Análise: Triangle Strategy

A Square Enix é especialista em RPGs, contando com algumas das séries mais icónicas do género no seu catálogo. Final Fantasy e Dragon’s Quest praticamente definiram o que um bom JRPG deve ser, criando as bases do género e depois elevando-o para aquilo que é hoje. É como se alguns destes jogos marcassem o ritmo e depois durante os anos seguintes começassem a sair jogos de outras editoras baseados ainda nas ideias antigas. A realidade é que a Square Enix conseguiu novamente essa proeza com Triangle Strategy. A Square Enix não é inexperiente no género RPG tático, com Final Fantasy por exemplo a ter um excelente spin-off a mostrar isso mesmo, mas com Triangle Strategy a Square Enix consegue introduzir novas ideias no género e ao mesmo tempo oferecer um novo mundo fantástico aos jogadores e uma história cativante.

Triangle Strategy é sobretudo um RPG fantástico e dentro do seu subgénero é sem dúvida um dos melhores exemplos que podemos encontrar. A história do jogo é um dos seus pontos mais fortes, principalmente por causa dos caminhos múltiplos que podemos escolher e que nos podem levar até finais diferentes. A personagem princiapl é Serenoa Wolffort e os jogadores são empurrados para o cenário político de Norzelia, onde três reinos, Glenbrook, Hyzante e Aesfrost, estão a esforçar-se por manter uma aliança frágil que foi formada após uma série de grandes guerras. A história e mundo do jogo têm alguns elementos em comum com sagas de fantasia, principalmente Game of Thrones.

No momento que o jogo começa a aliança entre estes reinos está praticamente acabada e cabe ao jogador guiar a Serenoa para que no final esta aliança esteja em melhor situação. O custo a pagar por uma história e mundo de qualidade é a longevidade do jogo e a quantidade de diálogos presente no jogo. Eu listo a longevidade como um problema porque acredito que alguns jogadores irão olhar para ela como um problema dado que parte dela vem dos diálogos, mas a recompensa é tão boa que é difícil me importar muito com isso. A campanha é impressionantemente madura e complexa de muitas maneiras, misturando com sucesso elementos políticos e de fantasia. Costuma-se dizer que a fantasia e ficção são veículos para abordar de forma ligeira problemas do mundo real e Triangle Strategy faz justiça a essa expressão, abordando muitas questões do mundo real sobre manipulação religiosa das massas, medo como meio de controle, escravidão e racismo.

Os criadores de Triangle Strategy são verdadeiras lendas dentro do género. Tomaya Asano por exemplo também trabalhou em Bravely Default e Octopath Traveler, um sendo um verdadeiro clássico da 3DS e o outro uma surpresa que se tornou também referência primeiro na Nintendo Switch e depois noutras plataformas. Asano foi também quem primeiro sugeriu que queria levar este jogo para caminhos ligeiramente diferentes e isso nota-se. A estrutura narrativa é bem mais focada, deixando de parte a estrutura normal que divide o foco em várias personagens. Aqui o jogador está praticamente preso à história do ponto de vista de Serenoa e isso torna o jogo ainda mais intenso e memorável. Podemos explorar praticamente livremente o mundo do jogo e conhecer como os eventos se estão a desenrolar em outras regiões mas o verdadeiro foco é a nossa personagem principal. O loop de jogabilidade central consiste em longos elementos narrativos, grandes batalhas e curtos períodos de exploração e o equilíbrio entre essas vertentes não podia ser melhor.

Um dos aspetos com mais destaque na promoção do jogo é apelidado de Scales of Conviction é o sistema responsável pelas escolhas do jogador e mais importante consegue cumprir totalmente a promessa dos criadores do jogo. Quando este sistema está em foco, o jogador recebe duas ou três resoluções diferentes para um ponto importante da narrativa. A situação é cuidadosamente explicada em detalhe e as personagens do grupo expressam as suas opiniões. Somos nós como jogadores que decidimos, mas caso o consenso seja diferente daquilo que achamos que devemos escolher, então temos de tentar convencer qualquer elemento do grupo que esteja hesitante em ficar do nosso lado. Depois de tentarmos convencer toda a gente temos de votar e é tomada uma decisão por maioria. Isto faz com que o jogador fique altamente envolvido nos acontecimentos do jogo. Normalmente as decisões que tomamos num jogo são superficiais e de pouco impacto, mas aqui somos bastante informados sobre o que estamos a escolher e as decisões que tomamos têm muito impacto na história.

Mas até agora cobrimos apenas uma pequena parte do jogo. Essencialmente falámos apenas da história, que apesar de ser uma grande parte do jogo, divide a sua importância com o combate. Triangle Strategy oferece algumas excelentes batalhas que introduzem muitos sistemas bem desenhados e sustentados por uma tensão genuína graças à construção de mundo do jogo. O jogador cria verdadeiros laços com as personagens do grupo dada a qualidade da escrita e a construção que é feita das suas personalidades. Os elementos de RPG tático desenrolam-se de forma semelhante a Final Fantasy Tactics e jogos semelhares. Cada elemento do grupo é útil e o jogo consegue empilhar camadas de complexidade para criar uma experiência rica e desafiante.

Este género de RPG pede-nos para pensar alguns turnos em avanço. É talvez o sistema de combate que mais se parece com xadrez. Existem possibilidades que devemos dominar e aproveitar sempre que possível como o ataque duplo quando nos colocamos ao lado de um inimigo, um movimento que é inestimável para derrubar feiticeiros ou curandeiros. Também precisamos de perceber como encadear combos elementares de magia bem cronometrados. Existem muitas oportunidades para empregar estratégias diferentes e existe sempre uma maneira diferente e normalmente mais eficaz de resolver os problemas. O jogo também faz um bom trabalho ao fornecer muitas informações úteis de maneira intuitiva e simples, mostrando quais os inimigos que podem atacar e no geral evitando que os jogadores cometam erros que tornem o jogo frustrante. Podemos também classificar as nossas unidades antes da luta, decidindo sobre as opções e escolhendo quais combatentes lançar em ação. O jogo continua a ajudar o máximo que pode e até sinalizando membros recomendados do grupo. As primeiras horas de jogo são um verdadeiro tutorial e convém aprender tudo o possível para sobreviver no resto do jogo.

Visualmente este é um jogo simplesmente lindo e a banda sonora é simplesmente fantástica. Como se não fosse suficiente que o jogo fosse bonito de olhar e ouvir, Triangle Strategy também corre de forma perfeita, sem um bug que tenha encontrado ou percalços técnicos. A Square Enix tem aqui mais um sucesso e um jogo que se irá facilmente tornar uma referência dentro do género e um clássico da Nintendo Switch.

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