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Análise: The Shore VR

The Shore VR é um jogo que prometia uma experiência envolvente e imersiva no universo de Lovecraft, mas que infelizmente falha em diversos aspetos cruciais, deixando uma impressão de potencial desaproveitado. Apesar dos seus gráficos deslumbrantes em VR, a jogabilidade e a execução técnica deixam muito a desejar, resultando numa experiência frustrante e, por vezes, quase injogável. Logo de início, é importante clarificar que The Shore VR não é realmente um jogo VR concebido de raiz. Ao invés, parece mais um jogo 2D ao qual foi adicionada uma câmara VR e algumas interações básicas de VR de forma improvisada. Este facto é evidente em vários aspetos do jogo, desde a navegação pelo ambiente até à própria interação com o mundo do jogo. Por exemplo, andar em linha reta pode ser um verdadeiro desafio devido às malhas de colisão dos objetos do jogo, que parecem ter uma relação muito superficial com os modelos visíveis. Isto inclui o próprio chão, tornando algumas áreas, como as escadas no farol, literalmente impossíveis de atravessar com locomoção suave, obrigando os jogadores a recorrerem à teletransportação.

Outro problema grave é a forma como o jogo lida com a mecânica de virar. Em vez de rodar a perspetiva do jogador, o jogo desloca fisicamente o jogador num círculo em torno de um ponto imaginário à sua frente, semelhante a um planeta a orbitar uma estrela. Esta escolha de design não só é confusa como também pode causar desconforto e desorientação, especialmente para aqueles que são novos nas experiências VR. Além disso, a configuração dos controladores VR também deixa a desejar. Em termos de narrativa, The Shore VR tenta contar uma história envolvente e misteriosa, mas a sua execução é igualmente falha. No início da versão normal, é imediatamente claro que o protagonista está à procura da sua filha desaparecida, além de lidar com a história lovecraftiana da ilha. As notas encontradas e as vozes que começam a aparecer ajudam a construir a narrativa de uma forma mais linear e compreensível. No entanto, na versão VR, essa clareza perde-se devido à liberdade excessiva e à falta de um sistema de progresso claro. A liberdade adicional na versão VR permite que os jogadores explorem mais da ilha, mas também faz com que seja fácil perder o rumo do que se deve fazer a seguir para avançar na história.

Outro aspeto frustrante é a inconsistência do sistema de salvamento e dos gatilhos de eventos. Se o jogador morrer ou ficar preso e precisar de reiniciar o jogo, o progresso torna-se confuso. Alguns elementos permanecem desbloqueados, outros não, e muitas vezes os eventos passados repetem-se de forma incoerente com os gatilhos que deveriam ter sido desbloqueados. Isto não só quebra a imersão, mas também torna a progressão no jogo frustrante e desmotivadora. É evidente que os desenvolvedores de The Shore VR tinham boas intenções e queriam oferecer uma versão VR que atendesse aos pedidos dos jogadores. No entanto, a execução ficou aquém do esperado. O jogo precisa de uma revisão significativa para corrigir os problemas de colisão, melhorar a mecânica de locomoção e virar, e estabelecer um sistema de salvamento e progressão mais consistente e intuitivo. Além disso, a integração das vozes nas notas encontradas, como na versão normal do jogo, poderia melhorar significativamente a experiência e a imersão na narrativa.

The Shore VR é um exemplo de um jogo com um enorme potencial que foi prejudicado por uma execução técnica deficiente. Apesar dos seus gráficos impressionantes e da atmosfera envolvente, os problemas de jogabilidade e design tornam difícil recomendar o jogo na sua forma atual. Os desenvolvedores têm muito trabalho pela frente se quiserem transformar este título num verdadeiro sucesso no mundo dos jogos VR. Até lá, é melhor abordá-lo com cautela e expectativas moderadas.