Introdução
Selfloss é um jogo independente que se destaca pela sua premissa emocional e pela atmosfera melancólica, tendo por base o folclore da europa de leste e um mundo repleto de criaturas aquáticas e misticismo. O jogador assume o papel de Kazimir, um idoso que vive num mundo onde a adoração de baleias e outros seres aquáticos é parte integrante da cultura. A história aborda temas profundos como a perda e o luto, explorando as dificuldades de seguir em frente após a morte de um ente querido. Com uma jogabilidade variada e um estilo artístico único, Selfloss promete envolver os jogadores numa narrativa misteriosa, onde o protagonista ajuda outros, mas também procura a sua própria redenção.
Jogabilidade
A jogabilidade de Selfloss tem ideias interessantes, mas a execução técnica deixa um pouco a desejar. O jogo mistura combate e exploração, com o protagonista a utilizar um cajado para enfraquecer os inimigos através da luz, numa mecânica que faz lembrar a lanterna de Alan Wake. No entanto, a imprecisão dos controlos é um problema constante. Os comandos são muitas vezes desajeitados e pouco responsivos, o que afeta negativamente a experiência de combate. Kazimir também controla um barco em várias secções do jogo, mas aqui os problemas de precisão tornam-se ainda mais evidentes, especialmente quando é necessário empurrar objetos ou combater inimigos. O combate contra os chefes, espalhados pelos cinco capítulos do jogo, é afetado por estes problemas técnicos. Em alguns momentos, Kazimir fica preso em obstáculos ou inimigos, resultando em mortes frustrantes que nada têm a ver com a dificuldade real dos combates. Embora o sistema de evolução do cajado traga alguma profundidade à jogabilidade, a falta de polimento nos controlos compromete aquilo que poderia ser uma experiência mais envolvente e fluida.
Mundo e história
O mundo de Selfloss é intrigante e misterioso, com ilhas repletas de segredos e puzzles que o jogador deve resolver para progredir. Cada ilha tem os seus próprios bloqueios e mecanismos, que exigem atenção ao ambiente e exploração para serem resolvidos. Os puzzles vão aumentando de dificuldade à medida que o jogo avança, e, embora alguns sejam intuitivos, outros obrigam a uma observação mais atenta do mundo em redor. Esta estrutura de mundo aberto, com pequenas ilhas interligadas, cria uma sensação de progressão interessante, apesar de repetitiva em alguns momentos. A narrativa é um dos pontos mais fortes de Selfloss, com Kazimir a realizar um ritual de cura em várias criaturas ao longo da sua jornada. A história é contada através de diálogos e textos, com os pergaminhos que se encontram pelo caminho a revelar mais sobre o mundo e a cultura aquática em que se insere. No entanto, os problemas técnicos afetam também a narrativa. Há várias falhas no sistema de textos, com diálogos a desaparecerem antes de serem lidos ou a ficarem presos no ecrã sem forma de os fechar. Estes problemas afetam a imersão, dificultando o acompanhamento da história e das interações com os outros personagens.
Grafismo
O estilo artístico de Selfloss é um dos seus pontos mais cativantes. O jogo adota uma estética que faz lembrar títulos como Inside, com uma paleta de cores sombrias e um visual minimalista, mas ainda assim muito detalhado. As paisagens e os cenários transmitem uma sensação de solidão e tristeza que complementa a temática do jogo. Cada ilha tem a sua própria identidade visual, desde zonas mais iluminadas a áreas submersas e cobertas de nevoeiro, o que contribui para a atmosfera misteriosa do mundo. A visão isométrica, no entanto, cria alguns desafios, especialmente nos combates, onde é difícil direcionar corretamente os ataques com o cajado. Este estilo de câmara limita a perceção de profundidade em certos momentos, tornando a jogabilidade menos precisa e por vezes frustrante. Apesar disso, o grafismo é, sem dúvida, um dos elementos que mais ajuda a criar a imersão necessária para acompanhar a jornada emocional de Kazimir.
Som
A banda sonora de Selfloss é outro ponto alto. A música ambiental e os efeitos sonoros complementam perfeitamente o ambiente melancólico do jogo. A trilha sonora é subtil, com temas que evocam tristeza e reflexão, reforçando o tom introspectivo da narrativa. Não há momentos em que a música se sobreponha à jogabilidade ou aos diálogos, mas antes cria uma camada adicional de imersão que envolve o jogador de forma quase impercetível. Os sons do ambiente aquático, como o som das ondas e dos peixes espirituais que habitam o mundo de Kazimir, ajudam a dar vida ao universo de Selfloss. Apesar de o jogo ter alguns problemas técnicos, a qualidade do som não parece ser afetada, proporcionando uma experiência auditiva agradável e consistente ao longo da aventura.
Conclusão
Selfloss é um jogo que tenta abordar temas profundos através de uma jogabilidade e uma narrativa envolventes, mas que infelizmente falha em alguns aspetos técnicos cruciais. A história de Kazimir, o folclore eslavo e a luta contra o luto e a perda são temas que certamente tocam o jogador, mas a imprecisão dos comandos e os problemas com os textos afetam negativamente a experiência. O grafismo e a banda sonora são, sem dúvida, os pontos mais fortes do jogo, criando uma atmosfera rica e emocional que complementa bem a narrativa.
Embora Selfloss tenha um conceito interessante e uma proposta visual atraente, acaba por ser prejudicado por uma execução pouco polida. Ainda assim, para os jogadores que conseguem ultrapassar os problemas técnicos, há uma história comovente e um mundo intrigante para explorar.