Análise: Eternal Threads

Eternal Threads é um jogo com foco na narrativa, mas ao contrário de outros jogos do género consegue misturar algumas mecânicas de jogo interessantes que apenas ajudam a manter a história misteriosa e o jogador mais interessado. Uma história forte é um ponto a favor para qualquer jogo. Não é talvez o aspeto mais importante, mas é particularmente important para um jogo singleplayer. Um jogo praticamente focado apenas na história, corre mais riscos, mas Eternal Threads consegue apresentar argumentos suficientes.

Desenvolvido pela Cosmonaut Studios, Eternal Threads envolve um futuro distante em que as experiências sobre viagens temporais acabam por produzir uma radiação estranha que atravessa o tempo e acaba por causar estragos no futuro. O jogador tem que voltar atrás no tempo e corrigir os eventos para aquilo que realmente aconteceu e assim repôr também o futuro.

O jogador regressa a Inglaterra, no ano de 2015, a uma casa onde seis pessoas morrem num incêndio. Começamos por ter acesso aos eventos de sete dias que podemos ver porque ordem quisermos. A única forma de tomar as decisões certas é conhecer toda a história pela ordem correta. Como o jogo decorre depois dos eventos já terem acontecido vamos andar por uma casa destruída a ver marcas da polícia. Este não é um jogo de terror, mas tem um ambiente semelhante, marcado pela quase total ausência de música por exemplo. Quando vemos eventos do passado vemos como as coisas decorreram numa espécie de hologramas. O objetivo é evitar que as seis pessoas morram, mas também que o desenlace seja o melhor possível.

Podemos atingir esse objetivo influenciando as escolhas das várias personagens, para isso podemos usar os nossos equipamentos. Pequenas escolhas vão ter grandes impactos tanto no tempo das personagens como no tempo do jogador. Outro aspeto importante para salvar todas as personagens vem das áreas da casa que estão bloqueadas. Como não temos acesso às memórias sem termos acesso às localizações, precisamos de ver as memórias para ver como entrar nessas divisões, seja encontrar onde guardaram uma chave por exemplo, ou outras coisas mais complexas. Algumas áreas só podem ser acedidas fazendo escolhas erradas por exemplo.

O jogador sabe que é preciso mudar certos eventos e escolhas das personagens, mas não é tão linear como mudar todo para o contrário. Algumas coisas precisam de acontecer da forma que aconteceram para no final tudo se compor da melhor forma. A casa tem que arder na mesma por exemplo. O objetivo é conseguir que algumas coisas más continuem a acontecer mas sem tirar a vida a nenhuma das personagens. Mas não se trata apenas de evitar que ninguém esteja em casa naquele dia, temos de começar pelos primeiros dias a encontrar formas para isso acontecer.

Para um jogo com tanto foco na história é importante que a escrita e vozes sejam bons e neste caso posso dizer que não há nada a assinalar. Todas as personagens têm personalidades diferentes e as relações entre elas foram bem pensadas. Conhecer as personagens não só é importante para o jogo, como é também interessante em si mesmo. À medida que vamos avançando na história, vamos descobrindo pequenos mistérios dentro da vida das personagens e no geral o jogo vai-se tornando mais é mais interessante. Cada vez tentamos saber mais também e a história culmina de forma bastante satisfatória.

Visualmente o jogo não é muito impressionante. Não é mau, mas não impressiona, algo que é completamente compreensível para um estúdio indie, com um orçamento certamente baixo. Nada disto impacta a história, mas o jogo ficaria a ganhar com melhor apresentação. Talvez no seu próximo projeto, o orçamento seja um pouco melhor. A UI também tem algumas falhas e por vezes a navegação não é tão fluida como deveria. Outro problema do jogo é talvez o final alternativo, ou talvez definitivo. Quando conseguimos o melhor resultado possível, o jogo mostra-nos um final que acredito que seja o verdadeiro final, mas este é um cliffhanger. O jogo é bom o suficiente para uma sequela não tenha duvidas, mas talvez não seja a melhor forma de acabar o jogo sem ter a certeza que essa sequela vai mesmo existir.

Eternal Threads é para todos os efeitos um Walking Simulator e não vai agradar a quem não gosta do género. O jogo faz bem mais em termos de jogabilidade do que a maioria desses jogos, mas talvez não o suficiente para cativar os jogadores que não gostam do género. Se gostam de histórias fortes e não têm problemas com este tipo de jogos então a história é outra e este é uma proposta excelente, com pequenas falhas que em nada afetam os melhores aspetos do jogo.

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