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Análise: Saviorless

Saviorless é um título que promete uma aventura única, carregada de uma narrativa envolvente e visuais de cortar a respiração. Desenvolvido por uma equipa cubana, o jogo não só traz uma história intrigante, mas também reflete as experiências pessoais e culturais dos seus criadores, uma característica que se torna evidente desde os primeiros momentos do jogo. No entanto, embora Saviorless ofereça muito no que toca a arte e narrativa, há aspetos técnicos que podem testar a paciência dos jogadores mais exigentes. A aventura em Saviorless começa de maneira fascinante com três narradores: um homem idoso acompanhado pelos seus familiares mais jovens. Estes narradores são omniscientes e estão destinados a contar a história de Antar, a personagem central do jogo, para toda a eternidade. Esta premissa inicial é intrigante e estabelece um tom interessante para a narrativa, onde os jovens acabam por assumir o controlo e introduzir novos personagens e pontos de trama quando o ancião adormece. Esta mudança dinâmica na narrativa mantém os jogadores envolvidos, oferecendo uma experiência única de storytelling.

Um dos pontos mais fortes de Saviorless é, sem dúvida, o seu design visual. O jogo é adornado com arte desenhada à mão absolutamente deslumbrante, que capta a atenção do jogador desde o primeiro instante. Cada cena é rica em detalhes, desde os pequenos elementos no fundo até às representações de lendas desconhecidas que se manifestam como monstros ou puzzles. A influência da cultura e história cubanas é evidente na paisagem em ruínas e na arte estilizada, oferecendo um cenário visualmente impressionante que raramente se encontra nos jogos atuais. A equipa de desenvolvimento merece elogios por conseguir transmitir um sentido de lugar e história tão forte através dos visuais do jogo. Esta conexão cultural profunda não só enriquece a experiência de jogo, mas também oferece aos jogadores uma visão da beleza e complexidade de Cuba.

Apesar do início promissor, Saviorless começa a mostrar falhas à medida que se avança no jogo, especialmente na mecânica de colecionáveis. Em cada nível, há seis páginas escondidas que o jogador deve encontrar e entregar a um cronista. No entanto, se não conseguires recolher todas as páginas, o cronista oferece a opção de reiniciar, sem especificar claramente o que isso implica. Na minha experiência, isto resultou num reinício total do nível, perdendo todo o progresso feito até aquele ponto, o que foi extremamente frustrante. Esta mecânica mal explicada pode levar a momentos de grande frustração, especialmente em níveis que já são desafiantes devido a decisões de design de plataformas menos bem conseguidas. O sistema de colecionáveis parece mais uma tarefa árdua do que um desafio divertido, e a falta de clareza nas instruções agrava ainda mais este problema.

A jogabilidade de Saviorless é onde o jogo mais desaponta. O sistema de controlo é flutuante, faltando-lhe a solidez e o peso necessários para um jogo de plataformas eficaz. A precisão é crucial em jogos deste género, e a sensação de controlo inconsistente pode tornar-se uma fonte constante de frustração. Além disso, o facto de sermos enviado de volta a um ponto de verificação ao mínimo erro só piora a experiência. Antar, a personagem principal, também sofre com problemas de design, o que contradiz as exigências de certas partes do jogo, tornando algumas secções desnecessariamente difíceis e frustrantes. Apesar das falhas no design de controlo, Saviorless apresenta momentos de variedade bem-vindos quando os narradores se desviam da história tradicional e permitem ao jogador controlar outras personagens. Estas secções introduzem novas mecânicas, como o combate corpo a corpo, que Antar não utiliza. Esta variedade ajuda a quebrar a monotonia e oferece novas camadas de jogabilidade que enriquecem a experiência global do jogo.

Infelizmente, estas secções são poucas e espaçadas, e grande parte do jogo é passada no controlo de Antar, o que significa que as oportunidades para explorar estas novas mecânicas são limitadas. Contudo, estas interlúdios oferecem um vislumbre do potencial não realizado do jogo, deixando os jogadores a desejar por mais. Saviorless é um jogo que desperta emoções mistas. Por um lado, a arte deslumbrante, a história intrigante e o rico subtexto cultural tornam-no numa experiência visualmente e narrativamente envolvente. A influência cubana é evidente e adiciona uma camada de profundidade que é rara em muitos jogos modernos. Os jogadores podem apreciar a atenção ao detalhe e a beleza das paisagens desenhadas à mão, que capturam a essência da história e cultura cubanas. Por outro lado, os problemas com a jogabilidade e os controlos flutuantes podem transformar a experiência de jogo numa tarefa árdua. A mecânica de colecionáveis mal explicada e a lentidão dos movimentos de Antar são questões significativas que impedem o jogo de alcançar todo o seu potencial. A introdução de novas personagens e mecânicas oferece um alívio bem-vindo, mas não é suficiente para compensar as falhas predominantes.

Saviorless é um jogo que merece ser experimentado, especialmente por aqueles que valorizam uma narrativa rica e um design artístico impressionante. No entanto, os jogadores devem estar preparados para lidar com uma jogabilidade que pode, por vezes, ser frustrante e desafiante de uma forma que nem sempre é justa. Com algumas melhorias nos controlos e na clareza das mecânicas, Saviorless poderia tornar-se uma experiência verdadeiramente memorável, mas neste momento ainda não o é.