Análise: Shift 87

Shift 87 apresenta-se como uma experiência intrigante que mistura elementos de horror com a dinâmica clássica de encontrar as diferenças, trazendo um conceito nostálgico dos jogos de observação dos anos 80 para o ambiente dos videojogos modernos. No entanto, apesar do seu potencial e premissa promissora, a execução deixa muito a desejar em vários aspetos fundamentais. No papel, a ideia de navegar por ambientes gerados proceduralmente, reportando anomalias, soa intrigante, mas na prática, a repetição e a falta de profundidade rapidamente desgastam a experiência. O jogador assume o papel de um trabalhador anónimo de uma corporação sem rosto, movendo-se por três ambientes principais: um andar de escritório, uma fábrica e uma estação de serviço. A missão é simples: percorrer os cenários repetidamente e identificar diferenças entre as várias passagens. Estas anomalias podem ser subtis, como mudanças numa peça de mobiliário, ou estranhas, como um corredor que antes estava seco tornar-se subitamente inundado. No entanto, esta simplicidade rapidamente se transforma num exercício de monotonia, à medida que os ciclos de jogo se repetem sem introduzir novas mecânicas ou variações significativas.

O conceito de anomalias como mudanças no ambiente deveria criar um sentido constante de inquietação. Pequenas alterações em objetos ou o aparecimento de figuras sinistras são ideias que poderiam manter os jogadores em alerta, mas Shift 87 raramente consegue capitalizar neste potencial. As anomalias variam entre o óbvio e o insignificante, e muitas vezes o jogador acaba por apontar mudanças apenas para tentar quebrar a monotonia, sem grande convicção de estar a fazer algo correto. A forma como o jogo lida com o fracasso, fazendo o jogador voltar ao início se reportar incorretamente, acaba por aumentar a frustração em vez de motivar a continuar.

Os ambientes em Shift 87, embora graficamente distintos, são desinteressantes na sua exploração contínua. O jogo falha em criar locais verdadeiramente memoráveis ou envolventes. A dependência da lanterna na estação de serviço, por exemplo, torna a tarefa de encontrar as diferenças mais difícil do que deveria ser, mas não de uma forma que contribua para a tensão. Em vez disso, o jogador pode encontrar-se a apontar o dispositivo de deteção de anomalias de forma aleatória, esperando que algo mude. Isso retira qualquer sensação de imersão ou prazer que poderia advir da exploração cuidadosa destes espaços.

Outro aspeto que falha é a narrativa. Shift 87 não se preocupa em oferecer uma história envolvente ou, pelo menos, uma explicação satisfatória sobre quem o jogador é ou porque está a realizar estas tarefas. Esta abordagem minimalista poderia ter resultado numa atmosfera de mistério, mas o jogo simplesmente não apresenta contexto suficiente para manter o interesse do jogador. Até mesmo o desfecho, após completar os turnos e identificar todas as anomalias, é anticlimático e frustrante. Em vez de uma conclusão coerente ou gratificante, o jogador é brindado com uma cutscene aleatória que parece apenas preparar terreno para uma possível sequela. O design procedural de Shift 87, que deveria trazer variedade à experiência, acaba por ser mais uma fonte de frustração. A ideia de múltiplas anomalias num único ciclo poderia ter criado camadas de complexidade e desafio, mas na prática, torna-se confuso e pouco claro qual das alterações o jogo quer que o jogador reporte. Este design desajeitado retira a fluidez da jogabilidade, tornando o processo de identificar anomalias menos intuitivo e, por vezes, aborrecido. Em vez de deixar o jogador imerso no processo de investigação, Shift 87 acaba por quebrar a imersão com estas falhas mecânicas.

Shift 87 tinha o potencial de ser uma experiência de horror e observação envolvente, mas falha em várias áreas-chave. A repetição, a falta de profundidade narrativa e a execução insatisfatória da mecânica principal de encontrar as diferenças tornam o jogo numa experiência mediana e, por vezes, frustrante. Embora existam momentos de tensão bem conseguidos, estes são raros e não compensam a falta de coesão e motivação que permeia o resto da experiência. Shift 87 é um jogo que poderia ter oferecido muito mais, mas que, no final, deixa o jogador desapontado com o que poderia ter sido.

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