Análise: Citizen Sleeper 2: Starward Vector

Citizen Sleeper 2: Starward Vector é a sequela de um dos jogos narrativos mais envolventes dos últimos anos. O primeiro Citizen Sleeper destacou-se pela sua abordagem única à narrativa interativa, utilizando um sistema de gestão de dados e uma estrutura de decisão que colocou os jogadores no centro de um universo decadente e distópico. A sequela expande essa ideia ao dar ao jogador mais liberdade, introduzindo um sistema de exploração espacial que muda significativamente a forma como o jogo é jogado.

Se no primeiro jogo o jogador estava limitado a uma estação espacial, em Citizen Sleeper 2 tem acesso a uma nave e pode viajar entre diferentes localizações. No entanto, esta liberdade não significa que o jogo tenha perdido a sua identidade. Continua a ser uma experiência focada na narrativa, cheia de temas maduros e personagens bem construídas, mantendo a sensação de vulnerabilidade e luta pela sobrevivência. A transição para um universo mais aberto traz tanto vantagens como desafios, alterando a estrutura do jogo de formas inesperadas.

Jogabilidade

A base mecânica de Citizen Sleeper 2 é semelhante à do primeiro jogo, mas com algumas mudanças significativas. O jogador ainda utiliza um conjunto de dados de seis faces para realizar diversas tarefas ao longo de cada ciclo, desde encontrar trabalho até realizar missões mais perigosas como infiltrar-se em instalações de segurança. Os dados representam a energia e capacidade do personagem para enfrentar desafios, e a gestão destes recursos continua a ser essencial para o progresso. Uma das principais mudanças é a remoção do sistema de dependência química que estava presente no primeiro jogo. Em vez disso, há agora um sistema de stress e falhas, que pode reduzir a eficácia dos dados e prejudicar o desempenho do jogador. Embora esta alteração tenha sido feita para diversificar os desafios, por vezes pode ser frustrante devido à quantidade de elementos a gerir ao mesmo tempo.

Outro aspeto que diferencia esta sequela é a introdução da tripulação. Ao contrário do primeiro jogo, onde o jogador estava essencialmente sozinho, Citizen Sleeper 2 permite recrutar membros para a equipa. Isto traz novas possibilidades estratégicas, pois cada membro da tripulação contribui com habilidades e dados adicionais, tornando certas tarefas mais acessíveis. No entanto, também significa que o jogo perde um pouco da sua atmosfera solitária e introspectiva.

Mundo e história

Citizen Sleeper 2 continua a explorar temas profundos como capitalismo desenfreado, luta pela identidade, autonomia pessoal e a dinâmica entre poder e resistência. Mais uma vez, o jogador assume o papel de um Sleeper, um ser artificial que emula a mente de uma pessoa real, tentando encontrar um lugar num universo implacável. A grande diferença nesta sequela é a estrutura da exploração. No primeiro jogo, toda a narrativa girava em torno de uma única estação espacial, criando uma ligação forte com os locais e habitantes. Em Citizen Sleeper 2, o jogador viaja entre diferentes hubs espalhados por um cinturão de asteroides. Estes locais variam de colónias agrícolas a frotas de naves abandonadas, mas nenhum deles tem a mesma riqueza ou profundidade da estção do primeiro jogo. Esta dispersão pode fazer com que a narrativa pareça menos coesa e as relações com os NPCs menos significativas. No entanto, a história continua a ser um dos pontos fortes do jogo. As personagens são bem escritas e as decisões que o jogador toma têm impacto real no desenrolar da narrativa. Os temas abordados são relevantes e tratados com a mesma profundidade do primeiro jogo, garantindo que os momentos mais emocionais continuam a ressoar.

Grafismo

Visualmente, Citizen Sleeper 2 segue o mesmo estilo do primeiro jogo. O design das personagens e ambientes continua a ser minimalista, mas detalhado o suficiente para transmitir a atmosfera do universo. A interface é funcional, mas por vezes pode parecer demasiado carregada de informação, dificultando a gestão dos recursos.

O principal problema no grafismo não está na arte em si, mas na navegação. A apresentação dos hubs pode ser confusa, especialmente quando se tenta interagir com diferentes elementos do ambiente. Jogar no Steam Deck, por exemplo, pode tornar a experiência mais frustrante devido à necessidade de usar o trackpad para selecionar certos elementos. Apesar destas limitações, o jogo consegue criar um ambiente envolvente, com ilustrações que capturam a sensação de isolamento e incerteza que permeia a experiência do jogador.

Som

A banda sonora de Citizen Sleeper 2 continua a seguir o estilo atmosférico e melancólico do primeiro jogo. As faixas musicais são discretas, mas ajudam a criar o tom certo para cada momento. Os efeitos sonoros também desempenham um papel importante na imersão, com ruídos sutis que evocam a sensação de estar num espaço vazio e desolado. A ausência de vozes continua a ser um dos aspetos que poderia ter sido melhorado. Embora a falta de dublagem ajude a manter o estilo minimalista do jogo, também significa que algumas cenas poderiam beneficiar de um maior impacto emocional se houvesse alguma forma de expressão vocal para complementar os diálogos escritos.

Conclusão

Citizen Sleeper 2: Starward Vector é uma sequela ambiciosa que expande o universo do primeiro jogo de forma significativa. A introdução de uma tripulação e a liberdade de exploração espacial trazem novas possibilidades, mas também afastam um pouco o jogo da atmosfera solitária que fez do primeiro Citizen Sleeper uma experiência tão especial. As mudanças na jogabilidade tornam a gestão de recursos mais complexa, o que pode ser frustrante para alguns jogadores. A dispersão da narrativa por diferentes hubs também faz com que a história perca um pouco do impacto emocional que tinha no primeiro jogo. No entanto, a escrita continua excelente, e as decisões do jogador têm um peso real, garantindo que cada sessão de jogo se sente significativa. Apesar das falhas, Citizen Sleeper 2 é uma experiência envolvente que merece ser jogada, especialmente por quem gostou do primeiro jogo. A expansão da escala pode não agradar a todos, mas o jogo continua a oferecer uma das narrativas mais cativantes dentro do género.

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