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Análise: Vampire Therapist

Vampire Therapist é uma aventura narrativa lançada em julho pela Little Bat Games, onde assumimos o papel de Sam, um antigo pistoleiro do Velho Oeste. No entanto, este não é um jogo típico sobre vampiros e ação desenfreada. Em vez disso, Vampire Therapist traz-nos uma proposta diferente, misturando elementos de humor com a complexidade da psicoterapia. Sam, após escapar ao seu passado violento, encontra-se agora a viver como vampiro há mais de cem anos. Durante este tempo, ele descobre que há muito mais na “não-vida” do que apenas sede de sangue. Juntamente com o seu mentor, Andromachos, um antigo vampiro que gere uma discoteca gótica na Alemanha, Sam inicia um novo capítulo da sua vida como terapeuta para outros vampiros. Logo de início, o jogo avisa os jogadores de que, apesar de ser uma comédia, lida com temas pesados como violência histórica e opressão. Esta advertência é importante, pois algumas pessoas poderão sentir-se desconfortáveis com certas referências, dependendo das suas experiências pessoais. Embora tenha sido desenvolvido com o apoio de terapeutas profissionais, o jogo deixa claro que não é um substituto para a terapia real. Este equilíbrio entre humor e temas mais sérios é algo que a narrativa de Vampire Therapist faz bem, lembrando jogos que já vimos inspirados em séries como What We Do In The Shadows. O seu enredo consegue ser cativante sem descurar a sua vertente humorística.

Em termos de jogabilidade, o foco de Vampire Therapist está na identificação de distorções cognitivas, o que se traduz num interessante mecanismo de jogo. À medida que Sam vai ouvindo os seus clientes, ele precisa de identificar o tipo de pensamento erróneo que cada vampiro está a ter e, depois, reformular a situação para ajudá-los a ver as coisas sob outra perspetiva. O mentor de Sam, Andromachos, explica-lhe o conceito de distorções cognitivas no início e, ao longo do jogo, vai ajudando o protagonista a lidar com as dificuldades que vão surgindo. No entanto, existe um pequeno problema: o jogo não permite grandes falhas. Se errarmos ao identificar uma distorção, não podemos avançar até acertarmos. Isto tira um pouco da sensação de liberdade nas decisões, tornando a experiência mais linear.

Outro aspeto interessante do jogo é o diário de Sam, que serve como uma espécie de guia ao longo da narrativa. Sempre que acontece algo novo, o diário é atualizado, permitindo ao jogador consultar as notas de Sam sobre as distorções cognitivas ou os detalhes de cada cliente. No entanto, a navegação no diário pode ser um pouco frustrante, já que o sistema de páginas às vezes falha, voltando ao início do livro quando tentamos recuar uma página. Além da terapia propriamente dita, existem momentos no jogo onde Sam precisa de se alimentar ou meditar. Nesses momentos, o jogador terá de realizar pequenos mini-jogos de mira com o rato, que, embora simples, não são muito bem explicados e acabam por destoar um pouco do resto do jogo, com um estilo mais cartoon.

Visualmente, Vampire Therapist não pretende ser revolucionário, mas os gráficos simples são eficazes no que se propõem. O jogo desenvolve-se em cenários pequenos e contidos, como a discoteca de Andromachos ou a sala de terapia, mas cada personagem é detalhado com cuidado. Sam, por exemplo, tem uma aparência claramente inspirada nos cowboys do Velho Oeste, com detalhes que nos fazem lembrar os jogos da série Red Dead Redemption, mas com um toque mais caricatural e próximo de banda desenhada. No entanto, os cenários em si não recebem a mesma atenção aos detalhes. A discoteca, por exemplo, tem um fundo que parece pintado à mão com aguarelas, e muitas das figuras secundárias, como o barman, têm poucos detalhes. Esta simplicidade ajuda a manter o foco nos diálogos e nos personagens principais, o que pode ser visto como uma escolha estilística interessante. Em termos de ambiente, Vampire Therapist consegue criar uma atmosfera única. A discoteca gótica onde grande parte da ação decorre é escura, com tons de preto e vermelho a dominarem o espaço, mas sem exageros que distraiam o jogador. Quando passamos para a sala de terapia de Andromachos, o ambiente muda ligeiramente. A sala é mais acolhedora e tranquila, com uma lareira e velas acesas que dão uma sensação de conforto, mesmo mantendo o tema sombrio do jogo. O detalhe da lareira acesa e o sofá vermelho onde os clientes se sentam criam um ambiente ideal para os momentos mais introspectivos das sessões de terapia, sem retirar o tom gótico do jogo. A nível de som, o jogo tem uma banda sonora discreta, mas eficaz. O menu principal tem uma melodia de violino que transmite calma, enquanto que dentro da discoteca podemos ouvir música ambiente que complementa bem a atmosfera gótica do espaço. Embora a música não seja um dos pontos centrais do jogo, ela está bem colocada nos momentos certos e adiciona imersão, principalmente nas cenas dentro da discoteca. Além disso, pequenos efeitos sonoros são usados para reforçar as respostas de Sam, criando uma sensação de leveza que combina bem com o estilo humorístico do jogo.

Vampire Therapist é uma experiência narrativa diferente, que mistura terapia e vampiros de forma criativa e cativante. A jogabilidade centrada na identificação de distorções cognitivas é inovadora, embora pudesse permitir mais liberdade ao jogador. Os gráficos, embora simples, conseguem transmitir personalidade aos personagens, e a banda sonora, embora discreta, complementa bem o ambiente. Apesar de algumas pequenas falhas, como o sistema de navegação no diário ou os mini-jogos pouco explicados, é um jogo interessante e refrescante para quem procura uma aventura narrativa fora do comum, com uma boa dose de humor e temas mais profundos.