Introdução
Anima Flux tenta fazer algo diferente no mundo dos jogos Metroidvania ao trazer uma experiência cooperativa num género tradicionalmente associado à exploração a solo. Desde o início, fica claro que este não é um jogo convencional, pois o foco está em dois protagonistas com habilidades complementares. Essa dinâmica, rara no género, é o que mais destaca Anima Flux, convidando-nos a explorar um mundo em ruínas com um amigo. No entanto, mesmo com um conceito promissor e ideias bem definidas, a execução acaba por tropeçar em alguns aspetos. Embora ofereça uma experiência que mistura exploração com ação e momentos de cooperação, há elementos que comprometem o fluxo geral do jogo. Nesta análise, vamos explorar as forças e fraquezas de Anima Flux para perceber se é capaz de se destacar num género com clássicos bem estabelecidos.
Jogabilidade
A jogabilidade de Anima Flux gira em torno da cooperação entre duas personagens, cada uma com habilidades únicas e complementares. Uma utiliza um arco, ideal para ataques à distância, enquanto a outra empunha uma espada, eficaz em combates próximos. Esta mecânica é interessante, especialmente no modo cooperativo, onde a sinergia entre os dois jogadores é essencial. A alternância de personagens torna-se igualmente importante em partidas a solo, onde o jogador é constantemente incentivado a trocar entre ambos para resolver quebra-cabeças e derrotar inimigos. A profundidade de jogabilidade é, sem dúvida, um dos pontos altos de Anima Flux, proporcionando uma experiência que recompensa o planeamento estratégico e a adaptação constante. No entanto, a progressão das habilidades é lenta, com movimentos essenciais como o salto duplo e a esquiva a demorarem muito a serem desbloqueados. Este atraso pode tornar os primeiros momentos do jogo frustrantes, pois o jogador é forçado a enfrentar desafios sem as ferramentas adequadas, prejudicando a fluidez da experiência inicial.
Mundo e História
Anima Flux apresenta-nos um cenário distópico, num futuro sombrio onde o mundo foi devastado por mutantes e a humanidade está à beira da extinção. A história coloca-nos na pele dos dois últimos defensores da humanidade, numa missão para proteger a última fortaleza humana da destruição. O enredo, embora simples, consegue criar uma atmosfera de desolação e sobrevivência que encaixa bem com a jogabilidade e a estética do jogo. Cada personagem tem o seu papel específico e, ao longo da narrativa, as interações entre eles ajudam a construir uma conexão com o jogador. A complementaridade das suas habilidades é explicada no contexto da história, o que adiciona uma camada extra de imersão. Contudo, o enredo não se desenvolve tanto quanto seria desejável. Ao fim de algumas horas de jogo, o jogador começa a perceber que a narrativa se limita a sustentar a ação, sem oferecer surpresas ou profundidade significativa. Mesmo assim, a temática de sobrevivência e a ambientação conseguem manter o jogador envolvido o suficiente para continuar a explorar.
Grafismo
Visualmente, Anima Flux combina futurismo e escuridão para criar uma estética única e envolvente. O ambiente é caracterizado por corredores metálicos, luzes neon e sombras densas, proporcionando uma sensação de decadência que reforça a narrativa distópica. As diferentes áreas do jogo, como os setores industriais e as zonas habitacionais, têm uma paleta de cores específica que as distingue, como o verde nas zonas de esgoto e o azul nas áreas residenciais. Embora a primeira impressão visual seja forte, a falta de variação nos cenários torna-se evidente com o avançar do jogo. As áreas começam a parecer repetitivas e, eventualmente, o design visual perde o seu impacto inicial. A ausência de uma maior diversidade no grafismo prejudica a sensação de progressão e reduz o prazer da exploração. Ainda assim, é evidente o cuidado que a equipa teve na criação dos detalhes e na estética geral, que se mantém consistente e adequada ao tema do jogo.
Som
A banda sonora de Anima Flux é subtil mas eficaz, acompanhando bem o tom sombrio e o ritmo do jogo. A música ajuda a construir a atmosfera distópica sem se tornar intrusiva, permitindo ao jogador concentrar-se na exploração e no combate. Os efeitos sonoros estão bem trabalhados, desde o som dos ataques à distância do arqueiro até aos golpes intensos da espada, o que contribui para uma experiência de combate mais imersiva. As ambientações sonoras também desempenham um papel importante, com sons de fundo que reforçam o cenário apocalíptico, como o eco de passos em corredores vazios ou o zumbido de máquinas abandonadas. No entanto, tal como o grafismo, a trilha sonora e os efeitos acabam por sofrer com a repetição, não apresentando grande variedade ao longo do jogo. Uma maior diversidade musical e mais variações nos efeitos sonoros teriam enriquecido a experiência auditiva e ajudado a manter o jogador envolvido.
Conclusão
Anima Flux é uma tentativa interessante de trazer uma nova perspetiva ao género Metroidvania, ao introduzir um modo cooperativo que desafia as convenções estabelecidas. A ideia de explorar um mundo desolado com duas personagens de habilidades complementares é refrescante, e o conceito de cooperação traz uma nova camada de estratégia que certamente agradará a quem procura algo diferente neste tipo de jogo. No entanto, o potencial de Anima Flux acaba por não ser totalmente realizado. A repetição visual e sonora, aliada a uma progressão de habilidades lenta e por vezes frustrante, limitam a experiência e prejudicam o fluxo da jogabilidade. Apesar dos tropeços, Anima Flux ainda é uma opção interessante para fãs do género que queiram experimentar algo novo e cooperativo. No entanto, aqueles que procuram uma experiência completamente polida e envolvente do início ao fim podem sentir-se desiludidos. Anima Flux tem o seu valor e, com algumas melhorias, poderia ser uma adição marcante ao género, mas, tal como está, oferece uma jornada que nem sempre consegue manter o ritmo e o interesse do jogador.