Análise: Carnal

Carnal é um FPS de inspiração retro, muito inspirado em jogos como o Quake original, aproximando-se tanto na jogabilidade como visualmente. É até impressionante que o jogo não corra numa qualquer versão do motor de Quake, correndo sim no motor Unity. Jogamos como um soldado sem nome da Força de Defesa do Reino enviado para combater as forças dos Filhos da Arca que invadiram. A história não tem realmente importância. Se há jogo que podemos ingorar a história é este. Começar um novo jogo irá colocar o jogador diretamente no combate e esta abordagem bastante direta e focada no combate mantém-se todo o jogo.

Não há nada que possamos chamar de inovador em Carnal, mas isso não é propriamente mau, há algo de refrescante em experiências como Carnal porque simplesmente aparecem pouco. Um aspecto interessante deste jogo é que a maioria das armas são hit-scan, o que significa que elas infligem dano ao inimigo assim que carregamos no botão de disparo. Todas as armas inimigas disparam projéteis que se movem lentamente, e dos quais nos podemos tentar esquivar. Quem estiver habituado a jogos deste género não irá encontrar nada de muito diferente aqui e mesmo a dificuldade normal é bastante acessível, no entanto as dificuldades mais altas tornam o jogo incrivelmente desafiador.

Com o quão agressiva e previsível a IA é, é fácil abusar do facto de a nossa arma ser hit-scan para eliminá-los com segurança a quilômetros de distância. Até a sua espingarda mais simples funciona como uma sniper de precisão, pois não há qualquer perda com distância, ao contrário dos ataques do inimigo. Os mapas do jogo usam e abusam de grandes áreas abertas e isso acaba por afetar negativamente a jogabilidade em muitas ocasiões. A nossa personagem também se move demasiado lentamente para o tipo de jogabilidade que o jogo pede. Conseguimos evitar os projéteis com facilidade, mas atravessar os mapas grandes acaba por se tornar aborrecido, especialmente porque não há sequer um botão de sprint.

O design dos níveis é decente, nunca atingindo grandes patamares de excelência. Talvez seja uma boa altura para referir que Carnal é um jogo que custa apenas 1 euro e isso começa a notar-se em alguns aspetos. O design do nível é um dos locais onde notamos alguns cortes de custos, mas as armas serem hit-scan por exemplo é algo que quando pensamos realmente também deve ter sido um compromisso já que é mais fácil e rápido de desenvolver. Existem pequenos detalhes aqui e ali e nota-se a atenção dos criadores do jogo. É essencialmente em aspetos mais técnicos ou muito dispendiosas onde notamos os compromissos. É um jogo que custa apenas 1 euro, por isso não podemos pedir muito mais pois não?

Onde Carnal realmente brilha é em momentos chave. Se os níveis no geral são bastante banais, existem alguns cenários dentro de cada nível que nos ficam marcados na memória. Num mundo onde temos tantos developers focados em fazer o jogo mais bonito em termos de design ou mais próximo da realidade, é bom ver um developer a procurar uma direção que se parece tanto com o jogámos no final dos anos 90. O problema de criar todos estes cenários memoráveis é que os níveis não parecem conectados entre si. Se não fosse o aspeto geral do jogo, não havia muito a ligar toda a esperiência, algo que a quase total ausência de história não ajuda. Carnal não se limita a parecer um jogo dos anos 90, existem coisas que nos colocam realmente nessa época, como a total ausência de pontos de gravação. Nada continua de um nível para o seguinte e os níveis estão todos disponíveis desde o início. Isto tudo aumenta ainda mais a sensação de que são 17 niveis independentes entre si.

Para um jogo com um preço tão baixo, Carnal é surpreendente em alguns aspetos. Há uma grande variedade de inimigos por exemplo e em termos de armamento também não é muito mau. Como referi acima, nem tudo é bom e nem tudo funciona. Existe um inimigo voador que é simplesmente injusto por exemplo. O jogo é bastante estável, mas conta com ocasionais bugs que mesmo não arruinando a experiência, não deixam de ser um problema. Mas Carnal é um jogo bastante divertido, mostra a capacidade do seu criador e uma paixão nostálgica por uma época dos videojogos que todos parecem lembrar com saudade, mas que tem sido fonte de inspiração para muito poucos jogos, principalmente se compararmos com a era das 16bit da SNES por exemplo.

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