Antevisão: Forestrike

Forestrike é um roguelike de ação publicado pela sempre irreverente Devolver Digital. Com um estilo visual pixelizado e um foco no combate corpo-a-corpo, o jogo destaca-se logo à partida por uma proposta invulgar: a combinação de reflexos rápidos com uma abordagem quase filosófica à aprendizagem. Nesta primeira demo disponível no Steam, os jogadores têm a oportunidade de explorar a escola de combate “Leaf”, uma das cinco planeadas para o jogo completo. Com inspiração clara em títulos como Sifu e Hotline Miami, Forestrike oferece uma jogabilidade que valoriza tanto o instinto como a repetição. Não é apenas mais um beat ‘em up retro; é uma meditação interativa sobre falhar, tentar de novo, e melhorar.

Jogabilidade

A jogabilidade de Forestrike é aquilo que mais brilha nesta demo. Cada combate decorre num único ecrã, com o jogador a enfrentar pequenos grupos de inimigos em sequências intensas e rápidas. O aspeto mais inovador reside na mecânica de prática: os jogadores podem repetir as lutas as vezes que quiserem em modo de treino, até aperfeiçoarem cada movimento. Quando finalmente se sentem prontos, iniciam a versão definitiva do combate, onde perder significa o fim da run. Esta dualidade entre prática e performance é o coração do jogo. As técnicas que se desbloqueiam ao longo do progresso são criativas e acrescentam profundidade táctica — desde virar um inimigo contra os seus aliados com um simples murro, até causar dano apenas ao esquivar. As lutas tornam-se assim puzzles dinâmicos, onde cada passo conta e improvisar é muitas vezes mais eficaz do que planear.

Mundo e história

Forestrike não aposta numa narrativa densa, mas há sugestões de um mundo curioso e absurdo por trás da pancadaria. Os inimigos vão de bêbados a esqueletos, e o imperador aparentemente já foi deposto — mas não se deve perguntar muito. A escola “Leaf”, que protagoniza a demo, sugere um conjunto de mestres e estilos distintos que estarão disponíveis na versão final. Há uma filosofia por trás de cada abordagem ao combate, e é essa camada quase espiritual que distingue o jogo de outros no género. A história está nas entrelinhas, contada através do ambiente e da mecânica, mais do que através de diálogos ou cutscenes.

Grafismo

Com gráficos em pixel art detalhados, Forestrike opta por uma estética retro, mas polida. As animações dos combates são fluidas e satisfatórias, o que é essencial num jogo onde a leitura dos movimentos dos inimigos faz parte da estratégia. Os cenários, apesar de simples, são eficazes em criar uma atmosfera densa e algo melancólica. Há uma predominância de tons acinzentados e céus nublados, o que reforça o tom meditativo e introspectivo do jogo. Não é um jogo colorido ou alegre, mas sim um palco sóbrio para confrontos tensos e calculados.

Som

A componente sonora acompanha bem o estilo do jogo. A música não é invasiva, e deixa espaço para os sons dos combates — os socos, os bloqueios, os saltos e os objetos atirados contra os inimigos. Este minimalismo sonoro permite ao jogador concentrar-se no que importa: o ritmo do combate. Não há aqui temas épicos ou melodias memoráveis, mas sim uma banda sonora funcional que contribui para o ambiente meditativo do jogo. Tal como no resto de Forestrike, a contenção é uma escolha deliberada.

Conclusão

Forestrike impressiona desde já com a sua proposta original e a execução segura daquilo que promete. A ideia de treinar combates repetidamente até encontrar a combinação perfeita de movimentos é tão envolvente como frustrante, e isso é um elogio. É um jogo que recompensa a paciência, a observação e a capacidade de improviso, mas que também aceita o fracasso como parte do processo. Ainda há muito por revelar, como as restantes escolas de combate e a estrutura geral da progressão roguelike, mas esta primeira amostra deixa água na boca. Se o resto do jogo mantiver este nível de qualidade, Forestrike poderá tornar-se num título obrigatório para quem gosta de ação táctica e combates significativos.

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