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Análise: The Outlast Trials

The Outlast Trials é a mais recente entrada da série de terror da Red Barrels e traz consigo algumas mudanças significativas, tanto na jogabilidade como na estrutura geral do jogo. Situado algumas décadas antes do primeiro Outlast, o jogo explora as experiências iniciais que levaram aos horrores vistos no Asilo de Mount Massive. Aqui, os jogadores assumem o papel de cobaias humanas, sujeitas a provas macabras que testam tanto a resistência física como a psicológica. A premissa é assustadora, mas familiar para quem já conhece a série. Uma das mudanças mais notáveis em The Outlast Trials é a adição de um componente multijogador, uma novidade na série que sempre foi focada em experiências de horror a solo. Nesta nova abordagem, até quatro jogadores podem juntar-se para enfrentar os desafios, o que por um lado adiciona uma camada de cooperação interessante, mas por outro compromete a tensão atmosférica e o ritmo de jogo que definiram os títulos anteriores. As provas consistem em tarefas como encontrar chaves, ativar interruptores e escapar de inimigos perigosos, o que se assemelha ao que já vimos nos jogos anteriores da série, embora agora com uma dinâmica multijogador que altera substancialmente a forma como o jogo é jogado.

Apesar de ser possível jogar sozinho, a presença de outros jogadores acaba por quebrar o terror que caracteriza Outlast. O design dos mapas e o comportamento dos inimigos foram claramente adaptados para acomodar este novo estilo de jogo, mas a sensação de vulnerabilidade e isolamento que fazia parte da experiência original perde-se quando há outros jogadores a partilhar a tua luta. O facto de os jogadores mais experientes poderem estragar o ritmo e apressar a resolução de puzzles ou sequências de ação também reduz a tensão e o impacto dos momentos de terror. O multijogador funciona bem tecnicamente, mas a sua presença retira ao jogo grande parte do charme que fez de Outlast um clássico do horror.

Mesmo com a introdução do modo multijogador, a essência de Outlast permanece intacta. Os elementos de sobrevivência, como a necessidade de gerir a bateria da visão noturna e esconder-se de inimigos perigosos, continuam a ser centrais na jogabilidade. As sequências de perseguição frenéticas, que fazem o jogador correr por corredores estreitos, abrir portas apressadamente e tentar escapar de monstros implacáveis, ainda são momentos de pura adrenalina. No entanto, o parkour desajeitado e frenético, onde cada porta pode estar trancada e resultar na morte do jogador, mantém a tensão elevada. A jogabilidade não reinventa a fórmula, mas continua eficaz em provocar sustos e manter o jogador em alerta.

Do ponto de vista temático, The Outlast Trials continua a aposta de sempre na brutalidade e no choque. O jogo é gráfico e não tem problemas em explorar temas perturbadores e cenas grotescas. No entanto, este enfoque constante no choque acaba por ter o efeito oposto ao desejado. A falta de uma construção gradual de tensão ou de um desenvolvimento narrativo consistente faz com que o jogo se sinta mais como uma atração de casa assombrada, onde o objetivo é chocar constantemente o jogador sem lhe dar espaço para processar o que está a acontecer. As cenas violentas e perturbadoras são frequentes, mas acabam por parecer forçadas e exageradas, perdendo o impacto emocional que poderia ter tornado o jogo verdadeiramente assustador. Além das provas, entre cada missão, os jogadores são devolvidos ao seu confinamento na Instalação Murkoff, onde podem melhorar o seu equipamento, alterar as suas estatísticas com medicação ou simplesmente interagir com outros jogadores. Esta estrutura quebra a progressão linear dos jogos anteriores e dá aos jogadores algum espaço para personalizar a sua experiência. Embora este sistema de melhorias adicione alguma profundidade à jogabilidade, as opções disponíveis nem sempre são especialmente interessantes ou úteis. O jogo oferece uma variedade de upgrades, desde visão de raios-X a peças de equipamento que curam automaticamente, mas a maioria deles não parece ter um impacto significativo na jogabilidade.

The Outlast Trials é uma experiência mista. Por um lado, a Red Barrels conseguiu manter muitos dos elementos que fizeram da série um sucesso, como a tensão nos momentos de sobrevivência e o terror visceral. Por outro, a introdução do multijogador e a aposta exagerada no choque constante acabam por enfraquecer a experiência geral. O jogo é divertido, especialmente com amigos, mas falta-lhe a subtileza e o cuidado na construção de terror que tornaram os primeiros jogos tão memoráveis. É uma boa entrada na série, mas não chega aos picos de tensão e horror que definiram o original.