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Análise: Doctor Cat

Doctor Cat é um jogo que tenta misturar géneros de uma forma inusitada e interessante, juntando terapia, gatos e puzzles de peças. Esta premissa, embora peculiar, atrai a atenção e suscita curiosidade. No entanto, ao aprofundar-se no jogo, rapidamente se percebe que a execução não está à altura da ideia original. Logo de início, Doctor Cat coloca o jogador na pele de um terapeuta que é, por acaso, um gato. Esta escolha de personagem é claramente feita para captar a atenção dos amantes de felinos, mas a sua ligação com a jogabilidade é bastante ténue. Em vez de aproveitar a oportunidade para criar situações engraçadas ou absurdas envolvendo um gato terapeuta, o jogo opta por uma abordagem surpreendentemente séria.

Antes de cada puzzle, o jogador ouve os problemas dos pacientes, que são outros gatos. Estas histórias tocam em dilemas do mundo real, como a falta de motivação no trabalho ou relações problemáticas. Esta seriedade pode ser vista como um desvio interessante das expectativas iniciais de um jogo mais leve e divertido. No entanto, a forma superficial como os casos são tratados acaba por desiludir. O Doctor Cat faz comentários genéricos e pouco profundos, mais parecendo saídos de um biscoito da sorte do que de uma sessão de terapia real. A parte dos puzzles, que deveria ser o ponto alto do jogo, também não escapa a críticas. Os puzzles são compostos por quadrados em vez das tradicionais peças de puzzle com encaixes. Esta escolha poderia ter sido uma forma inovadora de abordar os puzzles, mas acaba por criar mais frustrações do que satisfação. A ausência de encaixes significa que não há um feedback claro de que as peças estão no lugar certo, obrigando o jogador a adivinhar até ao fim. Esta falta de clareza é exacerbada pela dificuldade em distinguir as peças selecionadas devido a um brilho demasiado subtil.

Os puzzles variam em dificuldade, com modos Fácil, Normal e Difícil. O modo Difícil, que deveria oferecer um desafio gratificante, torna-se uma fonte de frustração. As imagens dos puzzles não são detalhadas o suficiente para fornecer pistas visuais claras, e a quantidade de peças adicionais transforma a tarefa numa tentativa desesperada de encaixar quadrados pretos na orientação correcta. A interface de controlo é simples e eficaz, permitindo ao jogador trocar peças ao tocar nelas. No entanto, o selector de peças muitas vezes volta à posição original em vez de seguir a peça movida, o que interrompe o fluxo e pode ser confuso. Esta falha de design poderia ter sido facilmente evitada com um pouco mais de atenção aos detalhes. Um dos pontos que merece algum crédito é a presença de uma moldura desenhada nas peças de borda, que oferece um ponto de partida útil para a resolução dos puzzles. Esta ajuda visual é uma boa adição, especialmente para jogadores que não são mestres dos puzzles.

Apesar de todos os problemas, o conceito de Doctor Cat tem potencial. Um híbrido de terapia, gatos e puzzles poderia resultar num jogo único e memorável. No entanto, a execução deixa muito a desejar. A seriedade das histórias não combina bem com a superficialidade das respostas do terapeuta, e os puzzles, que deveriam ser o núcleo do jogo, são frustrantes e mal desenhados. Além disso, a longevidade do jogo é extremamente curta, durando apenas uma ou duas horas. Esta falta de conteúdo é surpreendente para um jogo de puzzles, onde normalmente seria esperado uma maior variedade de desafios. A inclusão de mais imagens e uma maior diversidade nos puzzles poderia ter melhorado significativamente a experiência.

Doctor Cat é um jogo que começa com uma premissa intrigante, mas rapidamente perde o seu brilho. A mistura de géneros poderia ter resultado numa experiência única, mas a execução falha em vários aspectos cruciais. Desde a abordagem superficial aos problemas dos pacientes até aos puzzles mal concebidos, o jogo acaba por ser uma experiência decepcionante e, acima de tudo, aborrecida.