Análise: FIFA 23

Para os jogadores pouco interessados em jogos de futebol, os lançamentos anuais de FIFA podem parecer os restos de um passado onde isto era normal e a regra em jogos desportivos. Quem todos os anos joga o novo FIFA sabe que as novidades podem ser poucas ou nenhumas, mas além de ser uma compra obrigatória nesta altura do ano, todos os anos existem muitos ajustes na jogabilidade e apesar de parecer familiar, é preciso reajustar e reaprender. O jogo de futebol da EA tem andado nos últimos anos a fazer pequenas iterações da sua jogabilidade e do jogo como um todo. Existem muitas alterações, mas torna-se difícil dizer se todas são no sentido de melhorar o jogo ou se são alterações para simplesmente refrescar um pouco o jogo, ou como se costuma dizer em inglês um “change for the sake of change”.

FIFA 23 é talvez o jogo recente que mais alterações fez na fórmula. A jogabilidade do jogo está melhor e mais realista do que nunca, mas já passamos para aí. A primeira coisa que temos de destaque são as alterações feitas ao Ultimate Team. Este é o modo mais popular do jogo nos últimos anos, com uma monetização quase predatória desde sempre, mas estava praticamente estagnado nos últimos anos. No que toca às alterações, todas elas foram no bom sentido. A mecânica de química dos jogadores estava completamente datada e há muitos que os jogadores queriam não ser tão penalizados por criar uma equipa como sonhavam. Agora podem criar uma equipa realmente com os melhores do mundo, do presente ou do passado.

O sistema de química é talvez a maior alteração do modo Ultimate Team. A ideia passou durante o desenvolvimento por simplesmente remover a mecânica, mas a decisão final acabou por manter o sistema mas de forma simplificada. Em vez dos 100 pontos anteriores, agora existem 33 apenas. Em vez de termos de nos preocupar em ter os jogadores do mesmo clube, liga ou país juntos, agora temos apenas de garantir que temos alguma consistência no plantel. Além disso apenas podemos receber pontos bónus por ter uma química alta, não existindo qualquer penalização por ter jogadores com zero de química no plantel.

O novo sistema faz com que continue a existir alguma estratégia a criar um plantel e as restrições ajudam a equilibrar um pouco os planteis, mas as possibilidades agora são maiores, há mais liberdade e simplificar sistemas é para mim quase sempre boa ideia. Outra alteração veio na alteração nas cartas de modificação de posição. Com algumas cartas facilmente conseguíamos fazer uma equipa de estrelas com avançados em quase todas as posições. Com o novo sistema apenas podemos modificar os jogadores para as suas reais posições secundárias. Isto faz com um medio esquerdo possa passar para extremo esquerdo por exemplo, mas não pode ir para qualquer outra posição.

É difícil perceber em que direção a eficácia das estratégias dos jogadores vai este ano, mas podemos ver que defender e partir para o contra-ataque com um par de jogadores rápidos não é de todo tão eficaz como no ano passado. De resto muito continua igual. O posicionamento e um plantel equilibrado é a chave para o sucesso. A velocidade é novamente um dos pontos principais, mas um plantel recheado de jogadores rápidos não irá ter o sucesso que podem pensar. Um misto de jogadores rápidos, bom remate, físico e passe é mais importante do que 10 jogadores com 90+ de velocidade.

Outra novidade é o modo momentos dentro do ultimate team. Este modo lança-nos em rápidos desafios offline que nos premeiam com pontos. Estes pontos são diferentes das moedas da loja e podem ser trocados por itens exclusivos e pacotes jumbo de jogadores por exemplo. É mais uma novidade interessante e ajuda a dar alguma variedade ao ultimate team.

Fora do Ultimate Team também temos novidades. O modo carreira por exemplo, agora permite jogar com treinadores reais em vez de um criado de raiz. Isto dá algum realismo extra ao jogo. É um elemento de “role play” que funciona muito melhor agora e tornam o modo bem mais interessante. Está longe de oferecer a complexidade de um Football Manager, mas a atenção dada ao modo é mais do que merecida e senti mais vontade de o jogar este ano do que nos últimos 4 ou 5 talvez.

Mas por muito que a EA possa fazer, um jogo deste género vive da sua jogabilidade. A forma como o FIFA 23 joga continua familiar, mas as melhorias em campo são bem-vindas. A velocidade geral do FIFA caiu um pouco no ano passado, e a introdução do HyperMotion 2 no FIFA 23 reduz ainda mais essa velociade. Os defesas também estão mais inteligentes, mas o ritmo matador ainda é o factor principal. Aproveitar um espaço para um ataque rápido vai resultar em golo muito mais vezes do que um ataque sustentado com posse no meio campo. Numa edição que se mostra mais realista é portanto estranho que as duas melhores adições são distintamente arcade. Existem novos remates fortes, acionados segurando R1 e L1 e segurando o botão de remate. Isto faz com que câmara se aproxime com um efeito de câmara lenta antes que a bola seja lançada em direção à baliza. A outra novidade é a forma de bater bolas paradas que parece tão mais arcade mas é muito mais gratificante.

FIFA 23 continua a ser a referência do género, agora cada vez com menos concorrência, mas isso não fez com que a EA travasse o desenvolvimento. O jogo deste ano mostra talvez até mais esforço que o ano passado. FIFA está melhor do que nunca, mas continua a ser FIFA e isso é tão bom como mau.

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