Introdução
Necro Story é o mais recente título do estúdio indie belga Rablo Games, conhecido pelo seu lançamento anterior, Healer’s Quest. Enquanto o primeiro título destacou-se pelo humor inteligente e pela interação entre os personagens, Necro Story tenta seguir um caminho semelhante, mas introduz um sistema de combate mais dinâmico, desta vez centrado num necromante que, após um longo sono, desperta para um mundo devastado por guerras e pela destruição total da população humana. A premissa é interessante e oferece o cenário ideal para um jogo que se desdobra entre a Terra e o submundo, explorando reinos míticos como Valhalla, Purgatório, Céu e Inferno. Embora o jogo tenha pontos altos, especialmente na jogabilidade e no humor que se destaca na segunda metade, há também problemas técnicos e de ritmo que comprometem a experiência geral.
Jogabilidade
O sistema de combate em Necro Story é um dos aspetos mais envolventes do jogo. Ao contrário do que muitos esperariam, a mecânica principal é de um auto-battler, onde o jogador controla o necromante, enquanto até oito monstros capturados ou invocados enfrentam os inimigos de forma independente. Para manter o jogador ativo, o necromante pode lançar uma série de feitiços, disponíveis numa base de cooldown. Estes feitiços estão divididos em cinco categorias: aflição, escuridão, roubo de vida, invocação e pactos sombrios, e os jogadores podem personalizar os feitiços que levam para cada combate, equipando até seis deles. A flexibilidade é elevada, permitindo aos jogadores misturar tipos de magia ou focar-se em poucos para obter feitiços mais poderosos. Além disso, cada feitiço tem uma árvore de habilidades específica, o que adiciona uma camada de progressão e personalização que torna os combates ainda mais interessantes.
Apesar de ser um auto-battler, Necro Story proporciona uma boa dose de controle, pois os jogadores podem ajustar a frequência com que os monstros usam habilidades ou lançam feitiços. Além disso, a captura de espíritos inimigos, que se tornam membros da equipa, oferece uma motivação extra para colecionar uma variedade de monstros e experimentar diferentes composições de equipa. Os monstros podem ser evoluídos e equipados com itens para aumentar as suas estatísticas, enquanto o necromante também pode usar cajados para melhorar as suas habilidades. Mesmo com essa variedade, o jogo falha em evitar a monotonia nas batalhas, que podem tornar-se repetitivas com o tempo, especialmente nas áreas iniciais do jogo, onde há uma falta de humor e interações que tornariam a experiência mais leve.
Mundo e história
A história de Necro Story começa com uma premissa promissora: após dormir durante anos, o necromante desperta para um mundo sem humanos, devastado por batalhas que varreram a população da face da Terra. O objetivo principal do jogador é restaurar a humanidade com a ajuda do espírito brincalhão Vivi, que acompanha o necromante durante a sua jornada. A narrativa desenrola-se entre a Terra e várias regiões do submundo, o que permite explorar uma variedade de locais e interagir com seres como vikings, valquírias, anjos e demónios na segunda metade do jogo. Embora a trama seja simples, o ambiente e os diferentes reinos são suficientes para manter o interesse do jogador.
Um dos aspetos mais intrigantes da exploração são as pequenas pistas e tesouros escondidos pelo mundo. Sinais indicam caminhos alternativos em bifurcações, levando o jogador a descobrir tesouros ocultos. Esses sinais e pistas são bem colocados, sem serem demasiado difíceis de interpretar, o que incentiva a exploração. No entanto, a falta de personagens humanos e de diálogos humorísticos nas primeiras horas torna o início do jogo um pouco lento e até aborrecido. É apenas na segunda metade, ao entrar nas várias regiões do submundo, que o humor característico de Rablo Games brilha, com diálogos espirituosos entre os novos personagens que adicionam muito ao charme da história e do universo de Necro Story.
Grafismo
O estilo visual de Necro Story é um dos elementos mais característicos do jogo. Com uma estética que parece pintada com um aerógrafo, os gráficos têm um toque distinto que diferencia o jogo de muitos outros no mercado indie. Os monstros e personagens, embora não sejam extremamente originais, apresentam-se de forma simpática e variada, misturando criaturas míticas com objetos antropomorfizados e animais. No entanto, os designs, embora agradáveis, não se destacam de forma particularmente memorável.
Em termos de animação, os movimentos são bem executados, e as transições entre o mundo exterior e as áreas de masmorra são fluídas. Contudo, o jogo apresenta alguns problemas técnicos que comprometem a experiência. Em batalhas com um grande número de inimigos, especialmente onde estes invocam armaduras giratórias de rochas, o jogo sofre de desaceleração significativa, dificultando a captura dos espíritos que flutuam para fora do campo de batalha. Além disso, o necromante tem alguns problemas de recorte no mapa, e há pequenas falhas visuais ocasionais, algumas das quais interferem na leitura de textos importantes, prejudicando a imersão e fluidez do jogo.
Som
A banda sonora de Necro Story cumpre a sua função de acompanhar as diferentes áreas e atmosferas do jogo, mas falta-lhe impacto para ser memorável. Embora as músicas se ajustem bem ao ambiente, não há faixas que se destaquem ao ponto de serem facilmente lembradas quando o jogo termina. Mesmo assim, a música é agradável e complementa a jogabilidade sem distrair o jogador.
Em relação aos efeitos sonoros, estes são competentes, dando um bom feedback nas batalhas e na interação com o ambiente. Contudo, assim como o grafismo, os efeitos e a música de fundo carecem de um toque mais marcante que os torne icónicos. Tendo em conta o estilo do jogo, uma banda sonora mais distinta poderia ter elevado a experiência geral e ajudado a criar uma atmosfera mais memorável, especialmente nas áreas do submundo, onde o ambiente sombrio e místico poderia ser reforçado com sons mais imersivos.
Conclusão
Necro Story é um jogo que, apesar das suas falhas, proporciona uma experiência de jogo interessante, especialmente para os fãs de RPGs de ação com elementos de auto-battler e captura de monstros. A sua segunda metade, com humor e interações mais envolventes, consegue elevar a narrativa e dar um toque especial à história. O sistema de batalha rápido e dinâmico é um dos grandes atrativos, oferecendo um bom equilíbrio entre estratégia e ação, embora a falta de profundidade nos combates e a repetitividade possam tornar-se cansativas para alguns jogadores.
Infelizmente, o jogo é prejudicado por uma série de problemas técnicos, desde desacelerações em batalhas intensas até pequenos bugs visuais que afetam a imersão. Além disso, a ausência de diálogos humorísticos na primeira metade, aliada ao bloqueio do melhor final por uma escolha feita sem aviso, acaba por frustrar jogadores que esperam uma experiência completa sem surpresas indesejadas. Com menos de dez horas de duração, Necro Story é bem ritmado para o tipo de narrativa que se propõe a contar e, mesmo com algumas falhas, consegue ser um jogo agradável para quem procura uma aventura curta com toques de humor e fantasia.
