Há jogos que compramos por impulso e que depois ficam a ganhar pó digital na biblioteca. Outros acabam por se revelar autênticos guilty pleasures, experiências inesperadamente viciantes que não conseguimos largar apesar de todos os sinais em contrário. Supercar Collection Simulator insere-se nesse grupo peculiar. É um jogo que à partida parece destinado a um nicho muito específico, mas que tem um estranho poder de atracção, mesmo para quem não tem qualquer fascínio por simulações de lojas ou carrinhos de brincar. O conceito pode parecer simples ou até desinspirado: abrir e gerir uma loja de carrinhos de brincar ao estilo dos Hot Wheels. No entanto, quanto mais tempo se passa dentro deste pequeno mundo, mais difícil se torna sair. O jogo encontra-se em Acesso Antecipado, o que significa que muitas das funcionalidades ainda estão a ser desenvolvidas. Ainda assim, apresenta já uma base sólida, com elementos de gestão, colecção e até um pequeno minijogo de corridas que lhe dá alguma variedade. É uma daquelas experiências que nos faz perguntar porque é que estamos a jogar isto, mas que ao mesmo tempo nos mantém agarrados horas a fio.
Jogabilidade
A jogabilidade de Supercar Collection Simulator assenta na gestão completa de uma loja especializada em carrinhos de brincar. Desde o momento em que se entra no jogo, o jogador assume todas as tarefas do dia-a-dia: encomendar produtos, pagar contas, receber stock, organizar as prateleiras, definir preços, abrir a loja, atender clientes e processar pagamentos. É uma rotina intensa e exigente, que obriga a um planeamento constante e a uma atenção minuciosa ao detalhe. O ritmo do jogo é lento, especialmente no início, quando há poucos clientes e o orçamento é apertado. A progressão faz-se com algum esforço, e sem recorrer a pequenas falhas do sistema, como a descoberta de bugs nos preços, o lucro diário é modesto. Uma das funcionalidades prometidas para o futuro é a possibilidade de contratar funcionários, o que deverá aliviar significativamente a carga de trabalho e permitir ao jogador dedicar-se a outras actividades paralelas dentro do jogo.
Uma dessas actividades é o minijogo de corridas. Embora não tenha grande profundidade, funciona como um complemento interessante. O jogador pode coleccionar carros, abrir caixas de diferentes raridades e utilizar cartas que funcionam como power-ups. Depois, escolhe um carro, equipa os power-ups e defronta um NPC em corridas automáticas de oito voltas. A vitória garante o carro do adversário, o que incentiva a participar, ainda que a recompensa nem sempre compense o tempo investido. A loja também conta com mesas onde os clientes podem jogar o jogo de corridas. Estas mesas podem ser alugadas à hora e geram um lucro substancial, funcionando como uma fonte de rendimento passiva que contrasta com o trabalho constante da loja. Há ainda um sistema de níveis que desbloqueia novos produtos e melhorias para o espaço, mas nem sempre compensa expandir a loja, já que o número de clientes não acompanha proporcionalmente o aumento da oferta.

Mundo e história
Supercar Collection Simulator não tem uma narrativa propriamente dita. Em vez disso, aposta numa simulação realista de um negócio muito específico. O jogador é simplesmente um entusiasta ou empreendedor que decide abrir uma loja de carrinhos de brincar e construir o seu império peça a peça. A ausência de uma história estruturada não prejudica a experiência, já que o foco está todo na progressão da loja e na satisfação de ir preenchendo prateleiras com produtos cada vez mais variados e valiosos. Apesar disso, o jogo consegue criar uma sensação de identidade e progresso. Começamos com um espaço pequeno e limitado, com poucas opções e produtos básicos. À medida que vamos ganhando dinheiro e experiência, a loja cresce, o catálogo diversifica-se e o espaço começa a ganhar vida, ainda que de forma algo estática. O jogador sente realmente que está a construir algo, e esse sentimento de evolução acaba por funcionar como a narrativa emergente que guia toda a experiência. Existe também uma tabela classificativa online que nos permite comparar a nossa colecção com a de outros jogadores. Este sistema de competição indirecta dá uma motivação extra para coleccionar carros e completar conjuntos. No entanto, há ainda elementos pouco claros, como certos itens que aparecem na lista e cujo funcionamento não está bem explicado. Está prometido que no futuro será possível jogar online e trocar carrinhos com outros jogadores, o que poderá enriquecer muito este lado do jogo.
Grafismo
O grafismo de Supercar Collection Simulator é funcional, sem grandes pretensões. O jogo não tenta impressionar visualmente, mas apresenta uma estética limpa e suficientemente detalhada para cumprir o seu papel. As caixas de carrinhos, os expositores e os restantes elementos da loja são facilmente distinguíveis e bem modelados, com cores vivas que evocam o universo infantil e nostálgico dos brinquedos. Os carros em si são o destaque visual. Apesar de não terem licenças oficiais, são claramente inspirados em modelos populares de brinquedos e apresentam uma variedade considerável de designs. Há modelos mais simples, outros mais extravagantes, e é fácil ficar entusiasmado ao abrir uma nova caixa e ver o que nos calhou. A organização dos produtos nas prateleiras também transmite uma certa satisfação visual, especialmente para quem gosta de arrumação e coleccionismo. No entanto, há ainda limitações visíveis, nomeadamente na repetição de animações e na falta de variedade visual entre alguns elementos. Certos aspectos parecem ainda em fase de desenvolvimento, e espera-se que com futuras actualizações o jogo ganhe mais personalidade gráfica e dinamismo.

Som
O som é provavelmente o aspecto mais fraco de Supercar Collection Simulator. O jogo não tem música de fundo, o que cria um ambiente estranho e vazio durante as sessões mais longas. A ausência total de música obriga o jogador a recorrer a alternativas externas, como Spotify, para preencher o silêncio. Esta decisão de design, ou talvez simples omissão, afecta negativamente a imersão. Os efeitos sonoros, por outro lado, são aceitáveis. O som das caixas a abrir, o tilintar do dinheiro ou os passos do personagem são funcionais e ajudam a dar alguma vida à loja. No entanto, são repetitivos e pouco variados, o que acaba por contribuir para um certo cansaço auditivo ao fim de algum tempo. É de esperar que futuras versões tragam melhorias neste campo, seja através da adição de uma banda sonora adequada, seja com efeitos sonoros mais ricos e contextuais. Para já, o som é apenas um acompanhamento discreto que não acrescenta muito à experiência global.
Conclusão
Supercar Collection Simulator é um jogo peculiar, que dificilmente agradará a todos, mas que tem um estranho poder de atracção sobre certos jogadores. É uma experiência profundamente centrada na rotina, na gestão minuciosa e no prazer da organização e colecção. Não tenta ser revolucionário, nem sequer esconde as suas influências ou limitações, mas dentro do que se propõe fazer, consegue oferecer uma experiência viciante e surpreendentemente envolvente. A ausência de música, a progressão lenta e a repetição de tarefas podem afastar muitos jogadores. Ainda assim, para quem gosta de jogos de gestão com um toque de coleccionismo, ou simplesmente para quem procura algo diferente do habitual, há aqui uma proposta interessante. Com mais desenvolvimento e algumas melhorias, pode tornar-se numa referência dentro do seu género. Se é o primeiro jogo deste tipo que pensas em comprar, então vale a pena experimentar. Mas se já tens algo semelhante, talvez não traga o suficiente de novo para justificar mais uma compra. No entanto, tal como muitos guilty pleasures, pode muito bem acabar por te surpreender.