Análise: The Magister

Se forem fãs de jogos de tabuleiro como eu então já devem ter jogado alguma iteração de Cluedo. O mundo dos videojogos está cheio de jogos inspirados em jogos de tabuleiro e o próprio Cluedo já teve direito a adaptações. The Magister utiliza muitos dos mesmos conceitos, mas de uma forma original, misturando mecânicas de deck building para criar um jogo de mistério e dedução. A localização é sempre a mesma, com um magistrado a ser assassinado no quarto de uma pousada, mas a arma do crime, o motivo e praticamente tudo o resto a ser escolhido de forma aleatória, novamente como Cluedo, mas essas pistas funcionam aqui como um baralho de cartas.

Mas The Magister não é de todo um clone ou cópia de Cluedo. É mais ambicioso e isso tem as suas vantagens e desvantagem. Todo processo de dedução é mais ambicioso. Não se trata apenas de lançar alguns dados, tirar cartas e fazer perguntas aos oponentes. Em The Magister temos uma espécie de jogo de estratégia por turnos misturado com um deck builder e mecânicas de gestão de recursos. Não é um jogo acessível, muito pelo contrário. É praticamente pedido aos jogadores que dominem tudo o que o jogo ensina nos tutoriais e mesmo isso é insuficiente. É um jogo que praticamente nos pede para não desistir ao fim de uma série de jogos onde não percebemos nada do que se passa e apenas com o tempo podemos esperar retirar alguma diversão do jogo.

Todos os casos começam da seguinte forma. A nossa personagem, um magistrado, tem de investigar a morte de outro magistrado. Recolhemos a chave do quarto e investiga-mos algumas pistas escolhidas aleatoriamente na cena do crime. Tudo o que descobrimos é representado como cartas de um baralho de pistas e que podemos consultar. Depois de termos alguma ideia de como aconteceu e qual a arma do crime por exemplo, temos de interrogar os presentes. Algumas personagens irão falar de boa vontade, enquanto que outras irão pedir favores, algo que é representado com estrelas. Existem formas de acelerar o processo e que vamos descobrindo com o tempo, mas o processo é essencialmente este. Basicamente temos de encontrar falhas nos seus alibis e pressionar os suspeitos assim que encontramos uma.

Depois de interrogar os suspeitos temos de fazer algumas quests que acumulamos durante a interrogação. Aqui entra a parte da gestão. Uma vez que não podemos fazer tudo durante um dia temos de escolher o que fazer, uma vez que cada ação gasta parte do nosso tempo. As quests são bastante variadas e existe até um sistema de combate por turnos surpreendentemente detalhado, com um sistema de grelha ao estilo XCom e um baralho de cartas de combate a representar ações. O facto de funcionar por cartas que mudam cada jogo faz com que o combate pareça sempre fresco também. Também podemos tentar mais a agressividade dos inimigos com cartas específicas e isso resulta numa resolução pacífica dos conflitos, uma ideia realmente interessante.

The Magister tem ainda puzzles de lógica que temos de resolver em algumas localizações. É um jogo complexo e que tem muito mais dimensões do que eu estava à espera para dizer a verdade. O mais surpreendente é que todas estas mecânicas apesar de bem isoladas acabam por funcionar bem em conjunto. Assim que temos pistas suficientes e estivermos confiante na nossa acusação, podemos viajar para a Torre de Sinal e chamar o magistrado principal, o que culmina no nome do culpado a ser revelado e sabemos se temos razão ou não.

The Magister pega nas ideias de Cluedo e pensa como as pode integrar num jogo maior. Isto vem com o custo do incremento na dificuldade e complexidade, algo que temos de ter em consideração e que acaba por prejudicar um pouco o jogo. Existem muitos sistemas em cima de sistemas, mas se tivermos a paciência necessária, está aqui uma experiência bem única, desafiante e gratificante.

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