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Análise: Kitsune Tails

Kitsune Tails é um jogo de plataformas que inicialmente parece um tributo demasiado próximo a clássicos como Super Mario Bros 3 e Super Mario World. A sua estética retro, acompanhada por um design de níveis familiar, traz à mente esses títulos icónicos da era NES e Super Nintendo. No entanto, à medida que o jogador avança, Kitsune Tails revela-se mais do que uma simples cópia. Apesar das óbvias semelhanças iniciais, o jogo esconde uma camada de profundidade e criatividade que começa a surgir ao longo da experiência, transformando-o numa proposta única dentro do género. A história de Kitsune Tails é surpreendentemente envolvente para um jogo de plataformas. O enredo gira em torno de Yuzu, uma kitsune numa missão como mensageira da divindade raposa Inari. Durante as suas viagens, Yuzu é salva pela curandeira Akko, que desenvolve sentimentos por ela, o que causa tensões com Kiri, uma amiga de longa data de Yuzu. O enredo explora as dinâmicas entre estas três personagens queer, com um triângulo amoroso cheio de ciúmes, emoções confusas e tentativas de compreensão dos seus sentimentos. Este é um aspeto refrescante num jogo deste género, onde normalmente a narrativa fica em segundo plano em relação à jogabilidade.

Apesar da forte inspiração em Super Mario, o design dos níveis de Kitsune Tails apresenta uma complexidade acima da média. Enquanto algumas fases são curtas e oferecem desafios rápidos, outras prolongam-se, combinando dois níveis difíceis num só. Este desequilíbrio no ritmo pode ser frustrante, especialmente quando os pontos de controlo são escassos, obrigando o jogador a repetir secções inteiras após morrer. Ainda assim, para os que procuram um desafio, especialmente no modo de maior dificuldade, Kitsune Tails oferece exatamente isso. A gestão de power-ups e a sua utilização estratégica torna-se fundamental, e felizmente o jogo permite adquirir novos power-ups numa aldeia central, oferecendo algum alívio em momentos mais complicados.

Um dos pontos altos do jogo é a criatividade em alguns níveis, especialmente no Mundo 4, onde o power-up de gelo introduz uma dinâmica interessante. Este power-up permite congelar inimigos e criar plataformas, tornando as secções verticais muito mais divertidas e estrategicamente envolventes. No entanto, muitos dos power-ups introduzidos mais tarde, como os fatos de salamandra e de boneco de neve, parecem demasiado semelhantes aos clássicos de Super Mario, como as flores de fogo e de gelo. Essa familiaridade, por vezes, joga contra Kitsune Tails, que em certos momentos parece lutar para se destacar do legado que homenageia. No entanto, é na segunda metade do jogo que Kitsune Tails realmente se distingue. Após completar o jogo com Yuzu, o jogador desbloqueia um novo personagem com um conjunto de habilidades completamente diferente. Esta nova personagem não usa os power-ups de Yuzu, mas em vez disso, foca-se no combate com espadas e numa jogabilidade mais fluida e precisa. Esta mudança transforma completamente a experiência de jogo, revitalizando o interesse nas mesmas fases, agora com uma jogabilidade mais rápida e dinâmica. A precisão exigida e a velocidade com que o jogador atravessa os níveis faz lembrar títulos clássicos de ação como Ninja Gaiden, e essa dualidade de estilos de jogo é um dos aspetos mais brilhantes de Kitsune Tails.

Visualmente, Kitsune Tails é encantador, com um estilo de pixel art que evoca nostalgia, mas que ao mesmo tempo se mantém fresco. Os inimigos e personagens são fáceis de distinguir, com designs distintos que captam imediatamente a atenção do jogador. A música, com inspiração clara nos jogos da NES e SNES, complementa perfeitamente a estética do jogo, criando uma atmosfera leve e divertida que se ajusta ao tom geral. Um destaque adicional é a inclusão do Kitsune Maker, um editor de níveis que utiliza a linguagem Lua e oferece aos jogadores a oportunidade de criar as suas próprias fases. Além disso, o jogo inclui vários minijogos, que ajudam a aumentar a longevidade e a diversificar a experiência.

Kitsune Tails apresenta-se como uma homenagem amorosa aos clássicos das plataformas, ao mesmo tempo que tenta criar a sua própria identidade com uma história envolvente e uma jogabilidade diversificada. Embora por vezes se apoie demasiado nas suas influências, especialmente na primeira metade do jogo, a segunda parte oferece uma experiência completamente diferente e refrescante que vai agradar a fãs de plataformas e speedrunners. Kitsune Tails pode não revolucionar o género, mas traz uma proposta sólida, divertida e cheia de charme, que se destaca pelo seu enredo queer e a sua capacidade de surpreender jogadores à medida que o jogo avança. Para quem procura um jogo que combine nostalgia com inovação, Kitsune Tails é uma aposta segura.