Antevisão: Stormgate

Introdução

Stormgate é um dos jogos de estratégia em tempo real mais aguardados dos últimos tempos, e por boas razões. Anunciado em 2022 e desenvolvido pela Frost Giant Studios, um estúdio composto por antigos membros da Blizzard que trabalharam em títulos icónicos como Warcraft 3 e StarCraft II, o jogo prometia trazer uma lufada de ar fresco ao género RTS, que tem estado um pouco estagnado nos últimos anos. A campanha no Kickstarter em 2023, que arrecadou mais de 2 milhões de dólares, ajudou a aumentar ainda mais as expectativas. Agora, em 2024, Stormgate foi finalmente lançado em Acesso Antecipado, e já temos uma ideia clara do que esperar do jogo, tanto em termos de campanha para um jogador como do seu multijogador online. No entanto, apesar das suas promessas iniciais, Stormgate enfrenta uma tarefa árdua. O género RTS é dominado por títulos clássicos que ainda hoje têm grandes comunidades de jogadores, como StarCraft II e Age of Empires II. Criar algo novo e inovador sem perder o público veterano do género é um desafio difícil, e Stormgate tenta agradar a uma variedade de públicos ao mesmo tempo, o que por vezes pode resultar num produto que parece disperso. Nesta análise, vamos explorar os pontos fortes e fracos de Stormgate, desde a jogabilidade até ao grafismo e som, para entender se este novo título está à altura das suas influências.

Jogabilidade

A jogabilidade de Stormgate segue uma fórmula familiar para os veteranos do género RTS. Tal como em StarCraft II, o jogo é focado na construção de bases, recolha de recursos e criação de exércitos para derrotar o adversário. Existem três facções principais: os Vanguard, que representam a humanidade com unidades versáteis e poder de fogo direto, a Horda Infernal, que usa unidades demoníacas e aproveita o controlo territorial para aumentar o seu poder, e a Armada Celestial, uma facção com capacidades defensivas e de mobilidade superiores. Cada facção tem um estilo de jogo distinto, o que incentiva os jogadores a explorarem diferentes abordagens estratégicas.

Contudo, uma das críticas iniciais à jogabilidade de Stormgate é a sua complexidade. Embora as mecânicas básicas sejam fáceis de entender, o jogo apresenta muitas camadas de gestão de recursos e território que podem ser intimidantes para novos jogadores. Para quem está habituado a jogos de estratégia mais simples ou rápidos, Stormgate pode parecer demasiado denso, e o seu ritmo de jogo relativamente lento também pode afastar alguns fãs de RTS que procuram uma experiência mais dinâmica. Por outro lado, jogadores experientes no género vão encontrar uma profundidade considerável nas opções estratégicas, especialmente nas batalhas multijogador, onde a competição pelo controlo de recursos e pontos-chave no mapa é crucial. Uma outra questão levantada pelos jogadores é a falta de diversidade na campanha. No estado atual de Acesso Antecipado, a campanha só cobre a facção Vanguard, o que limita a experiência tutorial para quem quer aprender as mecânicas das outras facções antes de se aventurar no modo multijogador. Espera-se que o conteúdo adicional, previsto para ser lançado nos próximos meses, resolva esta limitação, mas por agora, o foco na facção humana pode tornar a experiência repetitiva.

Mundo e história

A história de Stormgate situa-se num futuro em que a humanidade está em conflito com a Horda Infernal, um exército de demónios que tem devastado o planeta durante as últimas duas décadas. A protagonista da campanha para um jogador é Amara, uma comandante da facção Vanguard que, ao longo das seis missões disponíveis no Acesso Antecipado, busca um artefacto místico capaz de derrotar os seus inimigos. A premissa é simples e direta, mas infelizmente, não traz muita novidade ao género. Os temas explorados em Stormgate — invasões demoníacas, humanos militarizados a lutar pela sobrevivência, artefactos poderosos com consequências imprevistas — já foram vistos em inúmeros outros jogos, nomeadamente nas séries StarCraft e Warcraft. A narrativa, apesar de bem executada em termos de vozes e animações, carece de profundidade e originalidade. Amara é uma personagem que se encaixa facilmente no arquétipo da heroína militar, determinada e com um passado sombrio, mas a sua caracterização acaba por ser superficial, sem grandes momentos de desenvolvimento ao longo da campanha. Os personagens secundários também não têm muito destaque, servindo mais como suporte do que como figuras centrais à história.

O mundo em si, apesar de bem construído do ponto de vista visual e técnico, também não apresenta grandes inovações. A Horda Infernal poderia ser facilmente trocada por qualquer outra força invasora demoníaca que já vimos em tantos outros jogos, e o enredo central segue uma linha bastante previsível. Isto não significa que os jogadores que gostem deste tipo de história não vão encontrar algo de valor aqui, mas aqueles que procuram uma narrativa mais envolvente e única podem ficar desapontados.

Grafismo

Um dos aspetos mais impressionantes de Stormgate é, sem dúvida, o seu grafismo. A Frost Giant Studios fez um excelente trabalho ao criar um mundo visualmente apelativo e com um nível de detalhe impressionante. Os modelos das unidades e dos edifícios são detalhados e bem animados, e os efeitos visuais durante as batalhas, como explosões e habilidades especiais, são espetaculares. O design das facções também se destaca, com cada uma delas a ter uma estética visual distinta. Os Vanguard têm um visual tecnológico e futurista, com armaduras pesadas e veículos mecanizados, enquanto a Horda Infernal aposta num estilo mais demoníaco, com criaturas grotescas e arquitetura infernal. A Armada Celestial, por sua vez, tem um design mais limpo e celestial, com construções e unidades que parecem feitas de energia pura. Os cenários das missões são variados e bem desenhados, com um bom equilíbrio entre ambientes naturais e áreas urbanas destruídas pelo conflito. A direção de arte é claramente inspirada pelos jogos clássicos da Blizzard, com toques que remetem a StarCraft e Warcraft, mas também há um esforço para criar algo único. As animações das cinemáticas são fluídas e ajudam a contar a história de forma imersiva, mesmo que o enredo em si não seja o mais inovador.

Som

O som em Stormgate é outro ponto alto da experiência. A banda sonora do jogo complementa bem a atmosfera do mundo em guerra, com composições épicas que acompanham tanto os momentos mais calmos da construção de bases como os intensos combates. As faixas musicais não se destacam pela originalidade, mas cumprem bem o seu papel de criar uma atmosfera adequada ao que está a acontecer no ecrã. Os efeitos sonoros das unidades e das batalhas são igualmente bem conseguidos. Cada tiro de laser, explosão ou impacto de habilidade tem um peso sonoro convincente, ajudando a dar vida às batalhas em larga escala que são o foco do jogo. As vozes das unidades são claras e distintas, e os diálogos durante as missões são bem interpretados, com um elenco de atores competentes. No entanto, tal como acontece com a narrativa em geral, não há nada no design de som de Stormgate que se destaque como inovador. Os jogadores que já passaram muitas horas em jogos como StarCraft II vão sentir uma certa familiaridade no design de som, o que pode ser positivo para alguns, mas uma oportunidade perdida para outros.

Conclusão

Stormgate é, sem dúvida, um jogo promissor no género RTS, mas que ainda está numa fase inicial de desenvolvimento, com muito espaço para crescimento e melhorias. A jogabilidade é sólida e oferece uma profundidade estratégica que será apreciada pelos fãs do género, mas também pode parecer excessivamente complexa para novos jogadores. A história e o mundo do jogo, embora bem apresentados em termos técnicos, não trazem grandes novidades em relação a outros títulos de estratégia em tempo real, especialmente aqueles da Blizzard, o que pode fazer com que alguns jogadores sintam que estão a jogar uma versão “replay” de experiências passadas. Apesar das suas falhas, o potencial de Stormgate não deve ser ignorado. A Frost Giant Studios demonstrou uma grande competência na criação de um jogo visualmente impressionante e com uma jogabilidade que, com os ajustes certos, pode tornar-se num novo pilar do género. O período de Acesso Antecipado será crucial para ouvir o feedback da comunidade e ajustar o jogo para corresponder às expectativas tanto dos veteranos como dos novos jogadores. Se o estúdio conseguir resolver as questões levantadas na campanha e continuar a expandir o conteúdo, Stormgate tem o potencial para ser um título RTS relevante para os próximos anos.

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