimigos, mas muitas vezes estas opções são tão óbvias que a tensão que deveria existir em momentos de fuga acaba por se dissipar. A previsibilidade de algumas situações, como um trabalhador a gritar de uma sala distante que o monstro já se foi embora, retira parte da imersão que o jogo constrói tão bem com o seu ambiente. Ainda assim, Still Wakes the Deep não deixa de ter os seus momentos de qualidade. As interações entre Caz e os poucos sobreviventes restantes são bastante naturais, com diálogos bem escritos e uma representação autêntica do sotaque escocês, o que contribui para dar mais personalidade ao protagonista. No entanto, o desenvolvimento dos personagens sofre devido à curta duração do jogo, que ronda as seis horas. Há pouco tempo para criar ligações emocionais com as outras personagens, o que enfraquece o impacto dos seus destinos trágicos. Além disso, o recurso constante a conversas telefónicas que servem apenas para que o jogador ouça as personagens morrerem não é uma solução eficaz para aumentar a carga emocional da história.

No entanto, talvez o maior defeito de Still Wakes the Deep seja a sua incapacidade de criar momentos verdadeiramente assustadores. O jogo consegue construir uma atmosfera inquietante e opressiva, mas falha em capitalizar essa atmosfera para gerar sustos eficazes ou momentos de verdadeiro terror. A previsibilidade de muitos dos encontros com os inimigos e a falta de uma sensação de perigo constante fazem com que o jogador nunca se sinta totalmente à mercê das forças que habitam a plataforma. Mesmo os momentos de maior tensão acabam por ser enfraquecidos pela facilidade com que é possível escapar ou contornar os desafios. Still Wakes the Deep é um jogo com uma apresentação visual e sonora excecionais, conseguindo transportar o jogador para o ambiente claustrofóbico de uma plataforma petrolífera assombrada. No entanto, falha em inovar nas mecânicas de jogabilidade e em criar uma experiência de terror verdadeiramente memorável. A atmosfera é o seu ponto mais forte, mas a previsibilidade e a falta de impacto emocional dos personagens impedem que atinja o seu verdadeiro potencial. Para os fãs de experiências atmosféricas, Still Wakes the Deep pode ser uma escolha interessante, mas para quem procura um terror mais visceral e imprevisível, poderá ficar aquém das expectativas.

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