Antevisão: Sancticide

Sancticide é um jogo indie que chamou a atenção desde cedo devido ao seu conceito intrigante. Desenvolvido pela Red Square Games, um estúdio polaco composto por veteranos da indústria, prometia uma experiência desafiante e envolvente. Com inspirações evidentes nos jogos soulslike, Sancticide apresenta um sistema de combate que deveria exigir reflexos apurados e uma mecânica moral baseada num código de honra conhecido como sistema kosher. No entanto, a execução destas ideias nem sempre corresponde à ambição do conceito. Disponível em acesso antecipado, o jogo mostra potencial, mas também revela problemas que comprometem a experiência geral.

Jogabilidade

O combate de Sancticide tem os seus momentos. Durante emboscadas e lutas contra bosses, o ritmo acelera e a experiência torna-se envolvente. Infelizmente, este mesmo sistema falha quando se trata de encontros um contra um com inimigos normais. O desafio é praticamente inexistente, tornando a promessa de um combate soulslike pouco convincente. A falta de equilíbrio entre a dificuldade das batalhas torna a experiência irregular e, por vezes, frustrante para quem procura um verdadeiro desafio. A mecânica kosher, uma das grandes promessas do jogo, deveria afetar significativamente a jogabilidade. O sistema permite que as ações do jogador definam se é visto como kosher ou não-kosher pelos Deuses. Na prática, no entanto, este elemento tem um impacto mínimo. Embora o jogo sugira que o uso de armas de fogo seja uma escolha não-kosher, não existe qualquer razão real para evitar utilizá-las, pois as consequências deste sistema são praticamente inexistentes. Seria interessante ver um sistema onde o nível de não-kosher levasse a mudanças drásticas, como forçar o jogador a enfrentar inimigos especiais ou alterar a forma como o mundo reage à sua presença. Assim como está, esta mecânica sente-se superficial e subaproveitada.

Mundo e história

Sancticide decorre num mundo pós-apocalíptico, repleto de ruínas e personagens que tentam sobreviver num ambiente hostil. A premissa é interessante e poderia ser a base para uma narrativa envolvente. No entanto, a história é um dos pontos mais fracos do jogo. Os diálogos são desprovidos de vida, tornando cada interação uma tarefa monótona. Ao invés de criar um enredo imersivo, os textos parecem artificiais e pouco inspirados, falhando em cativar o jogador. A falta de impacto das escolhas também prejudica a experiência. O sistema moral poderia trazer decisões difíceis, mas, no estado atual, as escolhas do jogador apenas resultam em pequenas alterações nos diálogos, sem grandes consequências no desenrolar da narrativa. Para um jogo que pretende contar uma história significativa, este é um problema grave, pois não existe motivação para se investir nos personagens ou nos eventos do mundo de Sancticide.

Grafismo

Visualmente, Sancticide cumpre sem impressionar. O design do mundo captura bem a atmosfera sombria e decadente, mas falta-lhe personalidade. Muitos dos cenários parecem genéricos e desprovidos de elementos memoráveis, tornando a exploração pouco recompensadora. Os modelos das personagens e inimigos são competentes, mas sofrem com animações pouco polidas. Em combate, isto torna-se evidente, especialmente nas transições entre ataques e esquivas, que não fluem de forma natural. Num jogo onde o combate é um dos focos, estas falhas técnicas afetam diretamente a jogabilidade e a imersão.

Som

A componente sonora é outro aspeto que precisa de melhorias significativas. A música de fundo é funcional, mas genérica, falhando em criar momentos marcantes. Num jogo pós-apocalíptico, uma banda sonora forte poderia ajudar a construir a atmosfera e reforçar a sensação de perigo e isolamento, algo que aqui não acontece. A dobragem também não ajuda a elevar a história. As interpretações soam genéricas e sem emoção, tornando os diálogos ainda mais difíceis de suportar. Num jogo onde a narrativa é supostamente um dos pilares, este é um problema sério que precisa de ser corrigido.

Conclusão

Sancticide é um jogo com boas ideias, mas que falha na sua execução. O combate tem momentos divertidos, mas é inconsistente e pouco desafiante. A mecânica kosher, que poderia trazer um elemento de decisão moral significativo, tem um impacto tímido na jogabilidade. A história sofre com uma escrita pouco inspirada e escolhas sem peso real. O grafismo e o som cumprem a função, mas sem impressionar. Ainda há tempo para melhorar. Como o jogo está em acesso antecipado, é possível que a equipa de desenvolvimento refine estes aspetos até ao lançamento final. No entanto, no estado atual, Sancticide é um jogo que tem dificuldade em se destacar no meio de tantos outros do género. Se for capaz de corrigir as suas falhas e aprofundar as suas mecânicas, poderá tornar-se numa experiência memorável. Caso contrário, corre o risco de ser apenas mais um jogo de ação pós-apocalíptico que será rapidamente esquecido.

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