The Legend of Heroes: Trails through Daybreak II é a mais recente entrada na longa saga Trails, uma das séries de JRPGs mais ricas em termos de narrativa e desenvolvimento de personagens. Como sequela direta de Trails through Daybreak, este jogo continua a acompanhar a história de Van Arkride e da sua equipa, enquanto enfrentam novos desafios e mistérios num mundo repleto de intriga e elementos sobrenaturais. No entanto, ao contrário de alguns dos melhores jogos da série, Trails through Daybreak II tropeça em vários aspetos fundamentais, tornando-se um título que, apesar das melhorias na jogabilidade, tem dificuldade em justificar o seu extenso tempo de duração.
Jogabilidade
Se houver um aspeto onde Trails through Daybreak II realmente brilha, é na jogabilidade. A Falcom fez um excelente trabalho ao refinar o sistema de combate do primeiro jogo, adicionando novas mecânicas que tornam as batalhas mais dinâmicas e interessantes. Uma das maiores melhorias é a introdução dos Cross Charges, que permitem mudar de personagem de forma imediata após uma esquiva perfeita, aumentando o poder de ataque do novo lutador. Esta adição dá um novo ritmo às batalhas, incentivando um maior aproveitamento dos diferentes estilos de combate das personagens. As batalhas por turnos também foram ajustadas, nomeadamente com uma restrição no uso de S-Crafts. No primeiro jogo, era demasiado fácil abusar destas habilidades para eliminar rapidamente os inimigos, mas agora existe um temporizador de recarga que obriga a uma maior variedade tática. Também foi introduzido o EX Chains, um sistema de ataques combinados que enfatiza o posicionamento e as ligações entre personagens. Estas mudanças tornam o combate mais envolvente e desafiante, sem perder a fluidez que caracteriza a série.

Mundo e história
Apesar das melhorias na jogabilidade, a narrativa de Trails through Daybreak II é um dos seus pontos mais fracos. A história segue Van Arkride enquanto tenta limpar o seu nome depois de um assassino em série começar a usar a forma do seu Grendel. Embora a premissa seja promissora, o jogo tem dificuldades em manter um ritmo consistente, frequentemente desviando-se da trama principal para explorar conflitos pessoais das personagens. Embora isto não seja um problema por si só, a forma como estas subtramas são inseridas pode tornar a experiência frustrante, especialmente quando momentos importantes parecem ocorrer de forma forçada e sem uma transição natural.
Outro problema é a mecânica dos Dead Ends, que permite que certos eventos sejam revertidos no tempo pela personagem Agnes. Embora isto pudesse ser uma ferramenta narrativa interessante, acaba por retirar toda a tensão da história. Quando um momento de perigo ocorre, a expetativa de um regresso no tempo é suficiente para impedir qualquer envolvimento emocional, uma vez que a resolução é previsível e sem consequências reais. Ainda assim, há momentos narrativos que se destacam, especialmente algumas cenas protagonizadas por personagens favoritas dos fãs, como Renne, Swin e Nadia, cujas subtramas conseguem trazer algum peso emocional ao jogo.
Grafismo
Visualmente, Trails through Daybreak II é o jogo mais impressionante da série até à data. A Falcom conseguiu melhorar consideravelmente os modelos das personagens e os efeitos visuais dos ataques especiais, criando animações de S-Crafts verdadeiramente espetaculares. Cada personagem tem uma identidade visual bem definida, e os ataques especiais conseguem capturar tanto a intensidade do combate como a personalidade das personagens. Apesar das melhorias gráficas, o jogo ainda sofre de alguma reutilização de assets, um problema recorrente na série. Embora isto não seja incomum em jogos com orçamentos mais modestos, é algo que se torna notório quando cenários inteiros são repetidos sem grandes alterações. Ainda assim, o design das novas áreas e o detalhe das animações fazem com que seja, de longe, a entrada mais polida da saga em termos visuais.

Som
A banda sonora de Trails through Daybreak II é competente, mas não se destaca tanto como em alguns dos melhores títulos da Falcom. Existem algumas faixas memoráveis, especialmente nos momentos mais intensos da narrativa e durante as batalhas, mas no geral, a banda sonora não atinge os mesmos patamares de outros jogos da série. O trabalho de dobragem, por outro lado, é sólido e consegue dar vida às personagens, ajudando a criar alguma ligação emocional mesmo quando a narrativa tropeça. As interações entre as personagens, especialmente nos momentos mais leves, beneficiam imenso das performances dos atores, tornando o elenco mais carismático e cativante.
Conclusão
The Legend of Heroes: Trails through Daybreak II é um jogo que divide opiniões. Por um lado, oferece a melhor jogabilidade da série até agora, com combates mais dinâmicos e um elenco diversificado de personagens jogáveis. Por outro, a história é inconsistente, repleta de momentos de enchimento que quebram o ritmo e impedem que o enredo principal se desenvolva de forma satisfatória. A mecânica dos Dead Ends também contribui para a falta de envolvimento emocional, retirando qualquer sentimento de perigo ou consequência. Visualmente, o jogo é um grande passo em frente para a série, com animações detalhadas e um sistema de combate mais fluido e envolvente. A banda sonora, embora competente, não se destaca particularmente, mas a boa qualidade da dobragem ajuda a criar uma ligação maior com as personagens.
No final, Trails through Daybreak II é um jogo essencial para os fãs dedicados da série, pois estabelece eventos que serão explorados em futuros títulos. No entanto, é difícil de recomendar a quem procura um JRPG com uma narrativa envolvente e bem estruturada. Se conseguires ultrapassar os problemas do enredo e fores paciente com o ritmo lento, podes encontrar aqui uma experiência sólida. Caso contrário, este pode não ser o melhor ponto de entrada na série.