Análise: The Stone of Madness

The Stone of Madness é um jogo que se destaca pelo seu conceito e abordagem ao género de furtividade. Desenvolvido pela The Game Kitchen, o estúdio responsável por Blasphemous, este título representa uma mudança significativa em relação às obras anteriores da equipa. Em vez do estilo metroidvania e soulslike pelo qual são conhecidos, decidiram apostar num jogo isométrico de furtividade em tempo real. O jogo decorre num mosteiro espanhol do século XVIII, onde os jogadores controlam um grupo de prisioneiros que tentam fugir das suas celas e desvendar um mistério mais profundo. O conceito de The Stone of Madness baseia-se num mito medieval que sugeria que certas doenças mentais eram causadas por uma pedra no cérebro, que podia ser removida para curar o paciente. Esta ideia é explorada dentro da narrativa do jogo e contribui para a sua identidade visual e temática. Com uma direção artística inspirada nas obras de Francisco de Goya e um estilo de jogo que combina estratégia com a tensão da furtividade, The Stone of Madness é uma proposta intrigante que promete oferecer uma experiência desafiante e envolvente.

Jogabilidade

A jogabilidade de The Stone of Madness baseia-se num sistema de furtividade em tempo real, onde os jogadores têm de coordenar as ações de três personagens ao mesmo tempo. Cada personagem tem habilidades únicas e fobias que influenciam a forma como interagem com o ambiente e com os outros. Por exemplo, Alfredo, o protagonista, recusa-se a realizar ações que considera imorais, enquanto Leonora tem medo de fogo, o que pode limitar as suas opções durante a fuga. O jogo divide-se em duas fases principais. Durante o dia, os jogadores exploram o mosteiro, evitam guardas, resolvem quebra-cabeças e tentam avançar na sua fuga. Durante a noite, podem recuperar energia, vender itens e preparar-se para o dia seguinte. Esta estrutura adiciona uma camada de gestão de recursos à jogabilidade, tornando cada decisão importante para o progresso. Apesar de a jogabilidade ser inovadora e oferecer um desafio interessante, existem algumas limitações que podem frustrar os jogadores. Fugir dos guardas, por exemplo, pode ser mais difícil do que deveria, pois os inimigos são rápidos e algumas interações com o ambiente não funcionam como esperado. O sistema de controlo também tem uma curva de aprendizagem acentuada, especialmente com rato e teclado, exigindo que os jogadores se adaptem antes de conseguirem jogar com fluidez.

Mundo e história

O jogo decorre num mosteiro da Inquisição Espanhola, nos Pireneus, por volta de 1799. O protagonista, Alfredo Martín, é um padre injustamente encarcerado por tentar expor a corrupção dentro do mosteiro. Ao longo da sua tentativa de fuga, ele junta-se a outros prisioneiros, cada um com a sua história e traumas, que vão influenciar a forma como interagem com o mundo e entre si.

A narrativa de The Stone of Madness é bem trabalhada e equilibrada entre elementos sérios e humor negro. A temática de doença mental e charlatanismo médico do século XVIII é abordada de forma intrigante, adicionando camadas de mistério e um leve toque sobrenatural ao jogo. Embora o enredo principal seja a fuga, existem detalhes espalhados pelo ambiente e pelo diálogo que enriquecem a experiência e incentivam a exploração. O jogo consegue criar uma atmosfera imersiva, fazendo com que o mosteiro se sinta vivo e ameaçador. As interações entre as personagens dão profundidade à história e tornam cada tentativa de fuga única, pois as escolhas do jogador podem influenciar os eventos futuros.

Grafismo

A direção artística de The Stone of Madness é um dos seus pontos mais fortes. Inspirado nas pinturas de Francisco de Goya, o jogo tem um estilo visual distinto que combina elementos sombrios com um certo exagero caricatural. A influência de animações clássicas, como as de Don Bluth, também é notória, especialmente nas cenas animadas mais detalhadas. O jogo apresenta um contraste interessante entre realismo e exagero. Os ambientes do mosteiro são detalhados e atmosfericos, capturando bem a sensação de um espaço antigo e opressor. Ao mesmo tempo, os personagens têm expressões exageradas e traços distintos que os tornam memoráveis. A mistura entre a seriedade do cenário e os elementos ligeiramente cómicos do design das personagens contribui para o tom único do jogo. A anímação também é fluida e expressiva, tornando cada interação mais envolvente. Os detalhes visuais ajudam a contar a história e reforçam a temática do jogo, criando uma experiência visualmente rica e envolvente.

Som

A banda sonora de The Stone of Madness é bem integrada na experiência do jogo, oferecendo um equilíbrio entre imersão e funcionalidade. As músicas são compostas para criar um ambiente tenso e misterioso, sem se tornarem demasiado intrusivas. O ritmo geralmente calmo da banda sonora ajuda a manter a concentração na furtividade e na gestão de personagens, permitindo que o jogador se foque na ação sem distrações desnecessárias. Os efeitos sonoros são bem executados e desempenham um papel importante na jogabilidade. O som dos passos dos guardas, os ecos das vozes nos corredores e os ruídos ambientes ajudam a criar uma sensação de imersão e perigo constante. Cada som contribui para a sensação de estar realmente dentro do mosteiro e reforça a necessidade de cautela e planeamento nas ações do jogador.

Conclusão

The Stone of Madness é um jogo com uma identidade forte e uma abordagem inovadora ao género de furtividade. A combinação de jogabilidade em tempo real, gestão de personagens e um mundo rico em detalhe torna-o numa experiência envolvente e desafiante. A direção artística é memorável, a história é intrigante e a banda sonora complementa bem a atmosfera do jogo. No entanto, o jogo não está isento de falhas. Os controlos têm uma curva de aprendizagem acentuada, e a dificuldade de escapar dos guardas pode tornar-se frustrante. Apesar disso, os seus pontos fortes superam os problemas, tornando-o numa experiência recomendada para quem procura um jogo de furtividade diferente e desafiador. Para os fãs de jogos que misturam estratégia, narrativa envolvente e uma direção artística distinta, The Stone of Madness é uma aposta segura.

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