Autopsy Simulator é uma tentativa da Woodland Games e da Team17 de criar um jogo que mistura elementos de horror com a simulação médica, num contexto sombrio e psicológico. A história segue Jack Hanman, um médico legista atormentado pela morte da sua esposa, enquanto tenta resolver casos de mortes não resolvidas. A proposta inicial parece interessante, especialmente para quem gosta de temas relacionados com forense, mas a execução deixa a desejar em vários aspetos, com o foco do jogo a desviar-se mais para uma narrativa pesada e menos para a jogabilidade envolvente. O jogo começa com Hanman já em sofrimento há quase um ano, a tentar lidar com o luto da sua esposa. Desde o início, o jogador percebe que o enredo vai abordar temas como trauma, depressão e alucinações. No entanto, em vez de tratar estes temas com subtileza, Autopsy Simulator cai em vários clichés e estereótipos, tornando a história previsível e, por vezes, aborrecida. Hanman está constantemente a divagar sobre a sua falecida esposa, o que acaba por saturar o jogador e tirar o foco das tarefas que deveriam ser o centro da experiência.
Em termos de jogabilidade, Autopsy Simulator lembra mais um walking simulator do que um verdadeiro simulador de autópsias. Grande parte do tempo é passada a seguir instruções simples e a ouvir a exposição da história. O jogador não tem muita liberdade para explorar ou resolver casos de forma criativa. As autópsias são processos lineares, onde se movimenta o rato para cortar partes do corpo e descobrir as causas da morte. No entanto, estas tarefas não são particularmente desafiantes ou envolventes. Tudo se resume a seguir linhas e cortar nas áreas corretas, sem grande sensação de descoberta ou de satisfação por resolver um mistério. A atmosfera do jogo tenta ser aterradora, mas raramente o consegue. Embora existam momentos em que o jogo tenta criar suspense, como falhas de energia ou alucinações que Hanman experimenta, o horror nunca atinge o seu verdadeiro potencial. A maior parte do jogo é passada em silêncio, com Jack a murmurar sobre a sua esposa ou a explicar procedimentos médicos. Em vez de criar uma sensação de tensão crescente, o ritmo lento e a falta de variedade acabam por cansar o jogador. Há poucas ocasiões verdadeiramente perturbadoras, e o jogo falha em construir um ambiente de terror eficaz.
Outro aspeto que merece ser mencionado é a complexidade técnica dos procedimentos médicos. O jogo tenta apresentar termos e procedimentos médicos detalhados, mas não faz um bom trabalho em torná-los acessíveis ou interessantes para o público em geral. Se o jogador não tiver um conhecimento prévio de termos médicos, grande parte do diálogo e das ações podem parecer incompreensíveis ou irrelevantes. Em vez de ajudar o jogador a aprender mais sobre a ciência forense, o jogo acaba por alienar aqueles que não estão familiarizados com a área, sem criar uma verdadeira imersão na profissão de legista. O maior problema de Autopsy Simulator reside na sua tentativa de equilibrar uma narrativa dramática com uma simulação médica. A história de Jack Hanman não é cativante o suficiente para suportar o peso emocional que o jogo tenta transmitir, e a simulação é demasiado superficial para ser verdadeiramente interessante. O resultado final é um jogo que parece confuso e desorganizado, com várias ideias interessantes, mas mal executadas. Os temas de saúde mental, que poderiam ter sido tratados de forma mais profunda, acabam por ser abordados de forma demasiado superficial e sensacionalista.
Autopsy Simulator é uma experiência curta e dececionante. Com cerca de três horas de jogo, não oferece uma narrativa envolvente, nem uma jogabilidade memorável. A mistura de horror e simulação forense tinha potencial, mas a execução falhou em proporcionar uma experiência cativante. Para os fãs de simuladores ou de jogos de horror, Autopsy Simulator pode ser uma curiosidade momentânea, mas não é uma experiência que ficará na memória como algo inovador ou particularmente interessante. A falta de coesão entre a jogabilidade e a narrativa é o principal obstáculo para o sucesso deste título, que acaba por ser uma oportunidade perdida.